sábado, 29 de abril de 2023

Os Apóstolos João Rodrigues

 OS APÓSTOLOS

 

JOÃO RODRIGUES

 

            Marquinho dormia em sua casa e de repente sonhou:

            - Não sei o que é aquilo!...

            No sonho, Marquinho estava com a professora Eme no alto de uma colina , e um homem  muito velho lhes disse:

            - Vocês são muito jovens, com o são jovens...

            De modo que o velho despertava curiosidade em marquinho.

            - Mas quem é o senhor?

            - Eu sou um velho filósofo, que gosta de meditar nos montes.

            - Filósofo, o que é isso professora?

            - É a pessoa que pensa profundamente na vida, nas coisas...

            - Ah sei! Por isso é que vivem nos montes.

            - Não só por isso Marquinho, mas por muitas razões.

- Eu particularmente sou um religioso.

            - E qual o seu nome?

            - Ah! Meu nome, isso não importa, depois você saberá. Venha que eu vou mostrar a vocês...

            O velho misterioso conduziu Marquinho e a professora Eme para uma caverna na encosta do monte.

            - Mas o senhor está nos levando para dentro de uma gruta! - exclamou Marquinho assustado.

            - Não tenha medo filho, nós vamos visitar o meu templo.

            - Templo? O senhor tem templo?

            - Sim, levei muitos anos para conseguir armazenar o que vou lhes mostrar...

            E ao entrarem no templo, o velho falou:

            - Para vocês não se confundirem em que eu vou dizer primeiro gostaria de lembrar-lhes sobre a criação do mundo.

            - Criação do mundo?

            - Sim Marquinho.

            - E quem criou o mundo?

            - Foi Deus. No início ele criou o mundo e tudo que nele há.

            - E depois, prá onde ele foi?

            - Tudo era sem forma, e o seu espírito pairava sobre os abismos.

            - Sei, e daí?

            - Deus criou o firmamento, as estrelas, a lua, o sol, os peixes, a relva, os animais, e...

            - Então quer dizer que nós somos criaturas de Deus?

            - Sim, primeiro Deus fez Adão, o primeiro homem.

            - Ele fez Adão do quê?

            - Do pó da terra.

            - Só mesmo Deus pra fazer isso.

            - Sim filho, só Deus - argumentou a professora.

- Mas como ia dizendo, depois Deus criou Eva, a primeira mulher.

            - Mas criou do que, mestre?

            - Mestre! Eu não sou mestre filho, sou um filósofo.

            - Está bem seu filósofo, do que ele fez Eva?

            - De uma costela de Adão.

            - Então nós homens somos de barro, e as mulheres de nossas costelas?

            - Não Marquinho, depois que Adão e Eva comeram do fruto da árvore proibida, Deus os expulsou do jardim onde viviam.

            - Ah sei, assim eles...

            - Assim mesmo Marquinho, eles se reproduziam e tiveram filhas e filhos - explicou a professora Eme.

            - Sei, e depois o que aconteceu filósofo?        

- O gênero humano se multiplicou e os homens se transformaram em marginais, corruptos...

            - E o que aconteceu?

            - Deus mandou o dilúvio na terra.

            - Um dilúvio. O que é dilúvio professora?

            - Uma inundação universal.

            - Ah! Então o mundo inteiro ficou debaixo d'água?

            - Isso mesmo filho, porém, Deus mandou Noé construir uma arca e dentro dela entrou com seus filhos, as mulheres de seus filhos e um casal de cada ser vivente...

            - Ficaram dentro da arca até que as águas baixaram?

            - Sim Marquinho, como você é inteligente.

            - Que nada seu filósofo, isso é bondade sua.

            - Preste atenção Marquinho - relatou a professora.

            - Obrigado professora, a senhora é muito simpática.

            - De nada senhor.

            - E depois que as águas baixaram o que aconteceu?

            - O gênero humano se multiplicou e se encheu de pecado.

            - Como pecado? - perguntou Marquinho curioso.

            - Pecado é desrespeitar os ensinamentos religiosos.

            - Ah sei, e daí?

            - Deus resolveu mandar o seu próprio filho para remissão dos pecados.

            - E ele veio?

            - Sim, nasceu de uma virgem.

            - A virgem Maria?

            - Isso mesmo Marquinho - interrompeu a professora.

            - E depois seu filósofo?

            - Sim Marquinho, o filho de Deus nasceu em Belém, e recebeu o nome de Jesus Cristo.

            Falou o misterioso filósofo andando para dentro da gruta, dizendo:

            - Venha Marquinho, aqui está a imagem Dele.

            - Nossa! Ele está com marcas de sangue!..

            - Sim Marquinho, ele foi morto em uma cruz...

            - Quem fez isso com ele?

            - O povo o condenou.

            - Coitado! Ele morreu?

            - Morreu Marquinho, mas ressuscitou.

            - Ele viveu de novo?

            - Sim. Subiu aos céus, foi para o pai.

            - Ah! Ele está perto de Deus?

            - Sim, mas nos deixou os seus ensinamentos, para que um dia iremos também...

            - E quem ficou para ensinar a gente?

            - Os seus discípulos, chamados de apóstolos.

            Enquanto o misterioso filósofo seguia gruta adentro, dizia:

            - Aí está Pedro, seu nome era Simão, mas Jesus lhe deu o nome de Pedro. Foi ele que seguia Jesus andando       sobre as águas e que lutou contra a prisão de Jesus no Jardim das Oliveiras.

            - Ele tem um olhar triste - argumentou Marquinho.

            - Sim Marquinho, ele negou que conhecia Jesus.

            - E o que aconteceu com ele?

            - Depois da ressurreição, ele pregou o evangelho e auxiliou a escrever sobre a vida de Jesus e finalmente foi crucificado de cabeça para baixo.

            - Coitado!

            - Vamos Marquinho - chamou a professora.

            - Aqui está André, Marquinho, irmão de Pedro.

            - Um apóstolo também?

            - Sim Marquinho, ele foi morto numa cruz em forma de x, quando pregava o evangelho.

            - Por que matavam eles assim seu filósofo?

            - Só pode ser coisa do mal Marquinho, poucos gostam de fazer o bem, e os ensinamentos de Jesus eram só de amor, paz, igualdade, etc.

            - Compreendo senhor - argumentou Marquinho olhando para o filósofo que parecia querer chorar.

            - Vejo que o senhor está triste!

            - E quem não fica Marquinho, vendo o fim trágico daqueles que queriam o bem.

            - É, é mesmo muito triste.

            - Marquinho, olhe aqui!

            Marquinho foi atender o chamado do filósofo e surpreso, disse:

            - Quem ele é?

            - Filipe, foi mais um apóstolo.

            - Esse não tem a expressão de muita tristeza...

            - Vamos Marquinho - chamou a professora acompanhando o filósofo.

            - Mestre, ou melhor, seu filósofo, eu já posso saber o seu nome?

            - Ainda não Marquinho, agora estamos conhecendo os apóstolos.

            - E são muitos?

            - Sim. Aí está Mateus. São Mateus foi ele que reuniu muita matéria sobre Jesus.

            - E o que aconteceu com ele?

            - Dizem que ele foi pregar os ensinamentos de Jesus, e morreu como mártir.

            - Mas será que ele não merecia um fim melhor?

            - Não sei Marquinho, só sei que foi o que aconteceu.

            - E este quem é?

            - Tadeu, Marquinho, o apóstolo Tadeu.

            - Sabe alguma coisa sobre ele?

            - É provável que tenha sido morto...

            - Meu Deus, quanta violência - argumentou Marquinho andando.

            - Este é João, Marquinho.

            - João, o apostolo João?

            - Sim Marquinho.

            - Ele também foi morto?

            - Como todos.

            - Nossa que violência! - exclamou Marquinho pegando na mão da professora.

            - Não tenha medo Marquinho, não vai lhe acontecer nada de mal.

            - Eu é que não sei seu filósofo.

            - Não vai não Marquinho - argumentou a professora acalmando o seu aluno.

            - Vamos Marquinho, conhecer os demais...

            - Eu estou quase dispensando estes conhecimentos seu filósofo, pois prá mim já chega de tanta violência.

            - Vamos Marquinho, o homem tem que ser corajoso.

- Está bem, então vamos.

            E em outro salão da gruta...

            - Veja Marquinho, este é Tiago.

            - Já sei, e provavelmente morreu também nas...

            - Isso Marquinho, vamos...

            E logo depois...

            - Quem é este?

            - Tomé, foi ele que não acreditou que Jesus tinha ressuscitado.

            - E depois? - indagou Marquinho.

            - Jesus veio novamente ao encontro dos apóstolos e disse:

            - Venha Tomé, toque em Mim, para...

            - E ele foi?

            - Sim Marquinho, foi e O tocou, e só assim acreditou que era Jesus.

            -Bem feito, quem mandou ser burro.

            - Marquinho, olha o respeito - repreendeu a professora.

            - Você é um garoto e tanto Marquinho! -  exclamou o filósofo passando a mão na cabeça  de Marquinho.

            - Vamos conhecer os demais, seu filósofo?

            - Vamos Marquinho.

            - La ra la uuu...

            - Marquinho, não pode fazer barulho dentro dos templos.

            - Por que professora?

            - São lugares de respeito - respeito aos apóstolos e...

            - Está bem professora - argumentou Marquinho dizendo:

            - Sabe mestre, já que não quer dizer o seu nome é porque você...

            - Sim Marquinho, eu posso ser quem você está pensando, mas na hora certa você saberá.

            - Já que é assim seu filósofo, está tudo bem. E quem é este?

            - Ele é Bartolomeu, mais um dos apóstolos.

            - Sabe alguma coisa referente a ele que não seja morte?

            - Marquinho, você está muito crítico.

            - Não professora, eu estou muito realista, isso sim.

            - O deixe professora, criança é assim mesmo.

            - Seu filósofo, porque os grandes tratam criança com indiferença?

            - Talvez pelo fato de não souber o quanto é sabia a criança Marquinho.

            - Concordo com o senhor, vou lhe chamar de mestre.

            - Você é quem manda Marquinho.

            - Gostei de falar com o senhor mestre, você sabe responder a gente com educação, existem...

            - Marquinho, você vai ver...

            - Já sei o que a senhora quer falar professora.

            - Professora, é muito difícil o serviço da senhora...

            - Não mestre, eu acho que todos os serviços têm as suas vantagens e desvantagens.

            - O que eu acho mestre, é que muitas professoras quer ocupar o lugar que não sei qual, de querer mandar nos alunos de certas...

            - Entendo Marquinho, mas não deve ser todas.

            - Sim, é como eu disse certas professoras...

            - E tem certos alunos que...

            - Sei professora, que não gostam de obedecer as suas professoras.

            - Vamos continuar gente, está ficando tarde.

            - Sim mestre, vamos - argumentou Marquinho andando ao lado do filósofo.

            - Veja Marquinho, este é Simão, mais um dos apóstolos.

            - Ele tem uma expressão triste mestre.

            - Você achou Marquinho?

            - Sim, meio cabisbaixo.

            - Deve ter sofrido - argumentou a professora.

            - A senhora dando uma de criança professora?

            - Por que de criança, Marquinho?

            - Deixe pra lá.

            - Sim, é melhor mesmo - argumentou o filósofo.

            - Mestre, como será que sentiam os apóstolos?

            - Em que sentido Marquinho?

            - Ah! Sei lá, do jeito que o senhor falou eles eram discípulos de Jesus, filho de Deus, eles deveriam se sentir muito orgulhosos de ter andado com o filho de Deus.

            - Certo Marquinho, não seria para menos; tanto é que depois que Jesus Cristo foi crucificado, eles se predispuseram a pregaram os seus ensinamentos, mesmo sendo perseguidos.

            - Jesus Cristo Mestre, você não tinha falado em Cristo.

            - Sim, foi o apostolo Pedro que o chamou de Cristo Jesus.

            - Então ficou com o nome de Jesus Cristo.

            - Certo Marquinho - acrescentou a professora.           

            - A senhora já sabia disso professora?

            - Já Marquinho, há muito tempo.

            - E porque não havia me falado?

            - Não temos aula de religião.

            - Por que não temos aula de religião?

            - Na minha escola é livre a religião.

            - Livre como?

            - Eu explico a ele professora - interrompeu o filósofo.

- Pode falar Mestre.

- Sabe Marquinho, é que depois da vinda de Jesus Cristo, e mesmo antes, houve pessoas que seguiam outros deuses; assim houve muita guerra onde uma nação lutava contra a outra por causa dos seus deuses e suas religiões.

            - Ah, entendo! Então cada um pode ter a sua fé.

            - Sim, porém só os ensinamentos de Jesus Cristo é que estão certos.

            - Mas com que base o senhor diz isso?

            - Foi Ele quem deu a vida para nos salvar.

            - Ele morreu por nós?

            - Isso mesmo, como eu disse antes, Ele foi crucificado, morto e sepultado.

            - E finalmente ressuscitou?

            - Ao terceiro dia - argumentou a professora.

            - Ótimo Mestre, foi muito bom saber disso.

            - Veja Marquinho, aí está Tiago.

            - Novamente!

            - Não Marquinho, este é outro apóstolo com o mesmo nome, ele é menor.

            - Compreendo, é outro Tiago, outro apóstolo.

            - Certo filho - argumentou o velho seguindo para o final da gruta e subindo uma rampa.

            - Pra onde está indo Mestre?

            - Venha conhecer o último apóstolo.

            - Último apóstolo, qual?

            - Judas, foi ele quem traiu Jesus.

            - Como ele O traiu mestre?

            - Entregando-O aos sacerdotes o local onde encontrar Jesus, e recebeu pela traição 30 moedas de prata.

            - Cara louco Mestre. E o que lhe aconteceu?

            - Ah! Depois que Jesus foi preso e condenado, ele se arrependeu, devolveu o dinheiro. A palavra diz que ele tentou se enforcar, e o galho da árvore não agüentaram o seu peso e quebrou e ele caiu no abismo.

            - Mestre, o que está sentindo?

            - Estou um pouco cansado Marquinho, mas não tem nenhuma importância, foram só esses os apóstolos de Jesus Cristo.

            - Mas eu gostaria de falar um pouco mais com você Mestre.

            - Eu tenho que ir Marquinho, já cumpri minha missão.

            Marquinho meio triste seguiu atrás do filósofo rampa a cima e quando saiu da gruta não o viu mais...

            - Professora, como é ruim sair de dentro da gruta, a gente não vê nada aqui fora.

            - Dentro de instantes você voltará a enxergar Marquinho.

            - Eu não vejo o Mestre.

            - Eu também não. Ele deve ter ido embora.

            - Quem será ele professora?

            - Não sei Marquinho. Dever ser apenas um filósofo.

            - Mas ele não me disse o nome dele.

            - Não fique triste Marquinho...

            E assim Marquinho acordou abraçado com o seu travesseiro...

            - Qual será o nome do mestre...

 

Fim.

 

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