OS APÓSTOLOS
JOÃO RODRIGUES
Marquinho dormia em sua casa e de repente sonhou:
- Não sei o que é aquilo!...
No sonho, Marquinho estava com a professora Eme no alto de uma colina , e um homem muito velho lhes disse:
- Vocês são muito jovens, com o são jovens...
De modo que o velho despertava curiosidade em marquinho.
- Mas quem é o senhor?
- Eu sou um velho filósofo, que gosta de meditar nos montes.
- Filósofo, o que é isso professora?
- É a pessoa que pensa profundamente na vida, nas coisas...
- Ah sei! Por isso é que vivem nos montes.
- Não só por isso Marquinho, mas por muitas razões.
- Eu particularmente sou um religioso.
- E qual o seu nome?
- Ah! Meu nome, isso não importa, depois você saberá. Venha que eu vou mostrar a vocês...
O velho misterioso conduziu Marquinho e a professora Eme para uma caverna na encosta do monte.
- Mas o senhor está nos levando para dentro de uma gruta! - exclamou Marquinho assustado.
- Não tenha medo filho, nós vamos visitar o meu templo.
- Templo? O senhor tem templo?
- Sim, levei muitos anos para conseguir armazenar o que vou lhes mostrar...
E ao entrarem no templo, o velho falou:
- Para vocês não se confundirem em que eu vou dizer primeiro gostaria de lembrar-lhes sobre a criação do mundo.
- Criação do mundo?
- Sim Marquinho.
- E quem criou o mundo?
- Foi Deus. No início ele criou o mundo e tudo que nele há.
- E depois, prá onde ele foi?
- Tudo era sem forma, e o seu espírito pairava sobre os abismos.
- Sei, e daí?
- Deus criou o firmamento, as estrelas, a lua, o sol, os peixes, a relva, os animais, e...
- Então quer dizer que nós somos criaturas de Deus?
- Sim, primeiro Deus fez Adão, o primeiro homem.
- Ele fez Adão do quê?
- Do pó da terra.
- Só mesmo Deus pra fazer isso.
- Sim filho, só Deus - argumentou a professora.
- Mas como ia dizendo, depois Deus criou Eva, a primeira mulher.
- Mas criou do que, mestre?
- Mestre! Eu não sou mestre filho, sou um filósofo.
- Está bem seu filósofo, do que ele fez Eva?
- De uma costela de Adão.
- Então nós homens somos de barro, e as mulheres de nossas costelas?
- Não Marquinho, depois que Adão e Eva comeram do fruto da árvore proibida, Deus os expulsou do jardim onde viviam.
- Ah sei, assim eles...
- Assim mesmo Marquinho, eles se reproduziam e tiveram filhas e filhos - explicou a professora Eme.
- Sei, e depois o que aconteceu filósofo?
- O gênero humano se multiplicou e os homens se transformaram em marginais, corruptos...
- E o que aconteceu?
- Deus mandou o dilúvio na terra.
- Um dilúvio. O que é dilúvio professora?
- Uma inundação universal.
- Ah! Então o mundo inteiro ficou debaixo d'água?
- Isso mesmo filho, porém, Deus mandou Noé construir uma arca e dentro dela entrou com seus filhos, as mulheres de seus filhos e um casal de cada ser vivente...
- Ficaram dentro da arca até que as águas baixaram?
- Sim Marquinho, como você é inteligente.
- Que nada seu filósofo, isso é bondade sua.
- Preste atenção Marquinho - relatou a professora.
- Obrigado professora, a senhora é muito simpática.
- De nada senhor.
- E depois que as águas baixaram o que aconteceu?
- O gênero humano se multiplicou e se encheu de pecado.
- Como pecado? - perguntou Marquinho curioso.
- Pecado é desrespeitar os ensinamentos religiosos.
- Ah sei, e daí?
- Deus resolveu mandar o seu próprio filho para remissão dos pecados.
- E ele veio?
- Sim, nasceu de uma virgem.
- A virgem Maria?
- Isso mesmo Marquinho - interrompeu a professora.
- E depois seu filósofo?
- Sim Marquinho, o filho de Deus nasceu em Belém, e recebeu o nome de Jesus Cristo.
Falou o misterioso filósofo andando para dentro da gruta, dizendo:
- Venha Marquinho, aqui está a imagem Dele.
- Nossa! Ele está com marcas de sangue!..
- Sim Marquinho, ele foi morto em uma cruz...
- Quem fez isso com ele?
- O povo o condenou.
- Coitado! Ele morreu?
- Morreu Marquinho, mas ressuscitou.
- Ele viveu de novo?
- Sim. Subiu aos céus, foi para o pai.
- Ah! Ele está perto de Deus?
- Sim, mas nos deixou os seus ensinamentos, para que um dia iremos também...
- E quem ficou para ensinar a gente?
- Os seus discípulos, chamados de apóstolos.
Enquanto o misterioso filósofo seguia gruta adentro, dizia:
- Aí está Pedro, seu nome era Simão, mas Jesus lhe deu o nome de Pedro. Foi ele que seguia Jesus andando sobre as águas e que lutou contra a prisão de Jesus no Jardim das Oliveiras.
- Ele tem um olhar triste - argumentou Marquinho.
- Sim Marquinho, ele negou que conhecia Jesus.
- E o que aconteceu com ele?
- Depois da ressurreição, ele pregou o evangelho e auxiliou a escrever sobre a vida de Jesus e finalmente foi crucificado de cabeça para baixo.
- Coitado!
- Vamos Marquinho - chamou a professora.
- Aqui está André, Marquinho, irmão de Pedro.
- Um apóstolo também?
- Sim Marquinho, ele foi morto numa cruz em forma de x, quando pregava o evangelho.
- Por que matavam eles assim seu filósofo?
- Só pode ser coisa do mal Marquinho, poucos gostam de fazer o bem, e os ensinamentos de Jesus eram só de amor, paz, igualdade, etc.
- Compreendo senhor - argumentou Marquinho olhando para o filósofo que parecia querer chorar.
- Vejo que o senhor está triste!
- E quem não fica Marquinho, vendo o fim trágico daqueles que queriam o bem.
- É, é mesmo muito triste.
- Marquinho, olhe aqui!
Marquinho foi atender o chamado do filósofo e surpreso, disse:
- Quem ele é?
- Filipe, foi mais um apóstolo.
- Esse não tem a expressão de muita tristeza...
- Vamos Marquinho - chamou a professora acompanhando o filósofo.
- Mestre, ou melhor, seu filósofo, eu já posso saber o seu nome?
- Ainda não Marquinho, agora estamos conhecendo os apóstolos.
- E são muitos?
- Sim. Aí está Mateus. São Mateus foi ele que reuniu muita matéria sobre Jesus.
- E o que aconteceu com ele?
- Dizem que ele foi pregar os ensinamentos de Jesus, e morreu como mártir.
- Mas será que ele não merecia um fim melhor?
- Não sei Marquinho, só sei que foi o que aconteceu.
- E este quem é?
- Tadeu, Marquinho, o apóstolo Tadeu.
- Sabe alguma coisa sobre ele?
- É provável que tenha sido morto...
- Meu Deus, quanta violência - argumentou Marquinho andando.
- Este é João, Marquinho.
- João, o apostolo João?
- Sim Marquinho.
- Ele também foi morto?
- Como todos.
- Nossa que violência! - exclamou Marquinho pegando na mão da professora.
- Não tenha medo Marquinho, não vai lhe acontecer nada de mal.
- Eu é que não sei seu filósofo.
- Não vai não Marquinho - argumentou a professora acalmando o seu aluno.
- Vamos Marquinho, conhecer os demais...
- Eu estou quase dispensando estes conhecimentos seu filósofo, pois prá mim já chega de tanta violência.
- Vamos Marquinho, o homem tem que ser corajoso.
- Está bem, então vamos.
E em outro salão da gruta...
- Veja Marquinho, este é Tiago.
- Já sei, e provavelmente morreu também nas...
- Isso Marquinho, vamos...
E logo depois...
- Quem é este?
- Tomé, foi ele que não acreditou que Jesus tinha ressuscitado.
- E depois? - indagou Marquinho.
- Jesus veio novamente ao encontro dos apóstolos e disse:
- Venha Tomé, toque em Mim, para...
- E ele foi?
- Sim Marquinho, foi e O tocou, e só assim acreditou que era Jesus.
-Bem feito, quem mandou ser burro.
- Marquinho, olha o respeito - repreendeu a professora.
- Você é um garoto e tanto Marquinho! - exclamou o filósofo passando a mão na cabeça de Marquinho.
- Vamos conhecer os demais, seu filósofo?
- Vamos Marquinho.
- La ra la uuu...
- Marquinho, não pode fazer barulho dentro dos templos.
- Por que professora?
- São lugares de respeito - respeito aos apóstolos e...
- Está bem professora - argumentou Marquinho dizendo:
- Sabe mestre, já que não quer dizer o seu nome é porque você...
- Sim Marquinho, eu posso ser quem você está pensando, mas na hora certa você saberá.
- Já que é assim seu filósofo, está tudo bem. E quem é este?
- Ele é Bartolomeu, mais um dos apóstolos.
- Sabe alguma coisa referente a ele que não seja morte?
- Marquinho, você está muito crítico.
- Não professora, eu estou muito realista, isso sim.
- O deixe professora, criança é assim mesmo.
- Seu filósofo, porque os grandes tratam criança com indiferença?
- Talvez pelo fato de não souber o quanto é sabia a criança Marquinho.
- Concordo com o senhor, vou lhe chamar de mestre.
- Você é quem manda Marquinho.
- Gostei de falar com o senhor mestre, você sabe responder a gente com educação, existem...
- Marquinho, você vai ver...
- Já sei o que a senhora quer falar professora.
- Professora, é muito difícil o serviço da senhora...
- Não mestre, eu acho que todos os serviços têm as suas vantagens e desvantagens.
- O que eu acho mestre, é que muitas professoras quer ocupar o lugar que não sei qual, de querer mandar nos alunos de certas...
- Entendo Marquinho, mas não deve ser todas.
- Sim, é como eu disse certas professoras...
- E tem certos alunos que...
- Sei professora, que não gostam de obedecer as suas professoras.
- Vamos continuar gente, está ficando tarde.
- Sim mestre, vamos - argumentou Marquinho andando ao lado do filósofo.
- Veja Marquinho, este é Simão, mais um dos apóstolos.
- Ele tem uma expressão triste mestre.
- Você achou Marquinho?
- Sim, meio cabisbaixo.
- Deve ter sofrido - argumentou a professora.
- A senhora dando uma de criança professora?
- Por que de criança, Marquinho?
- Deixe pra lá.
- Sim, é melhor mesmo - argumentou o filósofo.
- Mestre, como será que sentiam os apóstolos?
- Em que sentido Marquinho?
- Ah! Sei lá, do jeito que o senhor falou eles eram discípulos de Jesus, filho de Deus, eles deveriam se sentir muito orgulhosos de ter andado com o filho de Deus.
- Certo Marquinho, não seria para menos; tanto é que depois que Jesus Cristo foi crucificado, eles se predispuseram a pregaram os seus ensinamentos, mesmo sendo perseguidos.
- Jesus Cristo Mestre, você não tinha falado em Cristo.
- Sim, foi o apostolo Pedro que o chamou de Cristo Jesus.
- Então ficou com o nome de Jesus Cristo.
- Certo Marquinho - acrescentou a professora.
- A senhora já sabia disso professora?
- Já Marquinho, há muito tempo.
- E porque não havia me falado?
- Não temos aula de religião.
- Por que não temos aula de religião?
- Na minha escola é livre a religião.
- Livre como?
- Eu explico a ele professora - interrompeu o filósofo.
- Pode falar Mestre.
- Sabe Marquinho, é que depois da vinda de Jesus Cristo, e mesmo antes, houve pessoas que seguiam outros deuses; assim houve muita guerra onde uma nação lutava contra a outra por causa dos seus deuses e suas religiões.
- Ah, entendo! Então cada um pode ter a sua fé.
- Sim, porém só os ensinamentos de Jesus Cristo é que estão certos.
- Mas com que base o senhor diz isso?
- Foi Ele quem deu a vida para nos salvar.
- Ele morreu por nós?
- Isso mesmo, como eu disse antes, Ele foi crucificado, morto e sepultado.
- E finalmente ressuscitou?
- Ao terceiro dia - argumentou a professora.
- Ótimo Mestre, foi muito bom saber disso.
- Veja Marquinho, aí está Tiago.
- Novamente!
- Não Marquinho, este é outro apóstolo com o mesmo nome, ele é menor.
- Compreendo, é outro Tiago, outro apóstolo.
- Certo filho - argumentou o velho seguindo para o final da gruta e subindo uma rampa.
- Pra onde está indo Mestre?
- Venha conhecer o último apóstolo.
- Último apóstolo, qual?
- Judas, foi ele quem traiu Jesus.
- Como ele O traiu mestre?
- Entregando-O aos sacerdotes o local onde encontrar Jesus, e recebeu pela traição 30 moedas de prata.
- Cara louco Mestre. E o que lhe aconteceu?
- Ah! Depois que Jesus foi preso e condenado, ele se arrependeu, devolveu o dinheiro. A palavra diz que ele tentou se enforcar, e o galho da árvore não agüentaram o seu peso e quebrou e ele caiu no abismo.
- Mestre, o que está sentindo?
- Estou um pouco cansado Marquinho, mas não tem nenhuma importância, foram só esses os apóstolos de Jesus Cristo.
- Mas eu gostaria de falar um pouco mais com você Mestre.
- Eu tenho que ir Marquinho, já cumpri minha missão.
Marquinho meio triste seguiu atrás do filósofo rampa a cima e quando saiu da gruta não o viu mais...
- Professora, como é ruim sair de dentro da gruta, a gente não vê nada aqui fora.
- Dentro de instantes você voltará a enxergar Marquinho.
- Eu não vejo o Mestre.
- Eu também não. Ele deve ter ido embora.
- Quem será ele professora?
- Não sei Marquinho. Dever ser apenas um filósofo.
- Mas ele não me disse o nome dele.
- Não fique triste Marquinho...
E assim Marquinho acordou abraçado com o seu travesseiro...
- Qual será o nome do mestre...
Fim.
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