sábado, 29 de abril de 2023

O Punho Assassino João Rodrigues

 O PUNHO ASSASSINO

 

JOÃO RODRIGUES

 

             - Venha ver o seu filho senhor!

            - Obrigado enfermeira - argumentou o homem que se vestia de camisa xadrez com cores azul e amarelo.

            - É por aqui...

            Logo chegaram à enfermaria e por detrás do vidro outra enfermeira segurava uma pequena criança que mal podia ver o rosto, parecendo um pedaço de carne sem proteção.

            - Então é este o meu filho? - Indagou o homem demonstrando um pouco de tristeza.

             - Sim, ele é o Martin.

            - Por que Martin?

            - Foi o nome que a mãe dele pediu ao morrer.

            - Morrer? A senhora quer dizer que minha mulher morreu?

            - Para salvar a vida do bebê.

            - Antes fosse ele do que ela, com quem vou me distrair? Quem vai passear comigo pelo jardim? Quem vai andar comigo? Conversar comigo? Esta coisa feia que ela deixou! Não, isto não me interessa. Quem vai educá-lo? Uma mãe que não deu a luz a ele? Não, ele vai  ser uma coisa sem vida quanto a mim. Não quero nem saber dele. Ou ela e ele ou nenhum dos dois, ou só ela, pois ele sem ela não me interessa!

            - Mas é o seu filho - argumentou a enfermeira.

            - Não. Não me interessa, eu não disse - argumentou o homem violentando a enfermeira e com as suas mãos de aço em poucos instantes estrangulou a pobre mulher. A sua colega por detrás do vidro ficou pasmada com o menino nas mãos, e sem saber o que fazer enquanto assistia o terrível ato.

            - Eu quero a minha mulher, eu quero a minha mulher - gritava o homem aflito olhando desesperado o corpo da enfermeira no chão.

            Em poucos minutos muitos médicos agarraram o homem e um deles aplicou-lhe um calmante, de modo que logo o Julião estava dormindo, nem mesmo sabia o que tinha acontecido de verdade com a sua esposa enquanto dormia.

            - Enfermeira? Eu quero a minha mulher - gritou Julião acordando.

            - Senhor, ela já não existe.

            Ao ouvir a enfermeira o homem furioso resolveu se levantar, mas não conseguiu, pois as suas pernas estavam paralisadas.

            - Não! Mate-me, por favor, mate-me.

            Ao notar que o homem estava paralítico a enfermeira foi avisar o médico.

            - Doutor Lúcio, o homem ficou paralítico

            - O Julião?

            - Isso mesmo, está lá no apartamento totalmente paralisado sobre a cama.

            - Mande o doutor Artur vir aqui.

            Enquanto a enfermeira foi avisar o doutor Artur, o doutor Lúcio pensava em uma solução, pois já sabia que o caso do Julião era irreversível.

            Pois não doutor.

            - Sente ai Artur, desta vez estamos encrencados.      

            - Já mandei levantar a ficha dos dois doutores, ele não tem referências e a mulher só tinha a mãe que já faleceu, eles são absolutamente sós.

            - E os bens?

            - Não tem nada, a casa onde moram é alugada.

            - Já que é assim, dê um jeito nele enquanto cedo.

            - Mas e os comuns?

            - Faça bem feito rapaz, leve o homem pra mesa de operação.

            - Está bem doutor, eu farei.

            A enfermeira que segurava o menino estava ouvindo a conversa atrás da porta, de modo que foi até a enfermaria e escondeu o menino, e logo que terminou o seu horário de trabalho ela o levou pra sua casa, e com medo de alguma represália o presenteou a um casal de velhos dizendo que o tinha ganhado de uma mulher de rua, e novamente de volta ao hospital o doutor Artur lhe ordenou:

            - Ilza, vá ao apartamento preparar o Júlião para a operação.

            - Posso levar Antônia comigo?

            - Sim, vão as duas, é melhor mesmo.

            E quando as duas enfermeiras entraram no apartamento, o homem ficou quieto na cama como se estivesse tudo bem, mas quando Ilza encostou-se ao leito de Julião ele avançou no pescoço dela dizendo:

            - Onde está meu filho que chora por mim, heim sua desgraçada, onde?

            Sem poder falar com os punhos fortes na garganta e que logo estava estrangulada Ilza, morreu sem dizer a rua, a pobre Antônia correu pedindo socorro ao doutor Artur que quando entrou no apartamento o homem estava atrás da porta e a fechou com tanta rapidez e foi assim que acabou batendo na testa de Antônia que caiu no chão sem vida, de modo que Julião agarrou nas pernas do doutor Artur dizendo aflito:

            - Foi você que aplicou a injeção da morte em minha mulher seu assassino? Aplique-a em mim também, agora você vai morrer, você vai morrer...

            Os dois rolaram pelo chão, mas o médico conseguiu tingi-lo no peito com uma caneta e Julião acabou morrendo.

            - Doutor Lúcio, o homem morreu, mas conseguiu matar as duas enfermeiras.

            - Antes assim pra que alas não ficassem vivas pra não contar nada a ninguém.

            - E o menino?

            Fica pra nossos estudos.

             - E quanto as enfermeiras?

            - Pra todos efeitos foi acidente de trabalho.

            - Mas como?

            - Prepare um cenário e provoque uma explosão, depois chamamos a imprensa pra divulgar o caso.

            - Só com as duas enfermeiras ou deixa o homem no meio?

             - Você está louco rapaz. Só das duas.

            - E o que devo fazer com o corpo do homem?

            - Faça a mesma coisa que foi feita com o corpo da mulher.

            - Mas neste instante vai ser impossível.

            - Leve para o laboratório secreto.

            - Sim senhor.

            O doutor Artur foi cumprir a ordem do mestre e quando passava pelo corredor do hospital uma enfermeira perguntou:

            - Doutor Artur, algum problema?

            - Não Margaret, por enquanto não.

            Na verdade ninguém tinha percebido que o corpo do homem estava no quarto junto com das duas enfermeiras, no entanto tinha que agir, pois logo a coisa poderia ficar complicada.

            - Tudo por causa deste monstro - argumentava o doutor carregando o corpo do homem para dentro do laboratório onde ninguém tinha acesso ali a não ser os médicos.

            - Agora vou preparar uma armadilha e já que Margaret está curiosa eu vou ter que colocá-la no jogo - murmurava o doutor Artur preparando o acidente.

            Depois de tudo preparado ele então foi até o seu gabinete e mandou chamar a enfermeira Margaret.

            - Mandou me chamar doutor, mas como o senhor está esquisito.

            - Não é nada não Margaret, vá ao apartamento dezoito ajudar as suas colegas a cuidar do homem.

            - O Julião?

            - Sim, vá. Elas estão precisando de ajuda.

              - Eu tenho medo daquele homem.

            - Não tenha medo, ele não faz mal a mais ninguém.

            - Ah! Compreendi.

            E quando a pobre Margaret foi abrir a porta do maldito apartamento, viu o seu corpo se desfazer em pedaços.

            No som incomodador da explosão, o doutor Artur disse:

            - Nossa, acho que exagerei desta vez.

            - Foi um acidente, um grande acidente - saiu gritando de dentro seu gabinete o doutor Lúcio.

            Alguns pacientes que estavam no hospital também foram ver o que tinha acontecido, mas só se viam os destroços sobre os corpos espedaçados das enfermeiras.

            Com a explosão as chamas começaram a ganhar corpo, mas com a chegada dos bombeiros tudo ficou em perfeita situação, apesar de que os corpos das vítimas ficaram carbonizados.

            Logo que a polícia chegou, começou o interrogatório.

            - E então diretor, o que foi que aconteceu?

            - Só depois da perícia que podemos saber o que foi que aconteceu

            - Na casa do casal de velho onde estava o Martin, o vento frio assoprava a janela enquanto o velho assistia à televisão.

             - Cláudia venha ver que horror.

             - Estou preparando o leite pra Júnio.

            - Venha ver mulher, o horror.

            E a velha Cláudia foi ver o que o marido queria, e ao ver os corpos carbonizados que a televisão mostrava, ela disse:

            - Isso acontece neste mundo que está chegando ao fim.

            Mas por outro lado no hospital, depois que a policia se foi desesperado o doutor Artur entrou no gabinete do doutor Lúcio e disse:

            - A coisa está feia, senhor.

            - O que foi Artur?

            - O menino, o menino.

            - Que menino?

            - O menino filho do homem, o Martin.

            -  O que aconteceu ao menino?

            - Sumiu da enfermaria e a enfermeira não sabe o que aconteceu.

            - Manda consumir os registros do menino e da mãe, e também do homem.

            - E o que faço com os corpos das enfermeiras?

            - Chame as suas famílias.

            - Isso não é mais necessário, a própria televisão já informou, logo deverá virar um verdadeiro inferno neste hospital.

            - Não sei por quê!

            - Não sabe doutor! Eles vão querer saber o que aconteceu, a polícia vai investigar tudo.

            - Deixe que a polícia investigue seu idiota.

            O doutor Lúcio começava a ficar com medo de o doutor Artur dar com a língua nos dentes.

            - Artur, porque não tira uns dias de folga!

            - Estou precisando mesmo mestre, eu posso ir?

            - Sim, será melhor, vá descansar um pouco, assim quando voltar já deverá estar tudo mais calmo.

            - Obrigado patrão,muito obrigado.

            O doutor Artur nem mesmo se sentiu na obrigação de se despedir dos colegas de trabalho, entrou eu seu carro e saiu na disparada, parecia sair carregando um grande fardo de preocupação nas costas, pois quando chagou em casa disse:

            - Hortência, arrume as coisas que vamos viajar.

            - Viajar assim de urna hora pra outra?

            - Não está entendendo mulher, precisamos viajar, temos que viajar, eu estou muito cansado.

            - Não estou lhe entendendo, você nunca fez isso, se quiser viajar que viaje sozinho.

            - Não estou em ferias! Podemos viajar juntos.

            - Não doutor Artur, eu tenho nome, caráter, família, eu não posso sair às parpadelas, tudo tem de ser programado.

            - Já que é assim, arrume as minhas malas que vou viajar sozinho.

            - Se viajar sozinho, pode preparar os papeis pra a nossa separação.

            - Separação, você está louca mulher! Eu sou ou não sou o seu marido?

            - Até que o seu comportamento não mude, será deste jeito, se o seu comportando continuar assim, não precisa contar comigo.

            Nessas alturas o doutor Artur resolveu abrir o verbo com a mulher...

            - Sente aqui Hortência, que vou lhe contar o que está acontecendo.

            - Sim, assim está melhor.

            De modo que o doutor Artur contou o caso.

            - E tem alguma pista do menino?

            - Não, ninguém imagina quem roubou a criança.

            - Mas se você viajar vai dar na cara, você será o primeiro suspeito da polícia.

            - Mas o doutor Lúcio mandou consumir os registros.

            - Não adianta consumir os registros, será melhor abrir o bico e conta tudo, pois logo que o casal não voltar em casa os vizinhos na verdade vão denunciar à polícia, de modo que ela ira localizar o paradeiro do casal e ai é que a coisa vai ficar feia.

            - Hortência, você está com um linguajar muito vulgar, como você está vulgar!

            - Vulgar é você com esse patrãozinho idiota, acha que estamos vivendo na idade da pedra?

            - Por que idade da pedra?

            - Pensa que a polícia não irá encontrar indícios pra investigá-los?

            - Sim, é bem provável.

            - Bem provável, eles vão fechar o hospital e caçar as suas licenças e aí você vai ser mecânico, em que situação vamos ficar!

            - Bem, não quero desmerecer os mecânicos, mas seria a última coisa que eu pudesse fazer.

            - Você parece que não pára pra pensar Artur, como foi cair numa arapuca dessas!

            - Não sei... Foi tudo tão de repente que nem sei explicar.

            - Sim, vamos ver como tudo aconteceu.

             - Foi muito simples, primeiro o casal chegou no hospital, a mulher parecia já estar morta, levamo-la pra mesa de operação, mas era tarde demais, conseguimos apenas salvar a criança.

             - Ela morreu?

            - Isso Hortência, já estava praticamente morta.

             - E daí, o que aconteceu?

            - Mandamos chamar o homem pra ver o seu filho, não sei o que a enfermeira falou com ele que com aquele punho assassino estrangulou a pobrezinha, ai foi que juntamos todo mundo nele a lhe aplicamos um anestésico e o colocamos no apartamento.

            - E quanto à enfermeira?

            - Ela e a mulher estão todas no laboratório secreto do hospital.

            - Sim, continue...

            - No dia seguinte o homem amanheceu paralítico, e quando a enfermeira foi ao seu apartamento houve outro desastre.

            - Mas como, que desastre?

            - O punho assassino do homem estrangulou a coitada.

            - Qual delas?

            - A que segurava o menino atrás do visor.

            - E depois Artur?

            - A que tinha percebido que ele estava paralítico veio às pressas me chamar e ao entrar no apartamento o homem maldito bateu à porta com tamanha força que a coitada caiu no chão sem vida.

            - E você, o que fez?

            - Ele agarrou em minhas pernas em poucos segundos já estávamos rolando pelo chão e ainda bem que com a minha caneta consegui matá-lo.

             - Matá-lo, você matou o homem?

             - Sim, em legítima defesa.

            - Legítima defesa, um paralítico, matar um paralítico! E ainda diz que foi legítima defesa! Bem que dizem que médicos neste país sempre foram assassinos. Você é agora um assassino, quer dizer, você já matou vários, mas agora Artur, você está encrencado.

            - Espere Hortência, deixe-me terminar de contar o caso para que você julgue quem tem razão.

            - Sim assassino você é que deveria ser chamado de o Punho Assassino, matar um paralítico com uma simples caneta!

            - Não quer ouvir o resto?

            - Você deveria contar pra polícia agora, isso mesmo, vou chamar o delegado e você conta toda história, quem sabe a sua pena seja menos ou o meu Deus veja que caminho o senhor me colocou. Fora assassino, você é assassino, vai que você está  encrencado.

            - Calma Hortência, se esqueceu que sou um médico?

            - Ah, e que diferença faz?

            - Parece que você está meio abobada, médico neste país não é condenado mulher!

            - Não sei não, e se encontrar alguém que tenha peito?

            - Sim, mas quem vem me prender, sou um médico, e, além disso, meu patrão também é um médico, e faz parte do conselho de segurança do estado, logo tudo isso será resolvido.

            - Ah sei... Nessas alturas ele deve estar providenciando tudo.

            - Isso mesmo mulher, arrume as malas, vamos viajar, para todos os afeitos eu nem estava no hospital nesses dias.

            - Me convenceu. Vou arrumar as malas.

            Enquanto a pobre Hortência se entregava ao poder da capa branca acompanhava os últimos acontecimentos pela televisão.

            - Hortência, a polícia já descobriu que a criança foi roubada no hospital, e também está dizendo que provavelmente a mãe tenha sumido com ele.

            - Ah, deve ter sido a gente do seu chefe.

            - Mas não estou entendendo, ele mandou consumir com os registros.

            - Mas ele deve ter voltado atrás, e encontrou esta maneira mais fácil de solucionar o caso.

            - É, deve ser o melhor mesmo, irmos passear...

            Minutos depois o querido o Doutor Artur e sua esposa entraram em seu carro com destino as suas férias e já na estrada em uma barreira a polícia o parou...

            - Precisamos falar com o senhor!

            - Mas pra que, eu sou um cidadão assim como os outros.

            - Sim, não estou dizendo que não, mas o delegado precisa de algumas coisas.

            - Posso ir no meu carro?

            - Sim, claro, seguimos o senhor.  

            E ao chegarem à delegacia os repórteres logo começaram o interrogatório...

            - O senhor estava fugindo doutor, o senhor está envolvido no caso?

            - Não, eu estou em férias, não tenho nada a declarar.

            - Mas o senhor trabalha no hospital doutor, como fica isso?

            - Não tenho nada a declarar.

            E os meios de comunicação acabaram levando a notícia à casa do casal de velhos que:

            - Cláudia, sabe que estou preocupado com este menino, tudo...

            - Vira essa boca pra lá.

            - Não, eu não estou brincando, vou telefonar pro delegado, quem sabe pode ajudar até resolver o caso.

            - Você é quem sabe Leonel, se quiser ligar, pode ligar.

             - Pena que vamos perder o menino.

            - Se o pai e a mãe dele não aparecerem, quem sabe o juiz deixará a gente adotá-lo!

             - Isso mesmo. Eu vou ligar...

            E quando o seu Leonel ligou pra delegacia...

             - Alô, é o delegado?

            - Um minuto que vou chamá-lo.

            - Pois não, doutor Ortis.

            - Doutor Ortis, eu seu Leonel de Castro.

            - Olá seu Leonel, em que posso ser útil?

            - Estou vendo umas reportagens sobre o hospital das promessas, e acho que posso ajudá-lo em alguma coisa.

            - O que, por exemplo?

            - É que nasces dois dias apareceu em minha casa uma moca e me deu um menino recém nascido elegendo que tinha o encontrado num lote vago, ele uma gracinha doutor.

            - Ótimo seu Leonel, eu gostaria que o senhor trouxesse o menino até aqui, pois neste instante está falando comigo o médico que fez o parto de uma criança, quem sebe ele a reconhece, eu vou mandar um carro apanhá-lo.

            - Não senhor delegado, eu prefiro ir no meu carro, dentro de algum tempo estarei aí.

            - Aguardo o senhor.

            - Cláudia, vamos lavar o Júnio à delegacia.

            - Vá com ele Leonel, eu não gosto de entrar em delegacia, e quem deu o menino a você foi a moça, eu não tenho nada com isso.

            - Está bem Cláudia, eu vou.

            - Melhor assim, lá deve estar de plantão toda a imprensa.

            - Pode deixar Cláudia, eu sei me conduzir com esse povo.

            O senhor Leonel saiu para a delegacia e a senhora Cláudia ficou murmurando:

            - Foi embora o filho que Deus tinha me dado, eu sou mesmo uma infeliz.

            Minutos depois a senhora Cláudia assistia na televisão o repórter dizer:

            - E finalmente a tal criança apareceu, o raptor acabou se entregando.

            - Como falam esses repórteres, nem sabem da verdade - disse o senhor Leonel ao chegar ao gabinete do Delegado, dizendo:

            - Aqui está o menino doutor, se não encontrar com o pai e a mãe dele, eu gostaria de adotá-lo.

            - Você Martin?

            - Que Martin? Quem é Martin? - indagou o seu Leonel.

            - Sim senhor, eu sou o médico que fez o parto, e quando a mãe morria pediu que pusesse nele o nome de Martin.

            - Ele já tem outro nome que minha mulher pôs.

            - Qual é o nome? - interrompeu o Delegado.

            - Júnior, este foi o nome que escolhemos para ele.

             - A coisa começa ficar clara.

            E o delegado olhando para menino falou:

   - Martin, Júnior, nem sei qual o nome que devo chamá-lo.

             - Martin - argumentou a doutor dizendo:

             - Posso pegá-lo um pouco?

            - Sim, claro - aclamou o senhor Leonel.

            - Cuidado com o menino Artur - aclamou a sua esposa.

            - Bem gente! Acho que agora está ficando mais claro.

            - Sim, já posso levar o menino doutor?

            - Pode seu Leonel, assim que o caso for resolvido lhe comunicarei.

            De modo que o senhor Leonel tomou nas mãos o menino e foi até saída da delegacia, quando os repórteres indagaram:

            - O senhor veio se entregar e já está de saída?

            - Eu sou Manoel, ganhei a criança de uma moça, de modo que vim tentar resolver um problema.

            - Eles falam sempre assim - argumentou o  senhor Leonel.

            - Como foi o interrogatório...

            - Doutor Artur, como o senhor acha que o menino foi ao senhor Leonel?

            - Pelo que ele disse foi através da enfermeira que o homem a estrangulou com aquele punho assassino, porém...

            - E conforme o que o senhor contou como foi mesmo que a sua caneta foi parar nas mãos da enfermeira?

            - Bem, eu cheguei no apartamento quando eles lutavam, assim ela naquela ânsia avançou em meu bolso e acabou retirando a caneta e com ela acertando o coração daquele pobre homem.

            - Está bem doutor, o senhor pode ir, pois vou continuar as investigações, o que posso lhe afirmar é que posso interromper as suas férias, quando tiver alguma pergunta a fazer...

            - Está bem senhor delegado, eu vou andando, e o que precisar estarei ao seu inteiro dispor.

            - Obrigado Doutor Artur.

            Logo que o doutor Artur deixou a delegacia os repórteres começaram a divulgar.

            - Então senhor delegado, o que foi apurado até agora?

            - Gostaria de pedir à imprensa que tivesse um pouco de calma, pois logo direi o que e como tudo aconteceu.

            - Cláudia, venha ver, o doutor já deixou o hospital e o delegado disse que logo estará tudo apurado.

            - Pelo jeito que o delegado esta falando o doutor Artur deve ter dado todo o serviço.

             - Notei nele grande interesse e simpatia pelo garoto.

            - É, Deus ajuda que logo estará resolvido como disse o delegado.

             - Será que o Martin vai ficar com a gente?

            - Martin, vai deixar este nome nele mesmo Leonel?

            - Sim Cláudia, eu acho que só pode ser este o nome, foi o que a mãe pediu ao morrer.

            - Está bem, então vou ser a mãe dele.

             Martin chorava parecendo querer dizer que tudo ia ser resolvido, de maneira que alguém e em especial a senhora Cláudia fosse a sua segunda mãe.

            - Vou preparar o seu leite, quando pode ficar calmo que a justiça será feita.

            E nessas alturas...

            - Hortência, você viu o que aconteceu, foi até bom termos ido à delegacia, acabei por tirar um peso de minha consciência.

            - Sim, tirou o peso de sua consciência ou colocou um maior?

            - Como coloquei um maior?

             - Sim, não foi você que matou o homem.

            - Sim, mas não necessariamente, as coisas acontecem e são resolvidas de qualquer forma.

             - Como, não estou entendendo o que quer dizer com isso.

            - Tive que me justificar de uma maneira decente, agora é deixar as coisas rolarem.

            - Mas sinto que você vai cair em contradição com o doutor Lúcio, ele vai acabar dizendo à polícia que não sabe de nada.

             - Sim, isso é problema dele.

            - Problema dele, você tem coragem de dizer que é problema dele!

            - Claro, o hospital é dele e não meu.

             - E quanto ao seu emprego?

            - Não quero falar nisso agora.

            - Mas eu quero falar sim, acha que ainda está empregado?

            - Claro que sim, o meu emprego vai depender do que acontecer, se o doutor Lúcio me dispensar de qualquer forma eu tenho trunfos em minhas mãos.

            - Sua reputação nunca será mais a mesma como médico se ficar provado que foi você o assassino do Julião.

            - Claro que não vai ficar provado, para todos os efeitos foi apenas um acidente, e, além disso, o povo muito pobre se esquece facilmente das coisas, ainda posso mudar o meu nome de doutor Artur para um nome qualquer, e assim acabo ficando famoso, principalmente se for um nome de língua estrangeira.

            - Não acha melhor telefonar para o doutor Lúcio?

            - Você está louca mulher, acha que vou cair em uma cilada!

             - Que tipo de cilada?

            - Sei lá o que ele está preparando, nessas alturas ele já tomou conhecimento do que eu disse na delegacia.

            - E se ele não gostou de repente pode melhorar com o seu telefonema.

            - Não, não vou ligar, estou em férias, não foi o que ele disse?

            - Está bem, já que prefere assim...

            A mulher do médico parecia sentir que algo estava sendo tramado, pois por sua vez na mansão do doutor Lúcio alguém muito especial na casa falava:

            - Isso está ficando feio doutor Lúcio.

            - Não sei por que Ortis, você é ou não é o delegado?

            - Sou o delegado, mas a coisa está muito complicada.

            - Meu pai, quando ele mandou lhe indicar pro cargo de delegado foi com o objetivo de me proteger.

             - Sei disso doutor, mas o senhor tem alguma luz.

             - E claro que tenho.

            - O quê?

            - Precisa eliminar algumas pessoas.

            - Mas eliminar ainda mais doutor?

            - Sim, se for preciso até a cidade inteira.

            - E quem o senhor acha que tem de ser eliminado?

            - Em primeiro lugar o casal de velhos.

             - E o menino?

            - Também vai, poremos a culpa no doutor Artur, ele nunca foi mesmo um bom médico.

            - Sei, e depois eliminamos o doutor?

            - Sim, provocamos um acidente.

            - E quanto a imprensa?

            - Já telefonei pro meu amigo diretor do jornal, ele só ira publicar o que eu mandar.

            Porém enquanto o doutor Lúcio e o delegado Ortis firmavam o terrível tratado...

            - O que está fazendo Artur? 

            - Nem sei o que estou fazendo, mas o que posso dizer é que se segure firme.

            O carro do doutor Artur parecia ser um verdadeiro relâmpago que ultrapassava os carros pela BR indo na disparada.

            - Deve estar indo pra casa de Martin, não é?

            - Isso mesmo Hortência, eles vão acabar com o menino, eu preciso defendê-lo.

            - Eles quem? Responde quem homem de Deus, você ficou louco?

            - Não, estou ouvindo o chora dele.   

            Na verdade o que o doutor Artur estava ouvindo era a voz de Julião que parecia estar sentado no banco de trás, dando ordens.

            As pessoas olhavam o carro que parecia voar, e, no entanto todos os outros pareciam estar com defeito, pois todos eles estavam na verdade dando caminho livre ao carro do doutor Artur.

            - Você sabe aonde é a casa do seu Leonel, Artur?

            - Sei, ele disse que fica numa rua afastada na vila aonde houve aquele acidente.

            - Meu Deus, será que vai repetir outro acidente?

            - Não se nós chegarmos a tempo.

            Com a maneira suspeita do carro, logo as patrulhas começaram a segui-lo, de modo que muitos carros da polícia tentavam fazer o carro do médico parar, porém todos os bloqueios eram furados por ele, pois os batedores invisíveis que protegiam o menino Martin, estavam em perfeita vigilância.

            - É melhor entregar à polícia, pois assim  logo seremos atingidos.

            - Fique calma Hortência, não se entrega ao inimigo, vamos até o fim.

            E depois de uma longa corrida...

             - Não, essa não.

             - O que foi Artur?

            - Desça mulher, vamos a pé, acabou a gasolina...

            Abandonaram o carro e saíram pelas ruas que já estavam escuras.

            Enquanto a perseguição da polícia continuou, quando perceberam que abandonaram o carro, mas mesmo assim, Artur e Hortência acabaram por chagar à casa do casal de velhos, justamente na hora que os homens do delegado Ortis iam fazer o serviço, assim começou o tiroteio, mas o doutor Artur disse:

            - Tenta pegar o menino Hortência, que vou eliminar os homens do delegado.

            De modo que do revólver do doutor Artur saia mais balas do que pareciam ter.

            - Seu Leonel, cuidado seu Leonel!

            - Martin, onde está você Martin, onde está você? - indagou Hortência entrando num quarto um pouco escuro e de repente tomou uma facada no abdômen.

            - Socorro - gritou Hortência deixando que uma golfada de sangue colorisse a parede daquele quarto maldito.

            - Hortência, Hortência meu amor - chegou desesperado o Doutor Artur, porém quando chegou na porta do quarto alguém gritou:

            - Já matei dois, se entrar mais alguém, morrerá, já mataram o meu marido, eu não importo de matar quem quiser tirar o Martin de mim.

            - Senhora Cláudia, sou eu, o médico, o doutor Artur, eu estou do seu lado, não vou matar o menino, pelo contrário, vim proteger o pobrezinho.

            - É mentira sua, seu doutorzinho de meia tigela, você é um matador, sempre foram matadores, eu não confio em você, e em ninguém.

            No entanto, lá fora estava a polícia em peso, e num alto falante o delegado Ortis falou:

            - Doutor Artur, pode se render, entregue o menino.

             - Ele está pensando que fui eu que fiz tudo, está ouvindo? Deixe que eu fuja com o menino, já que a senhora matou a minha mulher.

            - O senhor promete cuidar do Martin? O meu Júnior, o filho que Deus tinha me dado, promete?

            - Sim, prometo senhora, eu prometo.

            - Já que é assim, leve-o para outro mundo, fuja com ele que vou me entregar à polícia.

             - Por onde devo sair?

            - Tem uma escada que sai pelos fundos, e o carro de Leonel está em baixo, pode ir nele, eu não vou precisar mesmo, enquanto você fugir eu vou me distrair um pouco com a polícia.

            -  Acaba com o delegado.

             -  O doutor Ortis?

            - Sim, ele mesmo, e depois o doutor Lúcio, são os dois mais perigosos.

            - Está bem doutor, pode ir.

            Enquanto o doutor Artur saia com o menino, a corajosa Cláudia disse:

            - Eu quero falar com o delegado, o doutor Ortis, e junto com ele o doutor Lúcio, só assim, ou porei fogo na casa.

            - O doutor Lúcio não está só está o delegado.

            - Mandem chamar o doutor Lúcio, que só assim, ou ponho fogo na casa.

            - A senhora não pode fazer isso, escute!

            - Não devo lhe escutar, como posso escutar um marginal.

            - Vamos conversar senhora, vamos conversar.

            E na escuridão da noite o pobre Doutor Artur fugia com o Martin dizendo:

            - Pra onde devemos ir Martin?

            - Mamãe!

            - Sua mãe não existe mais Martin...

            O pobre médico desesperado dirigia pela cidade procurando uma saída enquanto que a pobre velha Cláudia negociava com o delegado a sua provável liberdade ou se entregava ao desespero, e esta seria a melhor coisa, pois já não lhe restava mesmo o que se pode dizer esperança, pois até ela dizia:

            - Venha você só delegado, deixe o doutor Lúcio para outro dia.

            - Pode ficar tranqüila senhora eu irei cuidar da senhora.

            E quando o doutor delegado entrou na casa, a mulher se dirigiu a ele e agarrou em seu pescoço, e rolaram pelo chão e gritando:

            - Nós vamos morrer delegado, nós vamos morrer o Martin já se foi.

            Naquele instante a policia ficou perplexa ao ver a explosão e o grito de se desfalecendo nas chamas.

            Nessas alturas a policia fechou todas as saídas da cidade, de modo que não tinha como o doutor Artur sair, mas o mesmo procurou jogar o menino numa velha camioneta que carregava uma mudança e resolveu enfrentar a policia indo até a mansão do doutor Lúcio, porém foi morto pelos policiais.

            Enquanto no dia seguinte Martin estava bem distante, chegando em sua nova casa.

            - Ildeu, venha ver o que tem aqui.

            - O que Maria?

            - Venha ver.

            - Que gracinha, de onde ser ele veio?

            - Deve ter vindo do céu - argumentou Rúbia.

            - Gostou dele filha?

            - Sim papai, foi o irmãozinho que Deus me mandou, ele vai se chamar Lucas.

            Muitos pássaros e pousaram nas árvores cantando com grande alegria, dando assim boas-vindas ao novo amigo que teriam ali... 

 

FIM

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