sábado, 29 de abril de 2023

A Gata Maria João Rodrigues

 A GATA MARIA

 

JOÃO RODRIGUES

 

            Um dia na casa de Marquinho tinha uma gata por nome de Maria, era uma grande gata. Ela tinha a barriga muito grande.

            - O seu tio até comentou:

            - Marquinho, esta gata tem a barriga muito grande.

            - Porque ela vai ter filhotes - relatou Marquinho olhando a gata e assentando perto dela dizendo:

            - Não sei de onde ela veio...

            - Deve ter vindo de algum lugar...

            - É, mas eu sei que ela quer morar aqui.

            - Por que será que ela quer morar aqui? - indagou o tio de Marquinho.

            - Eu não sei - respondeu Marquinho sorrindo...

            - Ela gosta do que Marquinho?

            - Gostou da casa.

            - Por que será que ela gostou da casa?

            - Porque tem comida e lugar pra ela ficar, tem paredes pra ela andar, tem um quartinho pra ela dormir, e venha cá que mostro ao senhor o que ela ainda tem.

            O tio de Marquinho o acompanhou e ao chegar à dispensa ficou surpreso ao ver um lindo gato preto e em seguida Marquinho falou:

            - Este é o gato João - argumentou o menino alegre olhando para os coloridos olhos do gato.

            - Ele é muito bonito Marquinho - argumentou o tio.

            - Sim, ele é namorado da gata.

            - E gato namora Marquinho?

            - Não sei, só sei que ela vai ter filhotes.

            Era festa de São João, na tarde as ruas da cidade estavam cheias de fogueiras. Logo veio a noite e muita gente soltava bombas. Marquinho também soltava, até se esqueceu que sua gata Maria esperava o nascimento dos seus filhotes.

            A noite escura se enfeitava com as chamas e fogos que brilhavam no céu.

            Logo a lua veio tirar o prazer das estrelas, pois o seu prateado repousava sobre o cansaço das pessoas que tomavam quentão e comia canjica à beira da fogueira.

            - Miau! Miau...

            - Marquinho, levanta, veja o que está debaixo da sua cama.

            Marquinho se levantou e ficou muito feliz ao ver que tinha nascido os gatinhos.

            - Que lindo tio, os gatinhos

            - Dois gatinhos que estavam debaixo da sua cama.

            - Como será que eles vieram para cá tio?

            - A gata Maria Marquinho, deve ter sido ela que os trouxe para cá.

            Marquinho olhou para os lindos gatinhos falando:

            - Você é fêmea, seu nome será Mimi.

            A gatinha miou parecendo dar muito obrigado pelo nome, com um pouco de espanto Marquinho falou:

            - Tio, ela está com os olhos fechados!

            - Sim Marquinho, gato é assim mesmo, quando ele nasce fica alguns dias com os olhos fechados.

            - E depois abre? - indagou marquinho.

            - Sim, vai ficar igual a mãe.

            - Mas vai demorar tio?

            - Vai Marquinho, o tempo que for necessário.

            Marquinho levou a mão delicadamente e colocou a gatinha no chão dizendo:

            - Fica ai Mimi, e você como será o seu nome?

            A gata Maria olhava pro menino querendo dizer que não era permitido tocar nos filhotes, no entanto, se contentava em miar.

            - Tio, e como vamos chamar esta, ela é fêmea também?

            - Não sei Marquinho, você é quem sabe o nome que deve dar a ela, pois a casa é sua, e a gata é sua.

            Marquinho olhou profundamente pra gatinha e falou:

            - Seu nome será Lili. Gostou tio, deste nome?

            - Bonito o nome Marquinho, está mesmo muito bonito.

            Tudo na casa de Marquinho transcorria sem quase ninguém notar que a natureza tinha mostrado o seu poder, o pai de Marquinho nem sequer observou que o menino se preocupou com as gatinhas, a sua mãe, no entanto, observava que o menino estava muito feliz. De maneira que ao ver o seu filho junto com Lina, também a sua filha, brincando com as minúsculas gatas, ela reclamou:

            - Vou por esta gata num saco e soltá-la lá na estrada.

            E triste pelas crianças e também pelas gatinhas, o tio de Marquinho ficou preocupado, pois até murmurou consigo.

            - Como será que esta pobre gata vai sobreviver no mato, como será que ela vai dar alimento às suas gatinhas?

            Mais parecia uma prece, que o tio de Marquinho fazia só por imaginar, pois de uma maneira natural tudo transcorria e cada dia que passava o sol brilhava com mais alegria para as crianças e também para aqueles indefesos animalzinhos que com um jeito meigo de miar conquistava a cada momento até mesmo o coração da mãe de Marquinho.

            - Marquinho, tira esta gata daqui.

            - Onde ela está?

            - Debaixo da minha cama.

            - Esta gata doida, sua casa não é debaixo da cama de minha mãe.

            Marquinho apanhou as gatinhas e as levou para o quintal da casa, mas inesperadamente elas estavam de novo debaixo da cama de sua mãe.

            - Tio, o que devemos fazer com a gata Maria?

            - O que tem ela Marquinho?

            - Está trazendo as gatinhas pra debaixo da cama de minha mãe.

            - O que tem Marquinho, as deixe aí! - exclamou Lina.

            - Não pode Lina, elas não podem ficar dentro de casa.

            - Por que não pode mãe?

            - Gato tem pulgas, Lina, pulgas são muito perigosas para saúde.

            - Isso mesmo Marquinho, vou por esta gata num saco e mandar o seu tio jogá-la muito longe.

            - Deve ter um jeito de ajudar Marquinho, sua irmãzinha Lina e estas pobres gatas - murmurou o tio sem deixar que a sua cunhada percebesse que ele não queria que as gatinhas fossem atiradas ao mundo.

            - Coitada mãe, deixa a gatinha com a gente! - exclamou Lina com triste olhar inocente para a mãe.

            - Não pode minha filha.

            - Por quê? - indagou a menina acenando as suas delicadas mãos dizendo:

            - Não sei por que não pode deixar a bichinha com a gente.

            Naquele momento o pai de Marquinho e Lina veio chegando...

            - Algum problema?

            - Não, só estávamos falando de gatas.

            - Não teria coisa melhor pra falar do que gatos? Consome com estes bichos daqui.

            - Que homem covarde! - murmurou o tio olhando nos olhos do irmão.

            - Não tem nada haver o que tem os animalzinhos, eles são indefesos.

            - Sim, mas transmitem pestes, eles são nojentos, tem pulgas.

            - E comem ratos! - exclamou a mãe de Marquinho.

            - Isso mesmo, é bom eles ficarem em casa, assim os ratos que são os verdadeiros transmissores de pestes se afugentará da casa - aproveitou o tio a oportunidade para defender o lado das gatinhas.

            - Bem, vocês é quem sabem - respondeu o pai de Marquinho saindo pra cuidar dos seus negócios.

            Quando o pai de Marquinho saiu, o seu tio ficou mais tranqüilo, pois percebeu que se dependesse dele as gatinhas estariam com a moradia garantida pro resto da vida.

            Marquinho também notou que o pai estava de acordo com a permanência dos animalzinhos, no entanto teria que arrumar uma forma para poder controlar a mãe.

            O gato João estava de longe observando o andamento sossegado numa parede da casa, lá no alto os seus olhos amarelos brilhantes que penetrava nas profundezas da mente de qualquer pessoa.

            - O que devemos fazer com elas tio?

            - Nada - argumentou a inocente Lina em lugar do tio.

            - Temos que preparar uma casa pra ela lá no quintal Marquinho.

            - Fazer a casa do quê?

            - Não sei, sei lá, de qualquer coisa, vamos dar uma olhada.

            - As gatas pegam seus filhotes com a boca, não é tio?

            - É Marquinho - respondeu o tio meio preocupado.

            - Por que está triste tio?

            - Nada Marquinho, está tudo bem.

            Marquinho via no olho do tio a preocupação, na verdade seria tristeza de alguma coisa ou seria tristeza mesmo.

            - Marquinho, tem que arrumar um local que não faça muito frio durante a noite.

            - O que tem o frio tio?

            - Gatos não se dão tão bem com o frio Marquinho, no frio eles podem morrer, ainda mais estes novinhos, é mais perigoso.

            O menino com um olhar triste disse:

            - Puxa! Será que a Mimi vai morrer?

            - Não, ela não vai morrer - argumentou Lina.

            - Cala a boca Lina, você não sabe de nada.

            - Eu sei sim, ela pode morrer?

            - Sim, ela pode morrer.

            - Mas ela não vai morrer - voltou afirmar Lina.

            - Marquinho, apanhe aqueles pedaços de pau.

            - Pra quê tio?

            - Vamos fazer a casa da gata aqui no canto do quintal.

            - E será que ela vai gostar deste lugar tio?

            - Vai sim - confirmou Lina em lugar do tio.

            Lina tinha a voz de muita afirmação, os seus olhos negros enfeitavam o rosto louro infantil que fazia quem olhasse para ela se sentir felizes.

            - Mais o que tio? - indagou Marquinho.

            - Papelão. Vamos cobrir a casa dela de papelão.

            - E se chover tio?

            - Não estamos na estação das chuvas Marquinho, não tem perigo de chuva, tudo vai transcorrer bem.

            Em poucos minutos a casa da gata Maria estava pronta. Marquinho foi debaixo da cama de sua mãe, apanhou as gatinhas e as colocou na casa da a gata Maria dizendo:

            - Agora vocês ficam aí, aí é o lugar de vocês.

            Ali do lado do muro estava a gata Maria apreciando o menino conduzindo as gatinhas com muito carinho.

            Lá na cumeeira da casa o gato João miava feliz.

            - Pronto Marquinho, está tudo bem.

            - Vamos deixar que elas fiquem a vontade. Não é tio?

            - Sim Marquinho, agora elas vão ser felizes, mãe e filhas juntas.

            - E o pai também - interrompeu Lina.

            A mãe de Marquinho estava pro trabalho e a noite quando ela chegou nem observou que as gatinhas não a incomodavam.

            - Marquinho, mãe nem disse nada sobre a gata.

            - Esqueça Lina, é melhor assim.

            E a noite chegou junto com ela a escuridão, mas, todos dormiam em casa e Marquinho sonhava:

            - Escritor João Rodrigues, nós fizemos a casa da gata Maria.

            - Com quem você fez Marquinho? - indagou o escritor ao menino no sonho.

            - Eu, meu tio e Lina.

            - E a professora Eme, não veio lhe ajudar?

            - Não, ela nem sabe que a gata Maria existe, eu e Lina estamos em férias escolares.

            - Parabéns Marquinho, e boas férias.

            - E você João Rodrigues, não entra de férias de escrever?

            - Não Marquinho, eu sempre irei escrever, sempre e sempre...

            - Qual o livro que você está escrevendo agora?

            - “Marquinho e a gata Maria”.

            - O mesmo nome da gata!  - argumentou Marquinho acordando e dizendo:

            - Mãe, eu estou com frio...

 

Fim

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