A GATA MARIA
JOÃO RODRIGUES
Um dia na casa de Marquinho tinha uma gata por nome de Maria, era uma grande gata. Ela tinha a barriga muito grande.
- O seu tio até comentou:
- Marquinho, esta gata tem a barriga muito grande.
- Porque ela vai ter filhotes - relatou Marquinho olhando a gata e assentando perto dela dizendo:
- Não sei de onde ela veio...
- Deve ter vindo de algum lugar...
- É, mas eu sei que ela quer morar aqui.
- Por que será que ela quer morar aqui? - indagou o tio de Marquinho.
- Eu não sei - respondeu Marquinho sorrindo...
- Ela gosta do que Marquinho?
- Gostou da casa.
- Por que será que ela gostou da casa?
- Porque tem comida e lugar pra ela ficar, tem paredes pra ela andar, tem um quartinho pra ela dormir, e venha cá que mostro ao senhor o que ela ainda tem.
O tio de Marquinho o acompanhou e ao chegar à dispensa ficou surpreso ao ver um lindo gato preto e em seguida Marquinho falou:
- Este é o gato João - argumentou o menino alegre olhando para os coloridos olhos do gato.
- Ele é muito bonito Marquinho - argumentou o tio.
- Sim, ele é namorado da gata.
- E gato namora Marquinho?
- Não sei, só sei que ela vai ter filhotes.
Era festa de São João, na tarde as ruas da cidade estavam cheias de fogueiras. Logo veio a noite e muita gente soltava bombas. Marquinho também soltava, até se esqueceu que sua gata Maria esperava o nascimento dos seus filhotes.
A noite escura se enfeitava com as chamas e fogos que brilhavam no céu.
Logo a lua veio tirar o prazer das estrelas, pois o seu prateado repousava sobre o cansaço das pessoas que tomavam quentão e comia canjica à beira da fogueira.
- Miau! Miau...
- Marquinho, levanta, veja o que está debaixo da sua cama.
Marquinho se levantou e ficou muito feliz ao ver que tinha nascido os gatinhos.
- Que lindo tio, os gatinhos
- Dois gatinhos que estavam debaixo da sua cama.
- Como será que eles vieram para cá tio?
- A gata Maria Marquinho, deve ter sido ela que os trouxe para cá.
Marquinho olhou para os lindos gatinhos falando:
- Você é fêmea, seu nome será Mimi.
A gatinha miou parecendo dar muito obrigado pelo nome, com um pouco de espanto Marquinho falou:
- Tio, ela está com os olhos fechados!
- Sim Marquinho, gato é assim mesmo, quando ele nasce fica alguns dias com os olhos fechados.
- E depois abre? - indagou marquinho.
- Sim, vai ficar igual a mãe.
- Mas vai demorar tio?
- Vai Marquinho, o tempo que for necessário.
Marquinho levou a mão delicadamente e colocou a gatinha no chão dizendo:
- Fica ai Mimi, e você como será o seu nome?
A gata Maria olhava pro menino querendo dizer que não era permitido tocar nos filhotes, no entanto, se contentava em miar.
- Tio, e como vamos chamar esta, ela é fêmea também?
- Não sei Marquinho, você é quem sabe o nome que deve dar a ela, pois a casa é sua, e a gata é sua.
Marquinho olhou profundamente pra gatinha e falou:
- Seu nome será Lili. Gostou tio, deste nome?
- Bonito o nome Marquinho, está mesmo muito bonito.
Tudo na casa de Marquinho transcorria sem quase ninguém notar que a natureza tinha mostrado o seu poder, o pai de Marquinho nem sequer observou que o menino se preocupou com as gatinhas, a sua mãe, no entanto, observava que o menino estava muito feliz. De maneira que ao ver o seu filho junto com Lina, também a sua filha, brincando com as minúsculas gatas, ela reclamou:
- Vou por esta gata num saco e soltá-la lá na estrada.
E triste pelas crianças e também pelas gatinhas, o tio de Marquinho ficou preocupado, pois até murmurou consigo.
- Como será que esta pobre gata vai sobreviver no mato, como será que ela vai dar alimento às suas gatinhas?
Mais parecia uma prece, que o tio de Marquinho fazia só por imaginar, pois de uma maneira natural tudo transcorria e cada dia que passava o sol brilhava com mais alegria para as crianças e também para aqueles indefesos animalzinhos que com um jeito meigo de miar conquistava a cada momento até mesmo o coração da mãe de Marquinho.
- Marquinho, tira esta gata daqui.
- Onde ela está?
- Debaixo da minha cama.
- Esta gata doida, sua casa não é debaixo da cama de minha mãe.
Marquinho apanhou as gatinhas e as levou para o quintal da casa, mas inesperadamente elas estavam de novo debaixo da cama de sua mãe.
- Tio, o que devemos fazer com a gata Maria?
- O que tem ela Marquinho?
- Está trazendo as gatinhas pra debaixo da cama de minha mãe.
- O que tem Marquinho, as deixe aí! - exclamou Lina.
- Não pode Lina, elas não podem ficar dentro de casa.
- Por que não pode mãe?
- Gato tem pulgas, Lina, pulgas são muito perigosas para saúde.
- Isso mesmo Marquinho, vou por esta gata num saco e mandar o seu tio jogá-la muito longe.
- Deve ter um jeito de ajudar Marquinho, sua irmãzinha Lina e estas pobres gatas - murmurou o tio sem deixar que a sua cunhada percebesse que ele não queria que as gatinhas fossem atiradas ao mundo.
- Coitada mãe, deixa a gatinha com a gente! - exclamou Lina com triste olhar inocente para a mãe.
- Não pode minha filha.
- Por quê? - indagou a menina acenando as suas delicadas mãos dizendo:
- Não sei por que não pode deixar a bichinha com a gente.
Naquele momento o pai de Marquinho e Lina veio chegando...
- Algum problema?
- Não, só estávamos falando de gatas.
- Não teria coisa melhor pra falar do que gatos? Consome com estes bichos daqui.
- Que homem covarde! - murmurou o tio olhando nos olhos do irmão.
- Não tem nada haver o que tem os animalzinhos, eles são indefesos.
- Sim, mas transmitem pestes, eles são nojentos, tem pulgas.
- E comem ratos! - exclamou a mãe de Marquinho.
- Isso mesmo, é bom eles ficarem em casa, assim os ratos que são os verdadeiros transmissores de pestes se afugentará da casa - aproveitou o tio a oportunidade para defender o lado das gatinhas.
- Bem, vocês é quem sabem - respondeu o pai de Marquinho saindo pra cuidar dos seus negócios.
Quando o pai de Marquinho saiu, o seu tio ficou mais tranqüilo, pois percebeu que se dependesse dele as gatinhas estariam com a moradia garantida pro resto da vida.
Marquinho também notou que o pai estava de acordo com a permanência dos animalzinhos, no entanto teria que arrumar uma forma para poder controlar a mãe.
O gato João estava de longe observando o andamento sossegado numa parede da casa, lá no alto os seus olhos amarelos brilhantes que penetrava nas profundezas da mente de qualquer pessoa.
- O que devemos fazer com elas tio?
- Nada - argumentou a inocente Lina em lugar do tio.
- Temos que preparar uma casa pra ela lá no quintal Marquinho.
- Fazer a casa do quê?
- Não sei, sei lá, de qualquer coisa, vamos dar uma olhada.
- As gatas pegam seus filhotes com a boca, não é tio?
- É Marquinho - respondeu o tio meio preocupado.
- Por que está triste tio?
- Nada Marquinho, está tudo bem.
Marquinho via no olho do tio a preocupação, na verdade seria tristeza de alguma coisa ou seria tristeza mesmo.
- Marquinho, tem que arrumar um local que não faça muito frio durante a noite.
- O que tem o frio tio?
- Gatos não se dão tão bem com o frio Marquinho, no frio eles podem morrer, ainda mais estes novinhos, é mais perigoso.
O menino com um olhar triste disse:
- Puxa! Será que a Mimi vai morrer?
- Não, ela não vai morrer - argumentou Lina.
- Cala a boca Lina, você não sabe de nada.
- Eu sei sim, ela pode morrer?
- Sim, ela pode morrer.
- Mas ela não vai morrer - voltou afirmar Lina.
- Marquinho, apanhe aqueles pedaços de pau.
- Pra quê tio?
- Vamos fazer a casa da gata aqui no canto do quintal.
- E será que ela vai gostar deste lugar tio?
- Vai sim - confirmou Lina em lugar do tio.
Lina tinha a voz de muita afirmação, os seus olhos negros enfeitavam o rosto louro infantil que fazia quem olhasse para ela se sentir felizes.
- Mais o que tio? - indagou Marquinho.
- Papelão. Vamos cobrir a casa dela de papelão.
- E se chover tio?
- Não estamos na estação das chuvas Marquinho, não tem perigo de chuva, tudo vai transcorrer bem.
Em poucos minutos a casa da gata Maria estava pronta. Marquinho foi debaixo da cama de sua mãe, apanhou as gatinhas e as colocou na casa da a gata Maria dizendo:
- Agora vocês ficam aí, aí é o lugar de vocês.
Ali do lado do muro estava a gata Maria apreciando o menino conduzindo as gatinhas com muito carinho.
Lá na cumeeira da casa o gato João miava feliz.
- Pronto Marquinho, está tudo bem.
- Vamos deixar que elas fiquem a vontade. Não é tio?
- Sim Marquinho, agora elas vão ser felizes, mãe e filhas juntas.
- E o pai também - interrompeu Lina.
A mãe de Marquinho estava pro trabalho e a noite quando ela chegou nem observou que as gatinhas não a incomodavam.
- Marquinho, mãe nem disse nada sobre a gata.
- Esqueça Lina, é melhor assim.
E a noite chegou junto com ela a escuridão, mas, todos dormiam em casa e Marquinho sonhava:
- Escritor João Rodrigues, nós fizemos a casa da gata Maria.
- Com quem você fez Marquinho? - indagou o escritor ao menino no sonho.
- Eu, meu tio e Lina.
- E a professora Eme, não veio lhe ajudar?
- Não, ela nem sabe que a gata Maria existe, eu e Lina estamos em férias escolares.
- Parabéns Marquinho, e boas férias.
- E você João Rodrigues, não entra de férias de escrever?
- Não Marquinho, eu sempre irei escrever, sempre e sempre...
- Qual o livro que você está escrevendo agora?
- “Marquinho e a gata Maria”.
- O mesmo nome da gata! - argumentou Marquinho acordando e dizendo:
- Mãe, eu estou com frio...
Fim
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