sábado, 29 de abril de 2023

O Coqueiro João Rodrigues

 O COQUEIRO

 

JOÃO RODRIGUES

 

            Bem em frente da casa construída à beira do caminho estreito que mal passava um carro de boi, lá do outro lado existia um grande coqueiro.

            - Tenho certeza de que vi três homens subindo no coqueiro! - exclamou Manoel assentado num grande banco que existia na porta da casa, e curioso com o que viu, pois os homens que subiram no coqueiro não desceram.

            De modo que Manoel se levantou e foi até o coqueiro e curioso olhou para a sua densa folhagem e nada viu.

            - Será que estou ficando louco! - continuou Manoel a sua exclamação, pois tinha visto com seus próprios olhos aqueles homens subirem no coqueiro.

            O pior foi que quando olhou no chão para sua surpresa ser ainda maior ele não viu sequer nenhum rastro de pessoas na areia.

            - Não estou ficando louco! - continuava a sua exclamação e entrando  pra casa chamando pelo seu pai.

            - Pai, pai, eu vi pai!

            - O que você viu meu filho - Indagou o seu Sebastião a única companhia de Manoel naquela casa. Pois ele era o seu filho caçula, os demais já tinham morrido inclusive a sua mãe o resto estavam todos casados.

            - Três homens pai, eles subiram no coqueiro.

            - Um de verde, um de Azul e o outro de vermelho?

            - Então o senhor também viu?

            - Olha filho, não conte pra ninguém que você viu aqueles homens. Pra ninguém filho. Aproveita e vai apanhar o cavalo alazão pra você fazer uma viagem. Mas se lembra filho. Não conte pra ninguém o que você viu. Promete filho?

             - Sim papai, eu prometo.

            De maneira que algum tempo depois Manoel chegou com o cavalo alazão dizendo:

            - Pai, já apanhei o cavalo.

            Quando Manoel entrou na casa o encontrou ali sobre a mesa na sala o seu Sebastião que já estava morto. Do lado do seu corpo estava um bilhete escrito para Manoel.

             - Filho Manoel, amei todos os meus filhos, mas você foi o que mais amei. Não sei o motivo, mas foi o que mais amei. O cavalo é pra você avisar aos seus irmãos que eu morri. E quanto aos três homens que você viu, não conte pra ninguém como me prometeu. Ah! Destrua esse bilhete para que ninguém saiba do nosso segredo. Eu te amo meu querido filho. E não chore por  mim, pois sempre vou te amar.

            Não tinha como não chorar, Manoel chorou abraçando o pai morto.  

            - Quem eram eles que levaram você de mim papai, quem eram!

            Agora Sebastião já não podia responder o seu amado filho...

             - Vou chamar os meus irmãos como era a sua vontade.

            Manoel destruiu o bilhete e com lágrimas jorrando dos seus olhos corria estrada afora no possante cavalo alazão.

            - Manoel está vindo na disparada João.

            - Deve ter acontecido alguma coisa muito estranha pra ele vir daquele jeito Deija.

            Já na porteira do quintal Manoel escanchou o seu cavalo e foi dizendo:

            - Papai morreu mano. Avise José que eu vou avisar Pedro e Joaquim.

            E quando o sol se pôs todos filhos de Sebastião choravam a sua morte. Já no dia seguinte, depois do enterro do velho, cada um tomou o seu destino e Manoel ficou vivendo ali sozinho naquela casa onde viu morrer alguns irmãos, mãe e pai. Agora estava ali assentado naquele grande banco, testemunha única do seu segredo e do seu pai. Quem eram aqueles três homens que subiram no coqueiro.

            - O que farei da minha vida! Não sei o que existe em mim. Até hoje não encontrei ninguém pra me fazer companhia. Nunca amei ninguém. Será que sou alguma obra do destino de alguém. Quem sou eu?

            E no emaranhado de pensamentos Manoel procurava entender o que verdadeiramente estava acontecendo com a sua vida.

             - Vou esperar por vocês...

            Manoel se assentou no velho banco com uma carabina em seu colo e ficou à espera dos três homens subirem ou descerem do coqueiro. O mais fácil seria descerem, pois ele mesmo os viu subirem.

             - Quando vocês descerem ou subirem eu atirarei em vocês, assassinos do meu pai...

            Manoel agora culpava os três homens pela morte do seu querido pai.

            E lá assentado no banco com a carabina no colo o pobre rapaz aguardava os três homens misteriosos. De modo que o tempo passou e uns dois anos mais tarde Manoel resolveu por fogo no coqueiro uma vez que não viu os três homens misteriosos nem subirem e nem descerem.

            - Vou colocar fogo em você meu amigo. Não vou dizer que não vou sentir a sua falta. Contudo não vejo outra solução.

            Manoel achava que se queimasse o coqueiro estaria queimando também os assassinos do seu pai.  E assim fez. Apanhou os bois e os colocou no carro e foi pro mato apanhar lenha. Colocou ao redor do coqueiro muitos carros de lenha, formando assim uma grande fogueira e depois ateou fogo.

            - Agora quero ver se vocês descem ou não seus malditos assassinos do meu pai.

            Enquanto o fogo dava fim ao grande coqueiro o Manoel continuava assentado no grande banco com a carabina no colo à espera de algum dos três homens misteriosos e assim poder vingar a morte do seu pai.

            Mais uma vez o tempo passou. O fogo deu cabo ao coqueiro. Só que por meses uma fumaça branca continuava a sair da terra no lugar onde existia o coqueiro.

            - É, parece que acabou a maldita fumaça! - exclamou Manoel indo até o local onde era o coqueiro ver o que estava acontecendo.

            - Nossa! Que buraco se formou! - Exclamou novamente o Manoel ao ver a cratera que tinha se formado ali. E como a curiosidade era muita ele se aproximou o quanto pôde e acabou por cair de carabina na mão naquele enorme buraco.

            - Não! Me tira daqui...

            Manoel com a sua curiosidade acabou indo parar num grande pote de barro que existia no fundo da cratera. Ali estava ele caído sobre uma grande quantia de moedas de ouro que estavam à espera de alguém. Porém ao seu lado existia uma caveira do humano que segurava com aquela mão em esqueleto uma carta que nela estava escrito:

            - Não sei quem é você, se meu neto ou tetraneto, mas sei que merece ou meu tesouro por saber guardar segredo e ser obstinado no seu desejo. Metade desta fortuna é sua, a outra parte ficará no pote de barro debaixo de um coqueiro que você irá plantar em frente a sua casa bem longe daqui, para que no futuro alguém da nossa linhagem possa herdar um pouco da nossa bondade. Ah! Não se esqueça de mim e nem da minha carta, ou melhor, da carta que herdei de alguém que guardava segredo bem antes de nós. Parabéns pelo seu feito e foi um enorme prazer te conhecer.  

       FIM   

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