O Cordão de Ouro João Rodrigues

 O CORDÃO DE OURO

 

JOÃO RODRIGUES

 

               No sertão baiano tudo era alegria naquela tarde de Sábado de janeiro de 1966 na casa do seu Liano.

            - Hoje o meu noivo vai chegar.

            - Não fique assim tão feliz Maria, pois sinto algo muito estranho. Esta  noite sonhei que você estava chorando lá na cisterna.

            - Vira essa boca pra lá Tida. Sempre que você sonha parece uma coisa estranha. E sempre acontece conforme o seu sonho.

            Enquanto as duas irmãs papeavam na sala da casa Naninha falou:

            - Maria, não vai se arrumar?

            - Sim mãe, já vou.

            E a linda Maria procurava se arrumar à espera de aquele dia ver o seu noivo que vinha a cavalo e de longe para te ver.

            - Vem vindo um cavaleiro na boca do caminho - informou João.

             - Deve ser Pedro, o noivo de Maria - relatou Naninha.

            João saiu correndo pra porteira do quintal e foi receber o seu futuro cunhado. Naquele momento vinha chegando também o seu pai Liano e os seus irmãos Rodrigues e Joaquim.

            - Minha benção Padrinho.

            - Deus que te abençoe meu filho. Vamos entrar. Os meninos cuidam do seu cavalo.

            De modo que Liano entrou na casa acompanhado do seu afilhado e futuro genro  dizendo:

            - Naninha, temos visita.

             Naninha veio cumprimentar o afilhado e em seguida falou:

            - Maria venha cumprimentar o seu noivo.

            - Já vou mãe.

            Com aquela roupa feita especialmente para ocasião Maria veio até a sala e cumprimentou o seu noivo e ficaram por instantes sem ter o que dizer, pois Naninha não deu espaço para a moça falar com o rapaz. O certo é que bem mais tarde todos estavam sentados à mesa para o jantar e Liano contava seus casos para os filhos e o visitante ilustre que estava pretendendo ser o esposo de Maria. E como o tempo não espera, logo todos foram dormir e as visitas dormiam numa rede armada na sala principal da casa. Pedro tinha levado um presente para Maria, mas, como Naninha não deu espaço para o rapaz entregar o presente para a moça eles se comunicaram por gestos e o certo é que combinaram para se encontrarem na sala da casa quando todos fossem dormir. E Assim aconteceu o caso do cordão de ouro. Pois já tudo escuro, Maria saiu do seu quarto onde dormia com Tida, Dalva e Amélia, e foi até a sala se encontrar com o Pedro conforme o combinado. Contudo dava para perceber que numa noite daquela jamais Naninha dormiria. Pois sabendo que tinha um estranho no ninho, ela não podia facilitar. Pois num passo falso e tudo estaria perdido. Não por falta de respeito, é que Liano sempre dizia na casa: Dou toda liberdade a vocês, porém, puta e veado se entrar na minha casa, morrem. E quem avisa amigo é. Como eu ia dizendo que Maria foi se encontrar com o noivo para receber o presente, mas, dois jovens apaixonados com roupas de dormir numa sala escura, não teve como evitar de se tocarem. Só que no momento da emoção a rede fez um denunciante ringido e Nainha gritou:

            - Maria?

            Essa para responder a mãe teve que sair correndo para o seu quarto e por estar escuro acabou se chocando nos móveis e por fim acordando todos naquele momento de angústia. Naninha se levantou com o lampião em uma mão e um cabo de vassoura na outra e foi até a sala onde estava o rapaz e disse:

            - Seu cabra safado, vai desonrar outro lar e não o meu seu pilantra.

             - Não aconteceu nada minha madrinha, eu só estava dando esse cordão de ouro que trouxe para ela.

             - Querendo seduzir a minha filha com esse maldito presente seu idiota, sai já da minha casa.

            Maria veio até a sala e mesmo antes de falar já recebeu várias bordoadas nas nádegas dadas por Naninha com aquele rombudo cabo de vassoura.

            - Não aconteceu nada mãe.

            - Cala sua boca sua vagabunda, se quiser desonrar um lar construa primeiro o seu.

            E Naninha não parava de falar, gritar e bater com aquele cabo de vassoura nas nádegas de Maria. Pedro até falou com ela:

             - Arrume sua filha que virei me casar com ela no Sábado que vem.

            - Quem vai acreditar num pilantra como você seu pilantra.

            De sorte que Pedro teve de ir embora na escuridão da noite, mas mesmo assim falou com Liano para arrumar a sua filha que ele viria se casar com ela.

             - Ele virá se casar, Naninha.

            Mas, nada adiantava falar com Naninha, ela  estava irredutiva, e por toda aquela semana Maria apanhou da sua mãe com aquele cabo de vassoura.

            - Pai, vem vindo alguém na estrada.

            Liano olhou pro cominho e avistou aquela multidão que vinha se abarracando em frente a sua casa e desarreando os seus cavalos e colocando bruacas de alimento, bebidas, e muitas outras coisas que pareciam trazer para preparar uma grande festa naquele lugar. Liano até que tinha prendido uns animais de matrutagem no curral de dentro à espera do casamento, mas, ao ver aquela movimentação se encheu de alegria ao ver que carros chegavam e deles desciam as principais autoridades da cidade, Juiz, Pastor, Prefeito, Delegado, e um pelotão de soldados que acompanhavam um distinto cavalheiro que desceu do carro com um grande embrulho nas mãos e foi ao encontro de Naninha dizendo:

            - Aqui está o vestido, vista a sua filha que vou me casar com ela como te prometi. Pois fique sabendo que ela ama um homem e não um cabra safado como foi dito.

            Naninha recebeu o vestido e vestiu a sua filha como o cavalheiro pediu. E, lá sob uma grande laranjeira no quintal da casa, num altar improvisado, Maria e Pedro receberam as bênçãos ao som do acordeom e muitos outros instrumentos que alegrava aquele novo casal no sertão, unidos pelo amor e porque não dizer, por um lindo cordão de ouro.

            Já passava da meia noite quando a linda lua fazia o sertão parecer um mar de prata, Pedro se foi em seu alazão com a sua linda Maria, deixando ali os convidados felizes.

  

FIM