sábado, 29 de abril de 2023

A Felicidade João Rodrigues

 A FELICIDADE

 

JOÃO RODRIGUES

 

            Um dia o menino Marquinho seguia por uma rua e de repente encontrou um homem que...

            - Não, eu estou bem re, re, eu sei, eu sei.

            Marquinho observou que o tal homem que sorria e falava, andava só, somente só.

            - Mas que estranho aquele homem está falando sozinho.

            Marquinho murmurava sem saber na verdade o que seria.

            - Senhor, posso falar? - indagou Marquinho acompanhando o homem.

            Nada adiantou, pois o homem não deu a mínina para o menino.

            - Nossa! Será que ele é louco?

            Marquinho assim resolveu acompanhar curiosamente os passos do misterioso homem, para saber o que lhe fizeram na verdade, sorrir e falar sozinho como se estivesse com alguém.

            De modo que num ponto de ônibus aquele homem parou.

            - Ele não pode ser louco, pois se fosse não ficaria num ponto esperando ônibus.

            Ali perto Marquinho ficou a observar o homem, notava no instante que ele continuava a conversar sozinho, as pessoas procuravam se afastar do homem.

            - Não, louco ele não pode ser, o que será?

            Marquinho muito preocupado na verdade que nem mesmo podia imaginar como e de que forma teria chegado até apenas para observar aquele ser, de certa forma parecia diferente de todos.

            - O que você tem garoto? - indagou uma mulher observando Marquinho meio aflito.

            - Não tenho nada senhora, quero dizer; tenho sim.

            - Tem o quê?

            - Estou com um grande problema.

            - Que tipo de problema garoto?

            - Marquinho senhora, meu nome é Marquinho.

            - Sim Marquinho, que tipo de problema?

            - Qual o nome da senhora?

            - Rosália. Por que quer saber o meu nome?

            - Nada do meu interesse, é que, é feio não chamar as pessoas pelo seu verdadeiro nome.

            - Sim, concordo, mas volto a insistir.

- Sim, observe este homem.

            - O que tem a ver com ele, o seu problema.

- Sim, eu não tenho problema, mas ele sim é ele que tem.

            - E o que ele é seu?

            - Nada, só estou observando-o.

            - Mas o que tem a ver você um garoto ficar observando as pessoas que passam pelas ruas, que vivem pelas ruas.

            - Sei que não tem nada a ver, é que estou ouvindo o que ele está falando só.

            Enquanto Marquinho tentava falar com a senhora Rosália o homem continuava sorrindo, pessoas passavam, tomavam os seus ônibus e até parecia que o ônibus que aquele homem esperava não vinha.

            - Marquinho, eu acho que você devia ir cuidar da sua vida, você não tem nada a ver com as pessoas na rua.

            - Sim senhora, mas eu gostaria de saber por que ele está sorrindo?         - Ele deve estar feliz.

            - Momo feliz? O que é felicidade?

            - Felicidade é viver contente, feliz.

            - Mas falando só pela rua falando assim sem ninguém isto é que é a tal felicidade?

            - Não tenho mais tempo de falar com você Marquinho, eu tenho de ir, o meu ônibus chegou.

            - Obrigado senhora, pelo que me disse.

            A mulher entrou no ônibus dizendo:

            - Vá embora Marquinho, vá embora.

            O menino quase não ouviu direito o que a mulher falou, notava, no entanto que a conversa do homem com o invisível estava indo bem.

            - Não é o seu ônibus, não chegou, ele está demorando...

            Marquinho observava que o homem estava na verdade esperando verdadeiramente um ônibus que tudo parecia ser mesmo o que a mulher tinha dito.

            - Meu Deus, será que é isso mesmo a felicidade?...

            Marquinho indagava a si mesmo até que enfim de uma forma muito estranha o homem parou de falar.

            - Estranho, ele parou de sorrir e ao mesmo tempo de falar...

            Logo o ônibus parou e ele se dirigiu à porta...

            - Será que ele vai mesmo parar de falar?

            Marquinho como se fosse um detetive, tentava descobrir o que sentia o homem. Seria mesmo a tal felicidade que a mulher teria salientado?

            - Vou me assentar aqui perto dele - murmurou o menino.

            Marquinho ficou ali perto por algum tempo, mas logo o pesadelo começou.

            - Ré, re, o que você está pensando, não, não, não e não, não sei. Esqueça, não, não posso, eu não, não, não quero, eu...

            As pessoas que estavam por ali ficaram com medo do homem até procuravam passar para a porta da frente da roleta do coletivo.

            - Eu vou ficar aqui, quem sabe ele vai descer ou vai falar alguma coisa importante que possa tirar a minha dúvida eu bem que podia perguntar a ele se o que ele fala é mesmo por felicidade.

            Enquanto o pobre garoto tentava se encontrar na impossível decisão o homem continuava...

            - Uá não ré, ré eu hem, eu hem, eu hem, sai daqui, eu hem, eu hem.

            - Moço, com quem você está falando? - indagou Marquinho

            - Aí sim, ai sim.

            Marquinho voltou a insistir.

            - Moço, o que você tem?

            - Nada não, indo, o que quer saia daqui, saia daqui.

            - Não moço, eu só quero conversar.

            - Ui...

            - Converse comigo moço, o senhor tem mesmo a felicidade.

            - Eu estou à procura dela.

            - Mas o senhor me disse que o senhor estava feliz.

            O pobre homem ao invés de continuar falando com o Marquinho, começou a chorar.

            - Auuu, eu estou muito triste, minha mãe morreu, auuuu.

            - Do que a sua mãe morreu?

            - Não sei, não quero saber, não me interessa auuu, auuu, auuu.

            - Bem, se a mãe dele morreu mesmo, só pode ser agora que ele se lembrou, pois se não, ele estaria chorando ao invés de estar sorrindo, mas vamos analisar uma coisa, se ele estava sorrindo e falando com o invisível, poderia ser talvez com a mãe dele, há! É, ele estava falando com a sua imaginação, estava conversando... Sei lá o que devo...

            Enquanto Marquinho perdido na imaginação, imaginava que o que o homem tinha era tamanha satisfação em está falando com a sua própria mãe, que já tinha morrido na sua imaginação.

            - Mas não pode ser ele falando com a mãe...

            - Lá rá rui lara raaa...

            Quando o misterioso homem fez tal alarido, todos os passageiros do ônibus olharam pra trás, e com isso ocasionou medo em alguns, por verem Marquinho sozinho ali com aquela coisa.

            - Menino, eu te ordeno que passe pra frente, sai de perto deste homem - argumentou um homem apressadamente.

            Marquinho fez de conta que não ouviu nada e continuou dizendo:

            - Do que a sua mãe morreu?

            - Não sei, encontrei-a já morta. Não posso falar, não.

            - Mas que bobeira é esse senhor, todos um dia hão de morrer, pra que ficar assim, anime-se, vamos viver a vida, feliz com a felicidade.

            - E o que é felicidade?

            - Felicidade é, bem isso não importa, o que importa é sermos felizes.

            - Ah sei, com a minha mãe morta não tem jeito.

            Todos observavam a conversa e admiravam a coragem do menino. O homem que o ordenara pra passar para frente do ônibus veio pra perto da roleta como que estivesse à espera do momento de defender o menino no caso de um ataque.

            - Compreendo amigo, mas não devemos nos entregar aos problemas, temos de sermos fortes.

            - Sou um pobre homem, garoto. Sou um pobre homem...

            Num instante o homem se levantou e disse ao trocador:

            - Mande abrir a porta, quero descer, quero descer, quero descer...

            Minutos depois quando a porta se abriu Marquinho e o homem desceram deixando aquelas pessoas ali preocupadas, talvez com ele ou com o homem.

            - Mas para onde o senhor está indo?

            - Para minha casa, e o que quer comigo?

            - Não, eu não quero nada com o senhor, só quero saber o que é que o senhor tem, é...

            Do modo que o que homem falava causava na verdade estranheza para Marquinho, pois até parecia que quem estava falando não era o homem que estava dentro do ônibus e muito menos o que estava lá no ponto de ônibus.

            - Sim que bom que o senhor não tem nada, que bom - argumentou Marquinho se sentindo alegre, porém triste por saber que aquele pobre coitado tinha realmente uma doença mental.

            - É isso aí.

            - Então posso ir a sua casa, afinal ainda sou um menino, mas gostaria de ter um amigo, e por que não dizer um grande amigo.

            - Mas, mas você, você quer ser meu amigo?

            Alegre Marquinho voltou a insistir.

            - Sim, isso mesmo, eu quero ser o seu amigo.

            Com um gesto de retardamento mental o homem deu a mão a Marquinho dizendo:

            - Um prazer amigo.

            Marquinho também lhe deu a mão e disse:

            - Igualmente, Marquinho, qual é o seu nome?

            - Ah, meu nome, como sou um idiota, meu nome, pois é, meu nome, ah, você quer saber o meu nome?

            - Sim, amigos sabem o nome um do outro.

            - É, que estou sem costume, eu nunca tive um amigo.

            - Bem, mas agora você tem um amigo.

            - Quem é o meu amigo?

            - Marquinho, eu sou o teu amigo.

            - Você então Marquinho, é o meu amigo?

            - Sim, isso mesmo, eu sou Marquinho, e sou o seu amigo.

            - Mas eu não sei se posso dizer o mesmo, eu nem sei o meu nome, como em casa que de repente a minha família sabe quem eu sou e quem sabe dizer o meu nome.

            - Ótimo, gostaria de ir encontrar com a sua família, o senhor tem filhos?

            - Tenho. Você irá conhecer meus filhos.

            - Ótimo, assim poderei brincar com eles.

            - Sim, você irá brincar com eles.

            Tempos depois que seguiam uma tortuosa rua...

            - Mas é muito longe a sua casa?

            - Não Marquinho, estamos chegando, veja lá está Margarida.

            - Quem é Margarida?

            - Venha cá Marquinho, venha.

            - Marquinho ficou meio triste quando viu a tal Margarida, era simplesmente uma cadela.

            - Margarida, está é Margarida.

            - Sim meu amigo, ela não é linda

            Depois para desapontar ainda mais o menino acabaram de entrar em uma casa suja e empoeirada.

            - Marquinho, acorde filho.  Argumentou Maria chamando Marquinho para ir pra escola para se matricular em um concurso.

            - O que mamãe, o que foi?

            - Hoje é o dia de você se matricular para o concurso.

            - Que concurso mamãe?

            - Você se esqueceu filho?

            - Ah não! - exclamou Marquinho vendo que o tema era a felicidade...

 

            Fim.

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