sábado, 29 de abril de 2023

A Sanfona Mágica João Rodrigues

 A SANFONA MÁGICA

 

JOÃO RODRIGUES

 

            Lá num canto do sertão, bem perto do pé da serra, numa humilde casa de taipa, morava um mágico sanfoneiro que nos fins de semana alegrava ricos e pobres, novos e velhos, em cada festa que ele ia tocar a sua mágica sanfona que com o seu som encantado fazia as pessoas dançarem e esquecerem os seus problemas...

            - Lá vem um cavaleiro homem, quem será?

            - Deve ser alguém nos convidar pra tocar em mais uma festa!

            - Já estou cansada de viver nessa miséria. Até perece um castigo, enquanto te acompanho pra essas festas, alegramos as pessoas e nós mesmos vivemos mergulhados nessa pobreza desgraçada, estou cansada disso...

            De certa forma Odete tinha razão, pois entrava ano e sai ano, a única coisa boa que Leocádio deu a ela foi um filho que já tinha abandonado o sertão, pra ir tentar a vida na capital...

            - Até o nosso filho nem notícias nos manda. Às vezes chego até imaginar que ele nem mesmo está vivo.

            - Não fique aí mulher, agourando o nosso filho, quem sabe aquele cavaleiro vem trazendo notícias dele!

            E assim que o cavaleiro chegou à porteira da pequena casa de Leocádio, afundada dentro do areão do sertão...

            - Seu Leocádio, o seu Pedro de Tila mandou convidar o senhor pra ir animar a festa do mutirão que vai acontecer pra limpar a roça do seu Dorvalino que anda meio adoentado.

            - Ele não vai não moço! - exclamou a pobre Odete.

            - Não escuta ela não amigo, diz lá pro seu Pedro que será uma honra tocar no mutirão do seu Dorvalino, e que ele possa restabelecer a sua saúde.

            - Então está dado o recado, já vou indo.

            - Espera pro café, amigo.

            - José seu Leocádio, eu sou José de Cláudio.

            - Não estava te reconhecendo José, vamos apiar.

            - Deixa pra outra ocasião seu Leocádio, tenho que ir até a Barrinha pra avisar os peões o dia do mutirão...

            De modo que José de Cláudio se foi, mas Leocádio ficou por alguns instantes, pensativo, e depois, disse:

            - Vamos ver se seu Dorvalino melhora...

            Odete nem mesmo ouviu o que Leocádio falou, pois com o pensamento em João, o seu filho que tinha sumido pra capital e que já faz dez anos e nem notícias deu, até lá no fundo do seu coração a vontade era de ir pra capital à procura do seu único filho.

            - O que está pensando aí mulher, que cara é essa?

            - Estou pensado em ir à procura do nosso filho.

            - Está perdendo o juízo mulher, você nem mesmo faz idéia o que é uma capital...

            - Posso não fazer idéia, mas a minha vontade é encontrar o nosso filho, quem sabe está precisando da gente como o seu Dorvalino...

            Leocádio olhou num canto da sala da pequena casa mergulhada no sertão, e ao ver a sua sanfona, disse:

            - Desde pequeno ele gostava de tocar sanfona, vai ver que ele virou artista e vive pelo mundo tocando a sua sanfona como o seu pai.

            - Eu não penso assim Leocádio, pra mim ele vive mesmo é em dificuldades que nem mesmo pode escrever pra gente.

            - Acha que o nosso filho está preso, e nem pode nos escrever mulher!

            - Não quis dizer isso, mas já que você disse, quem sabe pode ser isso mesmo...

            E assim os dias se passaram e logo chegou o dia do mutirão, e lá estava Leocádio tocando a sua sanfona, alegrando aquelas pessoas que cantavam e dançavam com alegria, enquanto ele chorava junto com a sua sanfona que parecia querer falar com ele que também sentia saudades de João...

            Odete notava que Leocádio não estava muito bem, pois sentia que as músicas escolhidas pareciam ser especialmente pra João, pois era as músicas que ele gostava de tocar quando ainda era aquele inocente menino que alegrava aquela pobre casa perdida no tabuleiro do pobre sertão.

            - Onde será que está o meu João - murmurou Odete seguindo para o palco onde Leocádio cumpria a sua missão.

            - Leocádio, eu vou dar uma volta, estou com muita saudade do nosso filho.

            Leocádio só balançou a cabeça com que estivesse dizendo que sim, e continuou a tocar...

            Logo que terminou aquela música ele emendou com outra, mais outra, que essa era da preferência da sua amada Odete, que por sua vez lá no meio da escura estrada parecia sorrir e agradecer por tudo que o seu Leocádio tinha feito por ela desde o dia que a conheceu numa festa na casa do seu João Brito...

            Contudo a noite foi passando e Leocádio não viu a sua Odete voltar, e assim que os primeiros raios do sol brilhavam o sertão, as pessoas sonolentas ajudavam o pobre Leocádio a procurar a sua esposa que tinha desaparecido...

            De sorte que ninguém encontrou vestígios de Odete, restando assim a solidão no coração de Leocádio, e fazendo com que aquela fosse a última festa que o velho sanfoneiro tocou a sua mágica sanfona.

            Alguns anos mais tarde...

            - De quem é aquela casa que está em ruína lá no meio do sertão?

            - É de um sanfoneiro que vivia feliz com seu filho e sua esposa, contudo, um dia o seu filho foi pro mundo e anos mais tarde a sua esposa foi à procura dele, e deixando assim o seu marido sozinho que também desapareceu com a sua mágica sanfona.

            - E como se chamavam ou se chamam esses três seres da sanfona?

            - Dizem que o filho se chama João, o pai Leocádio, e a mãe Odete.

            - Obrigado amigo...

            - De nada senhor, estamos aqui para informar aos nossos turistas que prestigiam a nossa região...

            - Amor, quando chegarmos na capital vamos tentar descobrir o paradeiro das três pessoas da sanfona.

            - Sim, querido, podemos pedir ajuda ao Capitão Pedro, quem sabe ele nos ajuda a localizá-los.

            E assim o simpático casal de turista, Doutor Luciano e a Doutora Ana, se despediam do sertão e em especial daquela misteriosa casa do sanfoneiro que sumiu sem dar nenhuma notícia.

            - Amor. Às vezes fico imaginando que eles não sãos pessoas normais...

            - Não estou entendo o que quer se referir, Luciano.

            - Sei lá, amor. E se eles forem anjos que passaram por ali por um tempo determinado, e Deus os conduziu para outro lugar fora desse mundo!

            - Se o pessoal da universidade ouvisse você falar nessas coisas, não teriam lhe dado o diploma...

            - É, você tem razão, Amor, o certo é que eles devem mesmo ter seguido um o caminho do outro e quem sabem se encontraram e vivem felizes em algum lugar.

            - Que Deus ajude que eles estejam felizes, pois falaram ainda que eles alegrassem verdadeiramente o povo do sertão, devem sim, estar tudo bem com eles...

            - Bem pessoal, sinto muito, mas sou obrigado a informar que é chegada a hora de partir. Sei que cada um de vocês tem as suas tarefas e só daqui há um ano poderão voltar a nos ver. Desde já quero em nome de todo o povo do sertão, desejar a todos um ano de muita paz e prosperidade, e nos colocar à inteira disposição para recebê-los novamente quando assim desejarem vir nos prestigiar.

            - Obrigado por tudo seu Horozino, o que precisar da gente lá na capital, é só nos telefonar.

            - Obrigado Doutor Luciano...

            E já dentro do avião, todos olhavam já com olhares de saudades o grande sertão que ia ficando pequeno assim que a aeronave se escondia no infinito céu azul.

            - Será que Marlene estará nos esperando, Amor?

            - Sim, querido, ela nunca nos deixou no aeroporto, fique tranqüilo que logo estaremos em casa.

            - Assim que chegarmos vamos ligar para o Capitão Pedro...

            Não dava para precisar o que estava acontecendo com o Doutor Luciano no tocante ao sanfoneiro e sua família, mas parecia ser uma coisa muito misteriosa. Como poderia explicar esse interesse por um povo que nunca tinha visto, ou seria pelo fato de ver aquela casa em ruína, ali, desprezada por alguém que fazia apenas alegrar as pessoas. O que teria acontecido na verdade...

            - Vê se descanse um pouco querido, o Capitão Pedro vai nos ajudar...

            De modo que a Doutora Ana estava confiante no Capitão Pedro, e assim localizar os três seres da mágica sanfona que tanto incomodava o seu marido.

            - Amor, acorde, querido, estamos chagando na capital.

            - Tive um sonho Amor, nele eu estava ouvindo o sanfoneiro tocando na casa da sua mãe, e ela dizia que era o nosso casamento.

            A Doutora Ana ficou pensativa e em seguida falou:

            - Acho que antes do Capitão Pedro, nós devemos procurar o Doutor Armando.

            - Acha que estou ficando louco, Amor?

            - Não, querido, acho que tem algo estranho acontecendo. Das outras vezes que viajamos seu comportamento não mudou. Apesar de não ter sido pro sertão, mas você ficou apenas cansado, e desta vez você ficou muito diferente, até tendo pesadelos.

            - A coisa é estranha Amor, eu não estou compreendendo, só sei que quando olhei aquela casa abandonada lá no meio do nada   

           

           

Algo se apoderou de mim que a minha vontade é procurar por essas pessoas.

            - Está bem, querido, assim que chegarmos a casa vamos telefonar pro Capitão Pedro.

            E assim que chegaram no aeroporto, Marlene já os esperava com alegria...

            - Como foi lá Ana, estão diferentes!

            - Até você notou, Marlene?

            - Sim, cunhado, principalmente você!

O que foi que aconteceu?

            - Uma visita que fizemos no sertão, e lá Luciano se sentiu estranho quando viu uma casa abandonada - informou a Doutora Ana.

            - Mas o que tinha com a casa?

            - Como Ana falou cunhada, a casa estava abandonada.

            - E de quem era a tal casa?

            - Dizem que é de um sanfoneiro que tinha um filho e uma esposa, mas primeiro o filho se foi, mais tarde a esposa, e finalmente o sanfoneiro, ficando assim a casa abandonada.

            Enquanto o Doutor falava com a cunhada, essa dirigia o carro rumo a residência do doutor...

            - Finalmente estamos chegando amor - relatou a Doutora Ana se sentindo feliz por chagar no lar, dizendo:

            - Não há nada melhor do que a casa da gente!

            - Ainda bem que vocês chegaram o Capitão Pedro já ligou várias vezes - informou Paula, a empregada do Doutor Luciano.

            - Obrigado Paula - agradeceu a Doutora Ana.

            Minutos depois...

            - Capitão Pedro, o senhor pode dar um pulinho na minha casa, preciso confessar algo muito estranho para o senhor.

            E naquela noite, na casa do Doutor Luciano, o Capitão Pedro e sua esposa Fernanda, ouviam a história que o Doutor Luciano contava...

            - E o senhor tem o nome completo desse pessoal da sanfona, Doutor?

            - Podemos falar com o seu Horozino, ele deve saber, amor, ligue para ele, por favor...

            - Gostaria de falar com o seu Horozino, é da parte do Doutor Luciano...

            - Doutor Luciano, que surpresa, fez uma boa viagem?

            - Muito bem obrigado seu Horozino, e pode me informar algo a respeito das pessoas da casa do sanfoneiro?

 

           

                        - O que o senhor precisa saber Doutor?

            - Qual o sobrenome deles?

            - São da família Mascate, Doutor.

            - Então, assim, Mascate?

            - Sim, Doutor, Mascate de Souza.

            - O meu muito obrigado seu Horozino, ajudou muito...

            - E então amor, o que ele disse mesmo?

            - Disse que assinam como Mascate de Souza, querida.

            - Então agora é só ligar para a central de investigações que teremos alguma pista desse ser do sertão que desprezou a sua família.

            - Mas deve ter os seus motivos Pedro, nenhum filho deixa sua parentela pra sair pro mundo por acaso - relatou a esposa do Capitão.

            - Compreendo meu bem. Bem Doutor, já temos o que precisamos, farei o possível para localizar o pessoal.

            - Nem tenho como agradecer Capitão, só sei que será de muita valia para mim.

            - Pode deixar Doutor...

            E já em sua casa, o Capitão Pedro soltou a informação...

            - Acha que vão mesmo localizar o pessoal, Pedro?

            - Vamos deixar o pessoal trabalhar mulher...

            Dias depois...

            - Aqui é da central de polícia, quem fala é o Doutor Nivaldo, delegado de polícia, gostaria de falar com o Capitão Pedro.

            - Espere um instante Doutor, vou chamá-lo.

            - Capitão, telefone pro senhor, é da polícia.

            - Obrigado Beatriz, você é a melhor empregada do mundo...

            - Só estou fazendo a minha obrigação Capitão...

            - Alô, em que posso ser útil?

            - Capitão Pedro?

            - Com o próprio.

            - Sou o Doutor Nivaldo, delegado de polícia.

            - Pois não Doutor Nivaldo, em que posso ajudá-lo?

            - O senhor solicitou informações de um indivíduo com o nome de João Mascate de Souza.

            - Isso Doutor, e também os pais dele.

            - Só chegou a minha mesa a informação a respeito do João.

            - E posso saber sobre as informações, Doutor Nivaldo?

            - Sim, ele está cumprindo pena na penitenciária.

            - Obrigado Doutor?

            - Não há de quê, Capitão Pedro.

            E logo depois que o Delegado desligou, o Capitão Pedro ligou para o Doutor Luciano...

            - Então o senhor encontrou o João, Capitão?

            - Sim, Doutor, está na penitenciária.

            - Obrigado Capitão, o meu muito obrigado.

            - Não tem de quê, Doutor.

            E alguns dias depois...

            - Então o senhor esteve lá na velha casa do seu Leocádio, o homem da sanfona mágica?

            - Sim, João, e ao ver aquela humilde casa perdida nas brenhas do sertão, algo se apoderou de mim e não tive paz até chegar aqui.

            - Já que a casa estava abandonada, o que sucedeu aos meus pais?

            - Contam que a sua mãe desapareceu, e o seu pai achava que ela foi à sua procura, e por tardar a chegar, o seu pai também desapareceu.

            - Será que vivem à minha procura?

            - É provável, e não deve ter chegado até você por não terem muito conhecimento da vida na cidade grande.

            - Nesses anos todos fiquei com vergonha de escrever uma carta sequer.

            - Com vergonha por ser um prisioneiro?

            - Sim, eles morreriam de vergonha de mim.

            - Na verdade o que aconteceu a você?

            - Foi um grande mal entendido. Dizem que todos os prisioneiros se dizem que são inocentes, uns até criticam essa expressão, contudo eu sofro por isso, pois sinto até vergonha de dizer que sou inocente.

            - Mais uma vez a vergonha está em suas palavras, por quê?

            - É o que resta para um injustiçado Doutor. Como é mesmo o seu nome, Doutor?

            - Luciano, Doutor Luciano.

            - Pois como eu ia dizendo Doutor Luciano. A injustiça é companheira dos pobres. Às vezes a gente até encontra uma forma de provar a nossa inocência, mas esbarra nos que os doutores chamam de caminhos da lei.

            - E aí esbarra na falta de dinheiro para pagar os profissionais!

            - É isso que acontece, Doutor...

            - Não sei o porquê, mas sinto na obrigação de te ajudar.

            - Talvez por esse algo que o senhor disse que se apoderou de ti.

            - Isso, João. Eu vou me inteirar do seu processo...

            - Que o senhor Jesus te proteja, Doutor...

            De modo que o Doutor Luciano se despediu do filho do sanfoneiro...

            - Fiquei sabendo que o senhor é um dos melhores advogados do pais.

            - Em que posso ajudar, Doutor Luciano!

            - Desfazer uma injustiça, Doutor Leonardo.

            - Farei o que for possível, Doutor...

            De modo que quando o Doutor Luciano deixava o escritório do Doutor Leonardo, observou uma mulher que o olhou de forma misteriosa...

            - A senhora está me olhando de forma estranha!

            - Vejo sim, algo estranho no senhor!

            - E posso saber o que vê?

            - Não consigo explicar.

            - Aqui está o meu cartão, se conseguir entender, pode me ligar.

            - Posso saber o que o senhor veio fazer aqui? Quem sabe encontrarei uma explicação para isso!

            - Procurar defender um inocente.

            - E o inocente tem nome?

            - Sim, ele se chama João Mascate de Souza.

            - Seria filho de Leocádio e Odete Mascate de Souza.

            - Sim, como sabe disso?

            - Eu sou a pobre Odete Mascate de Souza, mãe do inocente que está atrás das grades na penitenciária.

            - E o que está fazendo aqui?

            - Trabalho para o melhor advogado do país.

            - E ele sabe do seu filho?

            - Não. E nem mesmo meu filho sabe de mim.

            - E porque não contou a ele do seu filho.

            - Não tive oportunidade. Sou nova no serviço.

            - E há quanto tempo sabe do seu filho?

            - Desde quando cheguei à capital. Parece uma coisa do destino. Assim que desci daquele ônibus na rodoviária e vi a polícia prender o meu filho em lugar de outra pessoa.

            - E quem era essa outra pessoa?

            - Um jovem de classe que ostentava o Ódio revestido de fúria e impunidade.

            - Mas com esse jeito não encontro uma forma de entender, não teria uma forma concreta de me dizer?

            - Sim, Doutor Luciano...

            - Então fale senhora.

            - Passarei no seu escritório, assim poderemos falar sem metáforas.

            - Está bem senhora, aguardarei com ansiedade...

            - Como foi lá no advogado, Amor?

            - Foi bem, Amor.

            De maneira que dias depois...

            - Telefone do escritório do Doutor Leonardo, Doutor Luciano.

            - Eu atendo, Priscila.

            - Quer dizer que o senhor não se interessa pelo caso!

            - Sim, Doutor Luciano. Algo me impede de pegar o caso. O indivíduo em questão já foi condenado e o prazo está se inspirando, seria melhor aguardar a sua liberdade naturalmente.

            - Mas ele disse ser inocente, Doutor!

            - É o que todos dizem Doutor Luciano.

            - É a última palavra, Doutor Leonardo.

            - É isso aí, meu caro Doutor...

            Instantes depois...

            - Doutor Luciano, tem alguém que deseja lhe falar?

            - Quem é Priscila?

            - Odete Mascate de Souza.

            - A mande entrar.

            - Sim, senhor.

            - Doutor Luciano. Fico agradecida por me receber...

            - Será que agora a senhora pode me dizer o que está acontecendo.

            - Já sei que o Doutor Leonardo não se interessou pelo caso do meu filho. Contudo vim lhe dizer o que vi naquele dia.

            - E o que foi?

            - Vaguei pelas ruas da cidade à procura daquele jovem que cometeu o crime e que fez o meu pobre filho pagar o pato. Até que por sorte eu me deparei com mais uma das suas aventuras criminosas. Contudo, dessa vez ele foi identificado, e na sua grandeza humilhante ele relatou o nome do seu pai como o melhor advogado do país.

            - Foi aí que a senhora o procurou?

            - Sim, pedi emprego.

            - Faxina.

            - Isso, Doutor Luciano. Por várias vezes fui cobrir falta da sua empregada, e ali pude ver de perto as barbaridades que o filho do Doutor Leonardo faz por saber que o seu poderoso pai o acoberta.

            - E o Doutor Leonardo sabe que o filho dele é culpado pelo crime que levou o seu filho à prisão.

            - Não tenho certeza.

            - E porque vive trabalhando para o pai do assassino.

            - No início era para chegar até o filho dele e matá-lo, mas na primeira oportunidade eu não tive coragem. Não sou uma assassina, sou apenas a esposa de um simples sanfoneiro.

            Naquele instante que o Doutor Luciano falava com a senhora Odete...

            - Telefone pro senhor, Doutor Luciano, é o Capitão Pedro.

            - Fala, Capitão.

            - Localizamos a senhora Odete.

            - Está aqui comigo Capitão, a senhora em questão. Só nos falta agora o senhor Leocádio.

            - Então volto a ligar quando tiver alguma novidade, Doutor.

            - Fico no aguardo, Capitão.

            - Deve ser o famoso Capitão Pedro.

            - O conhece senhora?

            - Como disse pro senhor, Doutor,  Foram muitos anos andando como um rato por essa cidade maldita.

            - O que devemos fazer agora?

            - O senhor eu não sei, mas eu vou continuar trabalhando para o famoso advogado.

            - Posso saber a razão?

            - Gostaria que o senhor ficasse fora disso. Mas não pára de lutar por meu filho. E queremos Deus que encontramos o pobre Leocádio.

            - Quero fazer uma pergunta a senhora?

            - Se eu puder responder!

            - Para uma mulher do sertão, a senhora é um tanto esclarecida!

            - A vida é uma caixinha de surpresa, Doutor. Mesmo lá no sertão eu procurava me informar.

            - E o seu marido, também se informou?

            - Sim, é bem mais esperto do que se parece.

            - Mas não sabe dele, mesmo?

            - Não, Doutor. Mas sinto que não está muito longe.

            De sorte que Odete se despediu do Doutor Luciano, e ao chegar no escritório do Doutor Leonardo algo de estranho estava acontecendo...

            - Mais o que a senhora viu?

            - Nada além da pequena sanfona sobre o corpo do Doutor Leonardo, seu delegado.

            Quando Odete ouviu a secretária relatar em sanfona, o seu coração se encheu de alegria por sentir que o seu Leocádio estava agindo.

            - Eu te amo meu sanfoneiro...

            Já no escritório do Doutor Luciano...

            - A consulta que vim fazer não se trata da minha saúde. e sim de algo muito importante que preciso confessar.

            - E o que é de tão sério assim?

            - Meu nome é Leocádio, o sanfoneiro do sertão.

            - Em que posso ajudar?

            - Tenho um recado para minha esposa. Gostaria que dissesse a ela que continua a sua missão. Acho que o que eu deveria fazer já fiz.

            - Como assim?

            - O Doutor Leonardo pagou pelo o que o filho dele fez com o meu filho. Sei que não foi certo o que fiz, mas não encontrei outra forma de punir o filho dele.

            - E se ela quiser saber onde está o seu Sanfoneiro, o que devo dizer?

            - Quando terminar a missão dela, eu a encontrarei.

            E assim o homem da sanfona mágica se foi.

            - Capitão Pedro, sou eu, Doutor Luciano...

            - Então já os encontrou?

            - Sim, Capitão. Caso encerrado.

            - Doutor Nivaldo, tem uma senhora ao telefone.

            - Quer dizer que o filho do Doutor Leonardo é o assassino do crime da rodoviária?

            - No qual João Mascate de Souza foi condenado injustamente.

            - E com quem estou a falar?

            - Denúncia anônima, senhor delegado de polícia.

            Com a morte do Doutor Leonardo, Odete foi despedida, assim estava livre para poder viver novamente a sua vida com o seu sanfoneiro em algum lugar no sertão. Só que bem longe do seu sertão, em outro sertão.

            João Mascate de Souza foi inocentado e ao receber a gorda indenização do estado voltou pro seu sertão.

            - Que casa linda, Amor. Quantas roseiras plantadas ao seu redor.

            - Será que é a casa que meu pai me contava quando eu era criança!

            - O que o Doutor Luciano te contava?

            - Que nela morava um sanfoneiro com a sua família. E que fazia a alegria do sertão.

            - E que um dia o seu filho foi pra capital.

            - Como sabe disso?

            - Se esqueceu que sou filho do Capitão Pedro!

            - E que depois a sua esposa se foi!

            - Sim, e que finalmente o sanfoneiro com sua sanfona mágica.

            - E que agora o filho do sanfoneiro voltou - interrompeu Doutor Marcos.

            - Como sebe disso Doutor Marcos?

            - Sou filho do senhor Horozino, o dono do parque.

            E os três ouviam lá no alto da montanha o som da sanfona encantada...

 

Fim.

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