sábado, 29 de abril de 2023

A Maldição do Ouro João Rodrigues

 A MALDIÇÃO DO OURO

 

JOÃO RODRIGUES

 

               Lá no meio do sertão o sol parecia queimar os pensamentos de Ana que com seu rosto triste fazia o seu filho Joaquim indagar:

            - O seu olhar quer dizer algo de muito triste, o que está pensando mamãe?

             - Penso no seu pai filho, ele nunca mais voltou.

            - Nem gosto de me lembrar dele mamãe!

            - É, acho que é melhor assim...

            - Quem sabe todo esse pesadelo acabaria seu eu fosse atrás dele para a senhora!

            - Você teria coragem meu filho?

             - O que não faço pela senhora mamãe!

            - Ah! Que bom seria se eu pudesse saber o que aconteceu ao seu pai, filho.

            - Já são vinte anos que separa a senhora dele, não seria melhor esquecê-lo?

            - Não filho, quando meu pai me deserdou, assim fomos obrigados a morarmos nessa montanha. Um ano depois você nasceu, e ele desceu a montanha dizendo:

            - Vou procurar ouro para nós. E se foi.

            - Nem notícia deu?

            - Não filho, sumiu como o vento.

            - Onde eu poderia encontrá-lo?

            - Falava de um Oldac, morava lá pras bandas de Diamantina em Minas Gerais. Era lá que se dizia ter muito ouro e diamante.

            - E o meu pai tinha algum apelido mamãe?

            - Se tinha nunca me disse.

            - Só era chamado pelo nome mesmo?  

            - Fidelcino. Tinha orgulho do seu nome. Dizia que foi sua mãe que escolheu esse nome bem antes dele nascer.

            - Está bem dona Ana. Eu vou procurar o seu Fidelcino para a senhora.

            - Seria o melhor presente da minha vida se um dia você entrasse por aquela porta com ele.

            - Não vou trazê-lo embrulhado em papel de presente, mas sim, faço questão de que esteja muito bem vestido.

            E assim naquela noite Joaquim ficou até tarde brincando com o seu filho Lucas, e já na manhã seguinte ele disse:

            - Mamãe, cuide do seu neto e da sua nora que eu vou buscar o seu Fidelcino.

            Ana abraçou o filho e disse:

            - Leve esse retrato dele, sei que há essas alturas ele deve estar bem diferente, contudo, ainda deve guardar algo em seu semblante que te faça identificá-lo.

            - E a senhora não se lembra de algum sinal no corpo dele?

            - Uma pinta preta atrás do seu pescoço.

            - Fique com Deus Cintia, e cuide bem de Lucas e da dona Ana.

            Joaquim deu um beijo na face da esposa e do filho, montou em seu cavalo e seguiu rumo à Diamantina...

            - Sabe por aqui de alguém chamado Fidelcino, senhor?

            - Só isso moço. Fidelcino de quê?

            - É um garimpeiro, talvez.

            - É ou não é?

            - Deve ser. Há vinte anos ele veio pra cá em busca de ouro. Tinha um nome de um amigo dele, Oldac.

            - Existe um velho louco que mora num casebre à margem do riacho negro. Dizem que ele vive lá em busca de ouro para a sua mulher.

            - Obrigado senhor.

            De modo que Joaquim deixou o homem falando sozinho e saiu na disparada para ver se o tal velho louco era mesmo o seu pai. E já no fim do dia ele chegou ao casebre e foi muito bem recebido pelo velho.

             - Então você vive procurando terras para comprá-las?

            - Sim, e o senhor, vive em busca de alguma coisa?

            - E quem não vive, não é rapaz. Eu tenho um filho, se ele estiver vivo estará assim na sua idade. Vim procurar ouro para ele e a mãe dele. Quero dar uma vida melhor para eles. Ela era rica e perdeu a sua vida de princesa por amor a mim.

            Joaquim percebeu que estava falando com o seu pai, mas ficou surpreso ao ouvir o velho dizer:

            - Venha ver a minha velha casa.

            Quando Joaquim entrou na sala da casa, deu de cara com uma grande quantidade de crânios de humanos pendurados no teto como se fossem lâmpadas.

             - Cabeças de pessoas senhor?

            - Sim rapaz, cabeças de mentirosos. Todos os mentirosos que passaram por aqui, eu cortei o pescoço deles e pendurei as suas cabeças ai. Pois eu acho que os mentirosos devem morrer.

            - E que mentira eles contaram ao senhor?

            - Eu não te falei que tenho um filho que se ele estiver vivo estará como você. Pois é, eles me disseram que era o meu filho. E eu sei que não eram, de modo que matei todos eles, eu detesto mentira.

            Joaquim ficou um pouco assustado, contudo o velho disse:

            - Fica essa noite aqui. Quem sabe amanhã você não me ajudaria a procurar o ouro de que tanto preciso. Assim eu poderei cumprir a minha missão. Sabe rapaz, eu já me sinto casando.

            Já dia seguinte Joaquim e o tal velho louco estavam no pequeno riacho negro à procura do maldito ouro...

            - Eu trouxe uma bateia para você rapaz!

            Quando na água, Joaquim mergulhou a bateia e viu no fundo dela uma frase escrita: Ana, eu te amo. Um dia levarei o ouro para você, Fidelcino.

            Agora Joaquim tinha quase certeza de que estava com o seu pai, no entanto, imaginou que o velho louco tivesse matado ele e assim ocupado a sua personalidade e história. Só lhe restava ver a tal mancha preta no pescoço. De modo que tornou mergulhar a bateia na água e maravilhou-se ao ver o amarelo ouro tanto desejado por Fidelcino. Aflito e quase chamando o velho de pai, Joaquim gritou:

            - Ouro! Achei o ouro.

            E saiu correndo para mostrar o ouro para o velho. Esse por sua vez olhou meio desconfiado e disse:

            - Então você achou o ouro? Onde está? Eu não conheço ouro... 

            - Não conhece ouro! Deixou a sua mulher e filho, veio pro mundo procurar uma coisa que não conhece!

            - Sim rapaz, mas se for isso ai que é o tal de ouro, venha até aqui...

            E lá num quarto dos fundos do casebre estava uma grande quantidade de ouro.

            - Como você é bom rapaz, agora eu posso ir pra casa. Posso levar o ouro que prometi a minha mulher. Será que você não poderia ir comigo! Ai então, você conhecerá o meu filho. Se ele estiver vivo, deverá estar da sua idade.

            De sorte que Joaquim viajou rumo ao sertão, levando o velho e o ouro para sua mãe. Só que no caminho o velho ficou muito doente, e numa passagem de um riacho ele dava banho no velho quando ele disse:

            - Como você é bom rapaz! Se caso eu morrer, me promete que vai levar o ouro pra minha mulher e meu filho! E se o meu filho estiver vivo, diz pra ele que me perdoe pelo que fiz.

            Joaquim quase chorando viu a tal pinta preta no pescoço do velho e logo disse:

            - Não fique triste velho. Você não vai morrer, pode ter certeza disso.

            De maneira que numa tardinha, Ana acendeu muitas velas nas estacas da cerca do quintal, e se vestiu de preto, e já na escuridão da noite ela recebeu o seu Fidelcino naquele clarão e disse:

             - Você voltou meu amor.

             - Voltei Ana, e onde está o nosso menino?

            - Eu não mandei ele ir atrás de você!

            - Então ele é o meu filho!

            - Sim papai, e, ai está a sua maldição! - exclamou Joaquim jogando dois sacos de ouro perto do seu pai e da sua mãe.

            - Me perdoe pelo amor de Deus meu filho, eu não fiz por mal. Sei que não foi fácil crescer sem um pai do seu lado. Sei que ouro nenhum pagaria isso, mas foi um trato que fiz com sua mãe, e também nunca imaginei que eu fosse demorar tanto tempo.

            Joaquim não quis questionar o seu pai. O certo é que disse:

            - Está ai o seu Fedilcino mamãe, e o ouro dele. Onde está Cintia e Lucas?

             - Lá dentro meu filho.

            E assim, naquela noite, Ana e Fidelcino ficaram contando estrelas no quintal da casa, lá nos confins do sertão.

               

 

 FIM    

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