sábado, 29 de abril de 2023

O Grito João Rodrigues

 O GRITO

 

JOÃO RODRIGUES

           

            Contam que num tempo não muito distante vivia numa velha casa atrás de um muro de 15 metros de altura, um senhor que gritava nas noites escuras de solidão e mistério.

            Pois de longe dava para ouvir o grito triste e assombrado que o senhor emitia todas as longas noites escuras de aflição.

            De modo que os habitantes daquela pequena cidade perdida lá no longínquo sertão brasileiro vivam quase que acostumados com o habitante dono do grande mistério.

            Contudo, um senhor que viajava por aquelas bandas, ao ouvir o piedoso grito lá da janela do quarto da pensão onde se hospedava, ficou indignado com tudo aquilo e mesmo sem perguntar do que se tratava foi até à beira do muro e assim pôde ouvir de perto o grito inigualável que vinha do outro lado.

            De maneira que por algum tempo ficou intrigado e porque não dizer morto de curiosidade, pois até relatou:

            - Sinto que algo de muito estranho deve acontecer com esse alguém que grita - murmurou o homem mais uma vez dizendo:

            - Como posso chegar até ele...

            E o corajoso viajante começou beirar o grande e altivo muro na esperança de que pudesse encontrar  ali um portão...

            - Auuu, auu...

            Esse auuu, auu que o viajante ouviu fez com que entendesse que o homem que gritava já estava percebendo que ele estava à sua procura...

            E confiante em tal sintonia ele disse:

            - Sei que ele está sentindo a minha presença - relatou assim o viajante corajoso.

            O certo é que num instante mágico uma grande fenda se abriu como se fosse um grande portal no impetuoso muro  que parecia ir para um outro mundo, um mundo de talvez aflição, pois o grito do homem não demonstrava nenhuma alegria, e logo o homem pôde ver um grande brilho que veio de lá de dentro, não era um brilho qualquer, era um brilho que aquele homem jamais tinha visto em toda a sua vida, não era assim um brilho comum, era um brilho muito especial que aquele viajante muitíssimo curioso.

            - Que maravilha! - exclamou o viajante corajoso se sentindo importante ao poder ver uma coisa tão bela quanto aquela...

            Pois de olhos abertos não podia regular os seus pensamentos, parecia abobado e até relatou:

            - Nunca vi isso! Que lindo!

            E assim que o viajante passou por aquela fenda que se abriu no enorme muro se maravilhou ainda mais ao perceber que ali existia uma linda casa toda iluminada e com uma perfeita decoração...

            Ao ver a linda casa que com certeza ele nunca tinha visto coisa tão bela ele relatou:

            - Nunca vi coisa tão bela!

            Ao terminar do falar se perdeu na beleza de uma voz ...

            - Pode entrar meu senhor - ordenou  a voz suave que vinha de dentro das luzes e se formando o corpo de uma linda mulher.

            O viajante ficou por alguns instantes observando a coisa mais bela que já tinha vista em toda a sua existência, e parecendo levitar, seguiu em direção à linda mulher que nasceu da luz dizendo:

            - Encantado com sua beleza, desde já posso declarar do fundo do meu coração que se for que eu possa ter alguém em minha vida que seja você.

            Depois de se declarar para a mulher que nasceu da luz o estranho viajante até se esqueceu o que tinha ido fazer ali, pois logo em seguida beijando a mão da linda dama das luzes o misterioso viajante não percebeu que a fenda do muro tinha se fechado em suas costas.

            Naquele instante a mulher das luzes disse: 

            - Venha! Venha comigo! - ordenou a linda mulher das luzes levando o corajoso viajante para dentro da linda casa.

            Perdido diante de tamanha beleza o misterioso viajante relatou:

            - Irei para onde quer que for minha senhora...

            E naquele instante a cidade foi acordada com um grande estrondo e um gemido acompanhado de um sorriso escandaloso de uma mulher, dessas mulheres que vivem as noites de orgias nos cabarés das cidades como se fossem feras que vivem à busca de suas presas, munidas de garras afiadas para o bote final.

            Já dia seguinte a empregada da pensão relatou ao seu patrão dizendo:

            - O hóspede do quarto 315 não se levantou até agora senhor! - relatou a empregada com uma expressão de medo.

            - Está com medo Raimunda?

            - Muito medo seu Horozino, por acaso não ouviu o estranho gemido esta noite?

            - E que não ouviu Raimunda, chama Dulce que preciso falar com ela.

            - Ela saiu cedo senhor, foi com Marcos e Morgana.

            - Sabe pra onde foram?

            - Disse que foram ver o grande mural de onde veio o gemido e o sorriso de uma vadia.

            - Cuida da pensão que vou procurá-los...

            Rachando de medo Raimunda ficou ali esperando pelo retorno do patrão com a família...

            Contudo não demorou muito tempo o desespero de Raimunda, pois logo chagaram acompanhados do delegado da cidade dizendo:

            - O hóspede do quarto 315 já se levantou Raimunda? - indagou Horozino assustado.

            - Não senhor, até agora não.

            - Podemos abrir o quarto doutor?

            - Sim seu Horozino, precisamos saber se está vivo ou morto, pois o homem do mural parou de gritar, algo deve ter acontecido e o único suspeito na cidade é o seu hóspede.

            De modo que o delegado foi abrir o quarto 315 onde dormiu o viajante misterioso e só encontrou ali as coisas do viajante e uma carta que dizia:

            “Caso eu não volte aqui, favor demolir a casa do muro onde se esconde o grito”

            - O que vai fazer Delegado? - indagou Horozino assustado com aquele mistério, pois pra onde teria ido o seu hóspede misterioso.

            - Fez o ficha do viajante Raimunda? - Indagou Horozino confiante no trabalho da sua empregada há mais de vinte anos.

            - Fiz senhor, vou apanhá-la.

            Instantes depois Dulce leu a ficha que a empregada trouxe:

            - Antônio Montalvão, residente à Rua Dois de Julho, 966...

            - Esse endereço é o endereço do homem do grito - relatou Marcos assustado.

            - Seu filho tem razão seu Horozino - relatou o Delegado.

            - O que vai ser feito agora Doutor? Indagou Morgana se sentindo interessada no caso.

            - Vamos até a casa do homem do grito...

            E assim Raimunda ficou mais uma vez sozinha na casa, pois toda a família do seu patrão foi com o delegado e quase toda a cidade já se aglomerava no grande mural do homem do grito, e mais uma vez surpreenderam todos ao não encontrarem nenhuma entrada no grande muro.

            - O jeito é derrubar o muro - relatou o delegado assustado, pois nunca tinha percebido que não existia portão naquele grande muro do homem do grito.

            Porém, antes mesmo que o delegado deliberasse a derruba do grande muro do homem do grito, e que agora também era do gemido e da risada escandalosa, uma grande fenda se abriu e todos puderam ver uma grande área coberta de muitas flores que exalavam um perfume que fazia todo aquele povo ir até as flores e começarem a colheita, e assim a cidade inteira entrou para colher a tal flor, e ninguém percebeu que o grande portal se fechou.

            Também nem era possível vez nada nas suas costas, pois estavam verdadeiramente encantados com aquele perfume, parecia que era algo de outra dimensão, pois quando todos colhiam as flores cantavam uma canção em uma língua diferente da nossa. Talvez a língua dos encantados, o certo é que eles contavam, e lá do lado de fora do grande muro, um forte vento trazia muita areia e cobria toda aquela cidade, e hoje quem passa por ali não sabe o que aconteceu ao ver aquele grande monte de areia que o longe parece pessoas nascendo de dentro da terra...

 

FIM

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