sábado, 29 de abril de 2023

A Árvore Encantada

 A ÁRVORE ENCANTADA

 

JOÃO RODRIGUES

 

            Em um tempo não muito distante, vivia uma família muito feliz, numa pequena fazenda nos confins do sertão. O homem moreno, com seus quarenta anos aproximadamente, por nome de Sebastião e a sua esposa por nome Dalva, uns dez anos mais nova. Criavam ali seus três filhos, Cacilda, Wanderlei e Cida. Essa era a morena que parecia com o pai, Wanderlei também era um pouco parecido com ele, no entanto, Cacilda já tendia um pouco pro lado da mãe, mas não deixava de ter umas características do Sebastião. O certo é que viviam ali aquelas cinco almas escondidas por entre a floresta na pequena casa construída com madeira e barro, acrescentando porque não dizer, uma grande dose de amor. De modo que Sebastião cuidava da criação e da lavoura, enquanto que a sua amada Dalva cuidava da casa e das suas lindas crianças, motivo de muita alegria para o casal.

            - A lenha já está no fim Sebastião! - Exclamou Dalva ao seu marido.

            Sebastião ouviu calado, pois não era de muita conversa. Montou em seu cavalo e foi à procura dos bois de carro para poder apanhar a lenha. O certo é que se embrenhou no mato e quando passava por um determinado lugar, ouviu dois urubus falarem:

            - Coitado do homem, procurando os bois e já ficaram para trás.

            Sebastião olhou para os urubus que estavam assentados num galho seco de uma árvore e disse:

            - Onde estão os bois?       

            - Está nos ouvindo senhor? Seja bem-vindo ao nosso mundo. Acabou de passar debaixo da árvore encantada, não conte isso para ninguém, se não quebrará o encanto. Os bois estão no poço redondo.  

            Naquele momento que o urubu acabou de falar, o cavalo de Sebastião disse:

            - Eu sei onde estão os bois chefe. Mas não sabia que o senhor nos ouvia, se não eu teria falado. Ah! Por falar nisso chefe, gostaria de pedir ao senhor que não me batesse e nem me esporasse, e que seja um pouco mais cuidadoso quando colocar esse arreio em minhas costas.

            Sebastião estava contente com o momento que estava vivendo. Nem ouviu direito o que o seu cavalo pedia, pois ouvia com alegria o canto de cada pássaro. Via que nas letras de suas canções eles agradeciam a Deus por tudo que lhes dera. E assim que chegaram ao poço redondo, os bois já esperavam por eles, e o mais comovente foi quando um dos bois falou:

            - Já está precisando da gente chefe?

            - Sim amigos, a patroa precisa de lenha.

            - Pode seguir que iremos junto chefe, hoje é um dia muito especial para nós - relatou o outro boi.

            - Pra mim também amigo, estou muito feliz.

            E lá nos confins do sertão aquele homem teve o privilégio de poder andar com os animais de igual para igual. E eles contavam uma canção. Eu não sou muito bom para cantar, mas você que está lendo esta história, se fosse você, que canção cantaria? Cante a sua canção. Quem sabe alguém ao ouvi-la se sentirá feliz como se sentiu o homem da minha história. Não estou ai para ouvir a sua canção, mas tenho certeza de que será linda. O papo está bom, mas temos que voltar à história e saber o que Sebastião está fazendo.

            - Desde a hora que você chegou com os bois o seu semblante está diferente. Quem é a vagabunda com quem está se encontrando? Tenho notado que todas as vezes que vai ao campo você volta diferente. Quem é ela?       

            Sebastião ouviu Dalva falar e sem acreditar que aquilo estava realmente  acontecendo, pois ele a amava por demais. Nunca tinha imaginado que ela desconfiava dele.

            - Não estou entendendo o que quer dizer, Dalva.

            - Não se faz de besta Sebastião, está estampada no seu rosto uma grande felicidade, isso só pode ser mulher, quem é ela?

            Naquele momento Sebastião se lembrou do que falou o urubu, e triste olhou para esposa e disse:

             - Não é nada de mulher, Dalva.

            - E o que é então?  Enquanto você não falar, a coisa não vai se ajeitar.

            Dalva falou e entrou na casa, deixando ali o pobre Sebastião naquele beco sem saída. Pois se contasse a ela o que estava acontecendo, nunca mais poderia falar com os animais. De modo que triste e assaltado ali numa grande pedra que tinha no batente da porta principal da sua casa, viu quando o galo vinha pelo terreiro tocando em sua frente as suas galinhas e dizendo:

            - Vocês me esperam lá debaixo da laranjeira que vou ter um conversa com o chefe.

            De maneira que o galo falou com Sebastião:

            - Que é isso chefe, o senhor triste por causa de uma mulher, eu que dou conta de sessenta galinhas e o senhor não dá conta de uma mulher!

            Sebastião olhou para aqueles esporões velhos nos pés do galo depois que  acabou de ouvir a sua opinião dizendo:

            - Se eu fosse o senhor apanhava aquele rabo de tatu, o ensebava e ia ter um dedo de prosa com ela.

            Quando o galo terminou de dar a sua sugestão, saiu rumo às galinhas dizendo:

            - Vamos sair daqui que a coisa vai feder.

            O cachorro que estava deitado ali  perto de Sebastião, disse:

            - Eu estou com o galo.

            O gato que estava no telhado, também falou:

            - Eles têm razão chefe.

            Até mesmos as formiguinhas que estavam ali pelo chão, diziam com as suas quase inaudíveis vozes:

            - É isso ai chefe...

            Algum tempo depois, Sebastião se levantou daquela pedra e foi até a dispensa, apanhou um pedaço de sebo de carneiro e foi à casa dos arreios, lá apanhou o grande rabo de tatu e indo em seguida para o quintal passar sebo nele, esperando por Dalva vir tirar satisfações. Que essa não demorou, com o seu nariz de ciúmes em pé, disse:

            - E então meu marido, vai ou não vai me dizer o que aconteceu?

            Sebastião não quis nem mesmo responder a pergunta da sua esposa, só pegou em sua mão e por alguns minutos o grito dela se misturou com os gritos dos animais que festejavam com alegria a  continuidade do encanto.

 

FIM  

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