sábado, 29 de abril de 2023

O Porco Vermelho João Rodrigues

 O PORCO VERMELHO

 

JOÃO RODRIGUES

 

                Gritos de crianças misturavam-se misteriosamente com os sons dos carros que passavam pelas estreitas ruas de um bairro de uma pequena cidade de um grande estado brasileiro na inesquecível primavera de 1987.

                - Mara! Já está pronto o café

                - Já meu senhor!

                Nos olhos pretos de Mara parecia se esconder uma visão inesperada de que algo estava pra acontecer naquela pequena casa que fazia completar um conjunto que foi construído para abrigar uma certa classe de profissionais.

                - Filho, você quer ir com o seu pai ao sítio?

                 - Sim papai. Estou à sua inteira disposição.

                - Obrigado meu filho.

                - Não há de quê meu pai.

                Mara pondo o saboroso café numa pequena mesa de compensado na copa disse:

                - O café está na mesa Pôncio.

                - Obrigado Mara. Que Deus lhe abençoe.

                - Brígida. Chame a sua irmã pra tomar café.

                - Vamos Andressa. Mamãe nos chama.

                - Já escutei!

                - Por quê você está assentado no meu lugar?

                - O que é isso Andressa. O que tem Abel se assentar aí - relatou Mara dizendo:

                - Gostaria de que vocês fossem amigos uns dos outros!

                - Essa sua filha é muito chata mamãe.

                - Mesmo assim ela é a sua irmã Abel - informou Pôncio passando a mão na cabeça, tentando esconder a calvície com os poucos fios de cabelos já grisalhos que restaram de cada lado do seu crânio.

                - Por minha causa não teríamos nenhuma discussão.

                - Sei o que está querendo dizer Brígida - relatou Mara colocando o café na xícara com ar de muita tristeza.

                - A senhora está triste mamãe!

                Deve ser por causa do Vô Nelson Andressa - relatou Pôncio dizendo:

                - Hoje vamos ao sítio e amanhã iremos visitar o Vô Nelson.

                Mara olhou para o marido e disse:

                - Eu também devo ir ao sítio Pôncio?

                - Porque não vamos todo mundo - relatou Brígida.    

                - Já que não temos aula - informou Andressa.

                - Então podemos por o pé na estrada cambada!

                - O motorista já chegou papai?

                - Está lá fora filho.

                - Então vamos seguir - argumentou Mara se lavantando da mesa dizendo:

                - Abel. Você e suas irmãs podem colocar as coisas no carro pra sua mãe.

                Enquanto Abel, Andressa e Brígida arrumavam as coisas para o passeio, Pôncio saiu para o pequeno quintal da casa levando uma xícara de café e um pedaço de bolo para o seu fiel motorista.

                - Aqui meu filho. Tome o seu café.

                - Obrigado seu Pôncio. Estava mesmo com muita fome.

                - Algum problema na sua casa?

                - Isabel foi embora - informou o motorista comendo o bolo como se com ele engolisse um bocado de amargura.

                - Vejo que está um tanto aborrecido Miguel - relatou Pôncio olhando para as suas filhas que traziam as coisas para o carro.

                - Hoje estamos indo para o sítio seu Pôncio?

                - Sim . Vamos buscar uns animais.

                Pôncio apanhou a xícara que Miguel tomou o café e entrou na casa parecendo não ter ficado contente com o que Isabel fez com o seu motorista. Abandonando-o assim sem mais nem menos. Pois até falou para Mara:

                - Você acredita que Isabel teve a coragem de abandonar Miguel!

                - O que será que aconteceu

                - Não deve ter sido coisa simples. Miguel está muito abatido.

                - Acha que não devemos ir ao sítio com ele dirigindo o carro?

                - Não é esse o caso.

                - O que é então?

                - Temo ele voltar a beber.

                - Vamos papai - chamou Abel.

                - Já está pronto meu filho?

                 - Sim papai.

                - Abel, apanhe a minha bolsa lá dentro para mim.

                - Onde está mamãe?

                - Em cima do criado.

                Abel entrou no quarto da sua mãe para apanhar a bolsa e saiu meio assustado.

                - Algum problema meu filho?

                - Não papai. Não foi nada.

                Pôncio ficou por algum tempo  observando o filho que levava a bolsa da sua esposa e meio triste deixava demonstrar alguma coisa que de certa forma estava pairada no ar.

                - Se acha que não devemos ir, não vamos - argumentou Brígida olhando fixamente nos olhos do pai.

                - Não tem nada minha filha. Podemos ir, vamos com Deus.

                Minutos depois todos seguiam estrada afora. E naquele pequeno carro também ia a incerteza na vida de cada um.

                - Vamos nos alegrar um pouco gente - relatou Pôncio colocando uma fita para tocar no toca-fitas do carro.

                Mara no entanto tirou de dentro da sua bolsa o evangelho e o lia com o semblante carregado de mistérios. Brígida por ser a mais velha já deixava os seus olhos fitarem ao acaso talvez à procura da sua alma gêmea. O motorista dirigia o carro ouvindo a canção que parecia falar de ti com a sua Isabel. Que a essas horas poderia estar nos braços de um novo amor. Abel no entanto não tinha nada de especial, a não ser à noite quando voltasse de sítio para escutar as músicas malucas que tinha gravadas nos velhos discos de vinil. A doce e inesquecível Andressa, no entanto não tinha nada de especial para pensar, a não ser nas suas lindas bonecas que pareciam fazer o sue mundo mais bonito. O motor do carro fazia o seu papel no mundo de incertezas com o som no contato com o  asfalto. E lá nos altos picos das montanhas faziam os seus olhares compreenderem que existia algo maior do que tudo que pudessem pensar. E que esse algo estaria num lugar imaginário distante dos nossos simples raciocínios.

                - Tome muito cuidado com os carros Miguel - argumentou Pôncio meio aborrecido.

                - Pode ficar tranqüilo senhor. Ela se foi mas eu fiquei.

                Tudo parecia que Miguel não estava nem aí pra Isabel. Talvez seria uma forma de esquecer ou amenizar a dor que residia em seu coração.

                - Isabel vai voltar - relatou Pôncio olhando para o seu motorista de maneira Indutiva.

                - O senhor acha mesmo seu Pôncio?

                - Como não meu rapaz. Ela gosta de você.

                - É isso aí velho - afirmou Abel com ar de mangação.

                - Obrigado pelo velho meu filho - argumentou Pôncio acrescentando:

                - Você vai ver. Quando chegarmos em casa o recado estará na societária eletrônica.

                - Vou ficar muito contente se isso acontecer. Eu gosto muito dela. No entanto se não acontecer tudo bem. Nada posso fazer.

                Mara acabou dormindo com o evangelho em seu colo.

                - Mamãe acabou dormindo!

                - Deixe que ela durma Andressa - ordenou Pôncio dizendo.

                - Ela está muito cansada.

                - Não sei do que - relatou Abel com ironia.

                - Você não compreende meu filho. Só seu pai sabe o quanto foi difícil para sua mãe criar vocês. Foram muitas as noites de sono que ela perdeu na interminável batalha da maternidade.

                - E agradecemos com muito amor e carinho tudo que ela e o senhor fizeram por nós - relatou Brígida com compaixão e se deitando no ombro da mãe dizendo:

                - Eu amo você mãezinha.

                Brígida era a primeira filha do casal. Que como acontece com a maioria dos casais, ela foi providenciada bem antes do casamento. O que notava nela era a grande porção de beleza que Deus lhe reservou. Olhos grandes e pretos num rosto enfeitado com lábios corados e carnudos. Fazia concordar com um nariz em perfeita harmonia com a natureza. Da cabeça desciam lindos cabelos pretos como os seus lindos olhos e soltos que com o vento pousava sobre os seus lindos ombros fazendo com que Pôncio guardava para si a eterna imagem da sua Mara quando a conhecera. Pois por algum tempo Pôncio ficou olhando a filha deitada no ombro da sua mulher e disse:

                - Como você se parece com ela quando era da sua idade!

                - Já passou velho - cassou Abel.

                - Todos terão o mesmo fim filho. Você um dia conhecerá um alguém e se apaixonará. E assim se casarão e irão ter filhos e dentre eles um irá te chamar de velho a cada dia em sua vida. Você vai ver...

                - Dessa forma irei me sentir como o senhor se sente não é seu Pôncio!

                Pôncio sorriu e disse:

                - Esta é a vida. Tenho também alguma lembrança do meu pai. Olho na janela do passado e me encontro com ele. Forte, competente, saudável. Porém, mesmo assim reclamava de tudo. Reclamava da minha mãe que não o atendia como de direito. Sei que para nós os humanos sempre foram e serão assim. Tem até uma história de um homem que se perdeu em uma floresta...

                - O que aconteceu a ele papai - indagou Andressa dizendo:

                - Conte-nos a história. Conte papai.

                De modo que Pôncio resolveu contar a tal história...

                - O homem morava num pequeno povoado que existia próximo ao pé de uma grande montanha. Isso foi lá bem atrás dos nossos dias e os dias dos nossos avós.

                - Estamos esperando papai - informou Abel.

                - Pois bem meu filho. Como eu ia dizendo. Este senhor tinha a sua família e os chefes de famílias nesse referido povoado eram obrigados a caçarem para o sustento da casa.

                - Assim como o senhor

                - Não interrompa o papai Abel - ordenou Andressa dizendo:

                - Continue papai.

                - Cuidado Miguel!

                - Deixe o motorista dirigir papai, e conte a tal história - ordenou Abel.

                - O nome dele era Murilo. Tinha seu filho Mateus e sua filha Luciana que sepre estavam nos braços de Gildete que era a mãe deles.

                - Se tirar o d...

                - Abel, respeite o nosso pai - reclamou Andressa.

                - Vou me comportar irmãzinha. Continue papai.

                - Obrigado filho. Conta que o Murilo numa tarde de verão saiu para caçar como de costume.

                - Vamos lampréia.

                - Lampréia    era o quê - indagou Abel.

                - A sua cadela. A fiel companheira de caça - informou Pôncio acressentando com um ar de sentimento.

                 - Além da cadela lampréia ele tinha um clavinote papo amarelo que foi herança do seu avô que era um homem muito poderoso conhecido pelo nome de Antônio Couro Grosso.

                - Que nome estranho - argumentou Andressa assustada.

                - Fique tranquila minha filha - relatou Pôncio dizendo:

                - E ele foi mata a dentro. Logo a noite chegou . Lampréia acoou uma caça e quando Murilo se aproximou não dava pra ver de perto por ser muito fechada a mata e o rugido asustador não era como de nenhuma outra caça que já tivera caçado.

                - E que animal era - indagou Abel.

                 - Foi o que Murilo perguntou a si mesmo:

                - Meu Deus, mostre-me esta fera.

                - E bem antes de Deus atender ao pedido de Murilo a cadela Lampréia estava sendo devorada por aquela coisa horrível.

                - Que coisa pai - indagou Andressa.

                - Era o que Murilo queria saber. De modo que ele perdeu o medo e entrou assim mesmo mato a dentro para assistir o fim da sua cadela Lampréia gritando:

                 - Não sua coisa infernal, não mate a minha amiga, por favor.

                - E assim que Murilo chegou no local Deus mandou um clarão que iluminava toda a floresta, foi e que Murilo pôde ver a maldita fera devorando a cadela Lampréia.

                - E que fera era essa - indagou Abel se sentindo interessado na história.

                - Era um porco. Um grande porco vermelho. Tinha mais de dois metros de altura e uns quatro metros de comprimento. Com aquelas grandes presas que fazia uma cidade correr.

                 - E o Murilo correu papai?

                - Não Andressa. Ele disse que ao ver tamanho animal, ficou parado em silêncio se não seria ele companhia da cadela Lampréia.

                - Coitado!

                - Não fique triste meu fiho. Ele não matou Murilo.

                - O que Murilo fez para escapar do porco vermelho - indagou Andressa.

                - Chamou pelo nome de Jesus Cristo.

                - Oh! Senhor Jesus Cristo. Coloco a minha vida em suas mãos. 

                - Aí Jesus Cristo veio dos céus e o salvou!  - exclamou Andressa com ar de desconfiança.

                - Não minha querida. Murilo contou que surgiu de dentro da mata um homem misterioso e levou o porco consigo.

                - E o que aconteceu depois?

                - Murilo falou filho, que lhe caiu um sono pesado e só foi acordar em um lugar diferente.

                - Que lugar era este - indagou Abel ainda mais interessado na história.

                - Numa caverna, e uma enorme moça brincava com ele. Parecia ser filha de gigantes.

                - Como seria o nome dela - interrompeu Andressa meio perdida na história.

                - Murilo não falou minha filha. Só disse no entanto, que quando ela brincava com ele, um enorme gigante que era o seu pai lhe disse:

                - Minha filha, o que está fazendo com isso?

                - O encontrei na floresta.

                - O velho gigante furioso voltou a dizer:

                - Solte essa imundície minha filha! Esta coisa não presta pra nada.

                - O que o gigante tinha contra a gente papai - indagou Andressa revoltada.

                - Não se sabe o que era de tão ruim o que aflingia aquele pobre gigante que vivia nas montanhas chamadas Serra do Ramalho.

                - O senhor não tem nem mesmo uma idéia papai - voltou a indagar Abel.

                - Não mesmo Abel. O que nos resta é observar o que fez o gigante quando ele disse:

                - Isso é o homem minha filha. Essa raça é uma coisa ingrata. Quando o Deus deles lhes manda chuva eles reclamam, quando manda sol eles reclamam, quando manda alegria eles reclamam, nada serve para essa coisa nogenta.

                - E o que aconteceu - indagou Andressa.

                - A filha do gigante disse:

                - Então eu vou matá-lo!

                - Não filha, não faça isso - relatou o gigante dizendo:

                - O Deus deles lhes deu um grande castigo, de que eles têm que viver muitos anos e sofrerem o máximo que puderem. Contudo filha, você deve soltá-lo.

                - E assim a filha do gigante soltou o Murilo.

                - Ele voltou para o povoado papai?

                - Voltou Andressa. Voltou. Porém seria melhor que nunca tivesse voltado.

                - Por que nunca voltar - interrogou Abel.

                - Já tinha passado muito tempo. Tudo estava diferente no povoado.

                - Quanto tempo tinha se passado - indagou o motorista.

                - Uns dez anos talvez - argumentou Pôncio acressentando:

                - A mulher dele já tinha se casado com outro.

                - Então a dona Gildete não era fácil - exclamou Abel.

                - Não interrompa a história Abel - pediu Andressa dizendo:

                - Dez anos é muito tempo. Com certeza Mateus e Luciana já deviam até ter se casado.

                - Já filha. E Gildete já tinha outros dois filhos com Sebastião Rodrigues o seu novo amor.

                - E como se chamavam os filhos - indagou Miguel.

                - O menino era Murilo e a menina Marlene - continuou Pôncio dizendo:

                - Ela deve ter colocado o nome do seu marido, achando que ele estivesse morto.

                - Como pôde ele ter ficado tanto tempo fora - exclamou Andressa pensativa.

                - Acham que ele ficou desacordado na caverna do gigante.

                - E foram investigar a caverna - indagou Abel.

                - Foram meu filho. Porém para aumentar ainda mais o pesadelo do Murilo nada encontraram na Serra do Ramalho. E o mais intrigante é que dez anos depois e ele voltou com a mesma roupa que tinha ido caçar.

                - E o que aconteceu seu Pôncio?

                - Acharam que ele estava louco Miguel. E piorou ainda mais quando ele contou a história do Porco Vermelho que deverorou a cadela Lampréia. E mais assustados ficaram quando ele disse sobre o Homem Misterioso que levou o Porco Vermelho consigo.  

                - E o que aconteceu ao Murilo Papai?

                - Murilo viveu Abel. E por muito tempo vivia perdido mata a dentro à procura de descobrir o que tinha lhe acontecido. E por muitos e muitos anos ele perambulava para lá e para cá. Até que um senhor de idade avançada o convidou para morar em sua casa. Tempos depois o velho morreu e tudo que ele tinha ficou para o Murilo que ainda vivia contando a histórias para as pessoas que iam em sua casa. Pois as pessoas admiravam o gigante que conhecia mais Deus do que aqueles habitantes daquele povoado. De modo que a casa do Murilo virou uma casa de oração e o povo começou a chamá-lo de Pastor Murilo. O homem do Porco Vermelho e o Homem Misterioso.

                - Gostei muito da história Papai. Contudo gostaria de saber de uma coisa.

                - Que coisa Abel?

                - Antes da história estávamos falando de paixões.

                - O que quer saber?

                - O sertão também tinha moça bonita?

                - Era Madalena. A filha mais nova do seu Benedito.

                - Sente saudades dela Papai - indagou Andressa curiosa.

                 - Não vou dizer que não sinto minha filha. Que se eu dissesse estaria mentindo. Só que é uma saudade diferente.

                -  Diferente como papai - indagou Brígida.

                - É muito difícil de explicar filha. É um contexto de lembranças que vão se tornando num quadro enfumaçado na nossa imaginação.

                - E se o senhor encontrasse com ela assim de uma hora para outra, o que o senhor faria?

                - Não sei Abel. Não posso imaginar... Nessas alturas ela deve estar casada e quem sabe tem até filhos. Assim iguais a vocês.

                - Igual a mim não, eu não sou nenhuma brejeira.

                - Todos somos iguais Andressa...

                - Não pode ser papai. Não sou igual a nenhuma princesa. Sou apenas uma filha de um funcionário público aposentado. Veja que diferença.

                - É isso aí brejeira suburbana - relatou  Abel sorrindo.

                - É melhor ser brejeira suburbana do que ser uma capiau da roça - retrucou Andressa.

                - Ninguém escolhe o que quer ser filha - argumentou Mara.

                - A senhora não estava dormindo - indagou Brígida.

                - Só estava pensando na vida minha filha.

                - E pensando no seu pai  - informopu Pôncio.

                - Estamos chegando - argumentou Miguel.

                O sol brincava de se esconder por detrás das nuvens azuis que pareciam bailar com o vento de um lado a outro do céu.

                - Lá vem o Vicente - esclamou Abel.

                Vicente veio abrir a porteira do sítio quando avistou ao longe o carro de Pôncio.

                - Bom dia Vicente. Como vai Lúcia e Licia?

                - Estão com saúde seu Pôncio.

                - E os porcos?

                - Estão em perfeita condição.

                - Temos que abater dois deles para atender as encomendas.

                - Tem de ser agora seu Pôncio?

                - Não Vicente. Podemos fazer isso depois do almoço.

                Os filhos e a mulher de Pôncio tiraram as coisas do carro. Foram preparar o almoço, enquanto Pôncio acompanhado pelo Vicente foram dar uma revista no sítio.

                - O senhor está percebendo que o feijão já está florindo - informou o caseiro tentando agradar o patrão.

                - Como foi rápido hem Vicente!

                Pôncio falou de maneira muito distante.

                - O senhor está bem seu Pôncio?

                - Estou bem Vicente. Você pode continuar o seu trabalho que eu vou descansar um pouco.

                Pôncio meio triste voltou pra casa aonde Mara estava preparando o almoço. Mas antes de ali chegar ele parou debaixo de uma frondosa árvore que esnobava sombra e tranqüilidade. De modo que se deitou numa grande pedra que estava ali por direito de conceder a alguém em aflição, alguns momentos de reflexão e paz. E parecia que Pôncio estava  precisando.

                - Aqui estou. E quão difícil foi esta caminhada. Ainda escuto a voz do meu pai e da minha mãe. Quero agradecer a Deus por ter me dado o direito de poder constituir uma família e dar assim uma continuidade em meu sangue. Eu sinto saudades do senhor pai...

                E Pôncio ali na grande pedra pôde observar a grande quantidade de folhas que aquela árvore possuía.

                - Como é a vida. Quem diria que esta enorme árvore nasceu de uma minúscula semente.

                 Pôncio falava sozinho.

                - Onde está o seu pai Abel?

                - Foi dar uma volta no sítio mãe.

                - Vai chamá-lo para almoçar!

                Abel saiu à procura do seu pai.

                - Vicente, onde está o meu pai?

                - Não sei Abel. Já faz tempo que ele saiu.

                Abel triste e desconfiado saiu sítio afora à procura do seu pai... Não era muito grande o terreno. Se estivesse limpo com um bom varrido de olhos podia ver todas as fronteiras.

                - Que merda, onde será que esse velho se meteu!

                O jovem Abel era o segundo filho de Pôncio. Ele era o seu filho homem. Era o seu preferido.

                - Pai!

                Pôncio não ouviu o chamado do filho, pois dormia com muita tranquilidade. Porém Abel passando por ali o encontrou.

                - Papai. Mamãe está te chamendo para almoçar.

                - Obrigado filho. Venha cá. Assente um pouco aqui.

                Abel se assentou e em seguida o pai relatou:

                - Quando eu tinha a sua idade, um dia eu fui com o meu pai ao campo apanhármos uma vaca. Sei que já passava de meio dia e não tínhamos encontrado a vaca que procurávamos. Como já estávamos com muita fome e sede, resolvemos comer um pouco de farofa com rapadura que tínhamos levado em nossas mochilas.

                - E era tão grande esse campo que o senhor foi com o Vô Marques

                - Grande meu filho. Muito grande...

                Pôncio falou da grandeza da terra do pai, enquanto que o seu olhar podia ver o pequeno pedaço de terra que Deus lhe confiara.  

                - Vamos papai. Um dia o senhor será dono de uma área de terra muitas vezes maior do que as terras do seu pai. Assim como eu terei uma maior do que a sua e a dele juntas.

                - Não é esse o caso meu filho. O caso é que a gente nunca sabe do dia de amanhã.

                - O amanhã é a gente que o faz papai.

                Pôncio olhou para o filho e meio triste falo:

                - Vamos meu filho...

                Os dois seguiram para a casa aonde estava no alpendre a Brígida que olhava para o pai e de uma maneira comovente ela parecia agradecer a Deus por ter lhe dado o direito de viver na terra através dele. Pois com um largo sorriso ela disse:

                - Eu já estava com saudades papazinho...

                -  Eu também minha querida.

                - Brígida abraçou o pai e entraram para a casa aonde numa grande sala existia uma grande mesa de madeira de lei deixava que os saborosos pratos de Mara fossem servidos.

                - O cheiro faz dobrar o meu apetite - argumentou Pôncio dizendo:

                - Abel, chame Vicente e Miguel para almoçarem conosco...

                - Não vai chamar Lúcia e Lícia também Pôncio - indagou Mara se sentindo cansada.

                - Quando Vicente chegar você fala com ele.

                Pôncio assentou-se perto da esposa e depois relatou:

                - Já que estamos reunidos podemos agradecer a Deus por esta oportunidade.  Abel, poderia fazer a oração?

                - Sim papai.

                Assim que o caseiro e a sua família, e o motorista Miguel se assentaram, Abel falou:

                - Levantamos nesse instante os nossos olhos para os céus e elevamos os nossos pensamentos em Deus. Depositando de todo o nosso coração o nosso profundo agradecimento por ter nos dado o alimento para que assim possamos continuarmos em condições de agradecermos eternamente a incomparável bondade do Senhor Deus.

                Assim que Abel agradeceu a Deus pelo o alimento, todos começaram a comer.

                - E aí pai. Está melhor do que a farofa que o senhor comeu com o Vô Marques?

                - Não tem como comparar meu filho.

                -  O que não podemos comparar! - exclamou Brígida servindo a comida com alegria.

                - Deve ser mais uma história do seu pai minha filha - relatou Mara.

                - É muito gratificante uma família unida.

                - Está falando isso pra mim seu Pôncio?

                - Por causa de Isabel Miguel ou por causa da recordação que tenho do tempo do meu pai.

                - Do tempo do seu pai ou de seu tempo com ele - argumentou Mara dizendo:

                - Seu pai ainda vive o tempo dele, o seu tempo com ele é que ficou para trás. Agora vocês vivem tempos diferentes. Ele sem você e você sem ele.

                - Não estou entendendo nada dessa coisa de tempo. Sei lá. Tempo pra cá, tempo pra lá. Está dando nó nos meus pensamentos.

                - Calma Andressa. Mamãe só está querendo dizer do tempo do nossso pai com o nosso avô.

                - Isso eu entendi Abel. Só não estou achando legal essa coisa de tempo.

                - Fique tranquila minha filha - argumentou Pôncio olhando de forma muito especial para sua caçula.

                - Seu Pôncio. Vou me retirar e providenciar o abate dos animais.

                - Pode ser dois dos melhores Vicente.

                - Vamos lavar os animais quando formos ou faremos duas viagens papai?

                - Faremos uma só viagem meu filho.

                - Para quem vai ser entregue a carne sou Pôncio.

                - Umas dez pessoas mais ou menos Miguel. Está preocupado com alguma coisa

                - Nada não. É que os miolos estão aqui matutando.

                O silêncio tomou conta do momento...

                - Vamos dar uma volta no sítio Mara - convidou Pôncio com carinho à sua mulher.

                - Vamos.

                - Abel.

                - O quê pai.

                - Ajude suas irmãs a arrumarem as coisas. Pois logo estaremos com o pé na estrada.

                Pôncio saiu com Mara e logo chegaram nas hortas.

                - Os canteiros estão tão bem cuidados! - exclamou Mara se sentindo feliz.

                - É. Lúcia e Vicente são mesmo eficientes. Também vieram direto da roça pra cá!

                Quando Pôncio e Mara chegaram no viveiro das galinhas...

                - O que foi Pôncio?

                - Estou lembrando da minha mãe. Ela gosta tanto desse lugar.

                Mara sentiu que Pôncio estava com saudades da mãe. De modo que falou:

                - Está com saudades da suas mãe?

                - Um pouco. Esta noite eu sonhei com ela e a minha dindinha.

                - As duas no mesmo sonho?

                - Não. Quero dizer. Não sei. Não me lembro bem...

                Mara se calou deixando assim um clima de suspense. Pôncio passou como de costume a mão pela cabeça e com um olhar perdido no eu relatou:

                - Dindinha está querendo falar comigo.

                - Quer falar com ela, eu vou seguindo na frente. Te espero lá em casa.

                Mara se foi levando consigo alguns ovos de galinha que tinha apanhado no viveiro. Pôncio ficou ali falando com as galinhas como se fosse uma criança emburrada que estivesse querendo falar alguma coisa e ou falar com alguém alguma coisa. O rosto de Pôncio começou a ficar esbranquiçado de uma forma inexplicável. Era como se estivesse morto.

                - Dindinha onde está você!

                A mansa voz de Pôncio parecia acordar a sua madrinha que já era morta há muitos anos. De modo que ele saiu do viveiro e entrou numa moita de árvores que ele tinha reservado num canto do sítio...

                - Estou aqui minha Dindinha. Se quiser pode falar comigo. Se for que eu possa merecer esta alegria.

                Quando Pôncio olhou prum velho tronco que tinha caído por entre os galhos secos . Lá estava a sua dindinha.

                - Fale comigo Dindinha.

                Assim que aquela imagem saía do nada, refletia nos olhos de Pôncio a sua querida e inesquecível madrinha.

                - Não posso nem ver os seus olhos  hoje - indagou Pôncio dizendo:

                - Sei que não come mais a nossa comida. Mas eu comerei por você. Sei que não pode ter o que o mundo nos oferece. No entanto, o que quiser eu providenciarei para a senhora.

                Pôncio se alegrou ainda mais quando a sua eterna madrinha falou:

                - Mei filho. Tome muito cuidado com Miguel. Não deixe ele ir dirigindo o seu carro.

                - Algum problema dindinha

                - Não meu querido filho. Só quero que nada de mal aconteça a você.

                - A  senhora gostou do sítio. Esta é a primeira vez que vem aqui. Eu tenho sentido muito a sua falta.

                - Não fique triste meu filho. O seu destino é viver por muito tempo na terra. Por isso não tenha pressa.

                Pôncio se sentiu um pouco à vontade no momento que permitia o seu pensamento se alegrar. Não percebeu que a sua madrinha já tinha ido. Pois ao voltar na sua realidade...

                - Não!

                O grito foi tão alto que lá no terreiro da casa assustou a todos. De modo que Abel saiu correndo para ver o que tinha acontecido ao seu pai.

                - Pai! O senhor está bem?

                Pôncio veio saindo de dentro do mato e de forma natural falou:

                - Tudo bem com você meu filho?

                - Claro pai. Claro. Está tudo bem.

                Abel colocou a mão no ombro do pai e saíram andando até chegaram no carro.

                - Já está tudo em ordem Mara?

                - Sim Pôncio. Estamos à sua espera.

                - Ótimo. Abel, por gentileza. Peque o volante do carro.

                - E quanto a mim seu Pôncio. Não precisa mais dos meus serviços?

                - Não foi isso que eu disse Miguel. Só falei para Abel  assumir o volante.

                Pôncio era um homem muito justo e educado. Parecia ser um pouco sovina mas para quem estava de fora. Pois quem convivia com ele podia perceber que do nada ele fazia alguma coisa para poder sobreviver e ter alguma coisa para que os seus filhos não passassem necessidades no caso da sua falta inesperada. E da sua amada Mara. Uma coisa ele tinha como qualidade. Nunca deixou que faltasse na sua mesa o alimento pera os seus filhos. Era sóbrio. Nunca foi dado ao vinho e nem a bebidas alcóolicas. Ele era um exemplo de companheiro e companheirismo. Sempre foi fiel à sua companheira e nunca escondeu dos seus filhos o grande amor que sentia por  todos. Por sua vez Mara era sem dúvida a sua alma gêmea. Nunca se viu tamanha submissão e compreensão. Pôncio não gozava de uma saúde exemplar. Era portador de distúrbios digestivos e por isso lhe era muito comum crizes nervosas e às vezes lhe obrigava sem querer a determinado comportamento.

                - Já está tudo no carro mãe  - indagou Abel se posicionando ao volante.

                - Sim filho. Está tudo bem.

                - Já podemos ir pai?

                - Ainda não meu filho. Quero um copo d´água.

                - Brígida?

                - Sim mamãe.

                - Vá apanhar a água para o seu pai.

                - Com prazer mamãe.

                Brígida foi buscar a água e em silêncio todos esperavam a sua volta.

                - Aqui está papai! - exclamou Brígida entregando a água ao pai.

                Pôncio tomou a água e em seguida entregou o copo a filha e dizendo:

                - Obrigado minha filha.

                - De nada papai.

                Brígida pegou o copo e deu um beijo na face do pai e  saiu correndo pra dentro da casa levando o copo. Pôncio ficou olhando a filha e disse:

                - Como ela é linda. Ela foi um grande presente que Deus me deu.

                Andressa abraçou o pai e beijando a sua face disse:

                - Eu também devo ser bonita, não papai!

                - Sim querida, você também é muito bonita. E agradeço a Deus por ter me concedido este presente.

                Munitos depois todos estavam dentro do carro e quando passaram na porteira Pôncio falou:

                - Fique com Deus Vicente. Cuide bem do sítio.

                - Pode deixar seu Pôncio.

                A poeira cobria aquele pedaço de terra que de certa forma parecia ser um território entre a cidade e o campo.

                - Vá com muita calma meu filho - ordenou Pôncio sentindo-se obrigado a proteger a sua família. Abel no entanto, ia na maior tranquilidade.

                - Vou colocar a música de novo - informou Pôncio um pouco apreensivo.

                - Não temos mais história papai - indagou Andressa com alegria.

                - Mais por que - indagou Mara.

                - A senhora dormia enquanto o pai nos contou uma linda história.

                 Andressa foi interrompida quando o pai falou:

                - Sim. Vou lhes contar a história do homem que nunca concordou que somos humanos.

                - E o que ele achava que fôssemos?

                - Na versão dele Brígida. Dava a entender, ou melhor, ele dizia assim:

                - Você sabia que não somos humanos! Veja só. Se fôssemos humanos não teríamos o instinto de destruição do nosso planeta. No entanto, leva a crer que somos extraterrestres.

                - Então ele achava que somos extraterrestres?

                - E o pior é que ele tinha uma afirmação Andressa - relatou Pôncio dando lugar ao personagem.

                - Um certo dia eu me encontrei com um verdadeiro humano. Ele bondosamente me convidou para fazermos um inesquecível passeio. E foi uma misteriosa viagem no fundo do grande oceano pacífico.

                - Foram ao fundo do mar - indagou Brígida.

                - Sim. Ao fundo do mais profundo oceano do mundo.

                - E o que ele viu lá papai - indagou Andressa.

                - Contou que o misterioso humano o levou em uma linda construção que existia no fundo do oceano.

                - Alguma coisa em especial

                - Sim Abel - respondeu Pôncio meio triste.

                - Algum problema - indagou Mara meio apreensiva.

                - Não mulher. Está tudo bem. Pode ficar sossegada.

                - Então continue contando a história - sugeriu Mara.

                - Sim. Como eu ia dizendo. Naquele lindo lugar lá no fundo bem profundo do mar o homem maravilhava-se ao ver a enormidade de animais que ali existia.

                - Nossa!

                - Assim Andressa, exclamou o homem ao ver tamanha riqueza naquele lugar.

                - Não consigo entender como o homem, quer dizer, como o extraterrestre uma vez que não somos humanos e quem é agora na verdade o humano, é o rico senhor do fundo do mar. Como o nosso colega extraterrestre conseguiu ficar no fundo do mar - indagou Andressa desconfiada da história.

                - Ele contou minha filha. Contou emocionado...

                - Eu estava dentro de uma embarcação que andava numa velocidade muitas vezes da nossa realidade. Acho que todas as medidas de capacidade, distância, velocidade e de tudo que podemos pensar ainda era irreal ao que vi.

                - Eu devo dizer que esse homem teve um dos grandes privilégios na vida. Deve ter sido maravilhosa essa viagem.

                - Isso mesmo Brígida - relatou Pôncio dizendo:

                - Ele falou que os humanos deixaram que nós os extraterrestres fincássemos na terra uma vez que esta estava ostentando uma grande quantidade de animais gigantes os quais lhes serviam de alimento. Porém com a nossa chegada eles puderam provar um alimento melhor. Destruíram assim os animais gigantes e permitindo que ficássemos na terra.

                - Quer dizer que o homem disse que o possível humano nos mantém na terra para servirmos de alimento! - exclamou Abel.

                - Foi o que ele afirmou filho. E quanto a quantidade de animais no oceano parecia ser um robe. Pois não se serviam de nenhum sequer.

                - Por quê - indagou Brígida apreensiva.

                - Ele contou que os humanos só se alimentam de pura energia. E somos nós extraterrestres a sua energia preferida.

                - Não consigo entender - reclamou Miguel.

                - Calma Miguel - reclamou Pôncio argumentando.

                - Ele disse que o tal humano estava acima de tudo. Ele se achava dono do mundo.

                - E como o homem, quer dizer, o extraterrestre voltou - indagou Mara.

                - Ele ficou por algum tempo e depois o humano o trouxe de volta - respondeu Pôncio dizendo:

                - Filho. Depois que tirarem as coisas do carro você e Miguel vão fazer as entregas que eu vou tomar um banho. Estou um pouco cansado.

                - Está bem pai. Obrigado pela confiança em meu trabalho.

                Todos desceram do carro e as maninas pracuraram ser rápidas auxiliando Mara a tirarem as coisas do carro.

                - Tudo certo Pôncio. Pode liberar os meninos.

                - Sim Mara. Obrigado.

                Pôncio agradeceu a mulher que entrou pra casa e em seguida falou:

                - Miquel, se quiser pode tomar o volante.

                - Obrigado seu Pôncio - agradeceu Miguel acrescentando:

                - Vamos Abel.

                Os dois saíram e quando Pôncio entrou na casa Mara e as filhas arrumavam as coisas.

                - Obrigado dindinha. Por ter se lembrado de mim.

                Pôncio continuava a sua ilusão em falar com a sua madrinha morta e naquele momento foi interrompido pelo telefone.

                - Pôncio às suas ordens.

                - O senhor vende porcos - indagou alguém.

                - Sim senhor. Como algumas raças em  especial. Por exemplo o porco tuié que é o cruzamento do porco japonês com o porco bravo do sertão.

                - Não senhor. Não quero nenhuma raça de porco especial. Só me interessa na verdade é um Porco Vermelho.

                - Qual é mesmo o nome do senhor - indagou Pôncio um pouco assustado.

                - Bem. Este não é o caso. O senhor tem ou não tem um porco vermelho.

                - Tenho senhor. Eu tenho o Porco Vermelho.

                - Muito bem senhor. Há que horas eu posso apanhá-lo

                - Pode ser amanhã cedo.

                - Estamos combinados senhor Pôncio.

                O homem misterioso deslegou o telefone e nem sequer pediu o endereço.

                - Algum problema?

                - Não Mara. Foi só um cliente que ligou encomendando um porco vermelho.

                - E você vendeu o porco vermelho

                - Prometi para amanhã.

                - E o que pretende fazer?

                - Vou tomar um banho e depois que os meninos chegarem irei com eles ao sítio novamente.

                Pôncio foi tomar o seu banho e logo que Abel e Miguel chegaram...

                - Papai ainda está no banho?

                - Já terminei meu filho. Tome o seu também que temos que voltármos ao sítio.

                - Voltar ao sítio pra quê?

                - Precisamos de um porco vermelho.

                - Um porco vermelho, como o da história?

                - Sim filho. Um homem misterioso que me ligou e eu vendi o porco vermelho para ele.

                - Quer dizer que o senhor vai pintar o porco de vermelho.

                - Não sei se é certo meu filho. Contudo notei que o homem misterioso estava muito assustado.

                De maneiras que Pôncio e o seu filho foram com o motorista para o sítio atrás do porco para pintá-lo de vermelho a fim de atender ao pedido do cliente misterioso. Com isso aquela noite foi de muito sono e agonia naquela pequena casa construida num bairro afastado daquela cidade.

                - Já está próximo do amanhecer. Vamos dormir um pouco. E assim que acordármos estaremos entregando a nossa obra prima ao nosso cliente, e desta forma o ajudaremos a resolver o seu problema.

                De modo que o sono carregou aquela misteriosa família. Que de certa forma parecia viver feliz.

                - A campainha está tocando - informou Mara acordando o marido.

                Pôncio se levantou vestido ainda com a sua roupa especial de dormir e foi atender o portão.

                - É o senhor Pôncio?

                - Sim. Em pessoa.

                - Onde está o Porco Vermelho?

                - Pode entrar.

                E quando o homem misterioso viu o porco vermelho que o Pôncio tinha pintado, ficou entusiasmado e relatou:

                - Quanto devo pagar pelo porco vermelho?

                Pôncio meio sonolento e bocejando relatou:

                - É uma soma que por urgência deve compensar aos

dois lados.

                - Não consigo entender?

                Pôncio ficou por instante em silêncio e depois disse:

                - Já que o porco vermelho está em sua frente o preço é o de menos.

                O homem misterioso deu uma boa soma de dinheiro ao Pôncio e disse em seguida:

                - Não sei bem se o dinheiro é de verdade.

                Pôncio um pouco entusiasmado com aquela quantidade de dinheiro em sua mão, relatou:

                - Como é verdadeiro o dinheiro assim é o porco. Se o dinheiro perde o valor o porco também pode perder a cor.

                Sorrindo o homem misterioso se foi levando consigo o seu Porco Vermelho. Feliz por ter encontrado alguém para ajudá-lo. E Pôncio por sua vez ainda com sono fechou o portão e entrou pra sua casa murmurando.

                - Será que Isabel voltou...

                E já no seu quarto Mara perguntou:

                - Quanto ao seu cliente?

                - Ficou muito feliz Mara.

                E entregou o dinheiro a mulher...

                - Você viu isso aqui Pôncio?

                - O quê?

                - Quanto dinheiro tem. Dá até pra gente comprar uma fazenda. É muito dinheiro Pôncio.

  Pôncio dormiu e não deu atenção pro que disse a sua esposa. Mas já naquele mesmo dia a tarde ele procurava uma fazenda para comprar e assim aconteceu. Pôncio comprou uma grande fazenda e lá na entrada dela ele fez uma grande porteira e construiu um grande Porco Vermelho, uma grande estátua do Homem Misterioso. E por muitos anos ele viveu ali com as suas histórias e alegrias que dividia com quem passava por ali, talvez em busca de aventuras.

   

FIM  

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