sábado, 29 de abril de 2023

O Filho do Cão João Rodrigues

 O FILHO DO CÃO

 

JOÃO RODRIGUES

           

            Mergulhado na poeira vermelha que cobria o caminho, um pistoleiro esperava a boiada passar...

            - Muito gado hem amigo?

            - É do Coronel Nicanor.

            - E onde mora este Coronel?

            - Ele tem muitas fazendas, mas dizem que mora mesmo, é lá na cidade.

            - Que cidade?

            - Cocos, fica logo aí à frente da montanha.

            - Obrigado amigo.

            - De nada, posso saber como se chama?

            - Pode amigo, me chamam ‘O Filho do Cão’.

            - Filho do Cão! Que nome estranho - argumentava o homem enquanto observava o pistoleiro se esconder na curva do caminho.

            Cocos, perdida nas brenhas do sertão baiano, terra na qual o perigoso Coronel Nicanor mandava e que ninguém podia morar ali sem a sua permissão.

            Já na pequena cidade, o pistoleiro parou no salão da única praça onde eram realizados os desafios de vida e morte, e ali mesmo num canto, uma grande forquilha junto com outra de igual tamanho, seguravam um grande pau com pedaços de corda onde havia sido enforcado alguém.

            O pistoleiro amarrou seu cavalo e entrou no salão, ali muitos pistoleiros bebiam e jogavam cartas.

            O barulho do salto das botas do pistoleiro fez com que muitos o observassem o seu jeito marcante de andar até o balcão.

             - Poderia servir-me?

            - Não servimos estranhos - respondeu o garçom.

            - Aqui é um bar ou uma residência? - indagou o pistoleiro.

            - Não lhe interessa cara, dê o fora.

            - Não gosto de ser maltratado amigo - argumentou o pistoleiro atirando na testa do garçom.

            - Você não podia fazer isso cara - falou um homem gordo.

            - Por que não posso?

             - Eu sou o delegado da cidade e você está preso.

            O pistoleiro tentou sacar a arma, porém o delegado disse:

            - Não complique as coisas forasteiro, não quero te matar, só vou te prender, pois terá um julgamento justo, será enforcado, rá rá rá, rá rá rá...

            - Mas eu posso tomar uma bebida?

            - Bebida de bandido é cadeia pistoleiro.

            - Ninguém impede a vontade do Filho do Cão, Delegado - argumentou o pistoleiro atirando com os seus dois revólveres de uma só vez, eliminando assim o Delegado e seus ajudantes.

            Depois que o pistoleiro os eliminou, seguiu por detrás do balcão dizendo:

            - Deixe-me servir-me, uma vez que ninguém me obedece nesta cidade.

            Muitos pistoleiros depois que viram a habilidade do forasteiro, saíram assustados.

            Uma linda jovem tremia atrás do balcão...

            - Não tenha medo de mim Senhorita, eu não faço nada de mal a mulheres, eu só não gosto de pistoleiros e Coronéis, eu os odeio.

            - Quem é você?

            - Eu sou O filho do Cão.

            - Isso não é nome de gente.

            - E o que você entende ser gente garota? É viver sendo explorados pelos coronéis? Fazendo o que querem, trabalhando pra eles em troca de nada, só pra ser gente?

             - É, eu sei...

            - E você, como se chama?

            - Leila, a pobre Leila...

            - Fique com Deus Leila - argumentou o pistoleiro saindo.

            - Posso saber pra onde vai?

            - Logo saberá onde estou. Não pretendo ir embora.

            - Moço, se eu fosse você, já estaria longe deste lugar.

            - Obrigado Leila, mas vou ficar.

            Na praça haviam poucos pistoleiros que se escondiam atrás dos rústicos postes de madeira que penduravam alguns portas-tocha de azeite de mamona que iluminavam a rua nas noites escuras.

            O pistoleiro seguiu pela praça afora, e seu cavalo o acompanhou até a porta da delegacia, onde ele entrou.

            Já dentro da delegacia, o pistoleiro abriu as selas e libertou os nove presos que ali estavam, dizendo:

            - A partir de hoje nesta cidade, não terá ninguém preso enquanto eu estiver aqui, porém em troca de suas liberdades, eu gostaria que me ajudassem a resolver uns probleminhas.

            - Não estou entendendo, está muito sem briga, sem nada, de repente chega um pistoleiro soltando a gente!

             - Não se assuste amigo, procure se arrumar e, depois teremos uma reunião.

            - Arrumar o que?

            - Procurem se vestir, comer, beber, Não gosto de pistoleiros mal vestidos e sem dinheiro.

             - Mas, não temos dinheiro!

            - Por que foram presos?

            - Eu não fiz nada de mais, só matei uns homens do Coronel Macedo.

            - Matou os homens e foi preso assim sem mais nem menos?

            - O Coronel Macedo e outros Coronéis mandam nesta merda de cidade, eu tenho uma vontade de sair deste lugar.

            - E porque não sai?

            - É que a gente não tem experiência no mundo – interrompeu outro preso.

            - Ta bem, vão pra cidade, entrem nas lojas e obriguem os comerciantes a lhes entregarem roupas, revólveres e dinheiro. Há, vejam se arrumam bons cavalos, vamos precisar deles.

            - Está bem pistoleiro, mas podemos saber o seu nome?

            - Sim, sou O Filho do Cão.

            - Filho do Cão... Que nome mais estranho - argumentou um dos homens.

            Já existiam na frente da delegacia alguns pistoleiros à espera que o pistoleiro misterioso saia, porém ficaram surpresos com os prisioneiros em liberdade.

            - Onde está o pistoleiro? - perguntou um deles.

            - Estou aqui amigo - respondeu O Filho do Cão atirando no homem.

            - Por que chegou à minha cidade matando todo mundo?

            - Perguntou ao homem errado senhor - argumentou O Filho do Cão atirando no coitado.

            - Daqui a pouco não vai sobrar ninguém - argumentou Leila.

             - Fique fora disso garota, Eu vim pra  essa cidade pra me vingar e não pra amar.

            - Não estou te amando pistoleiro, só quero salvar a sua vida.

            - O que quer dizer com isso?

            - Os homens do Coronel Nicanor devem estar pra chegar.

            - Não tenho medo de nada Senhorita, de homens de ninguém.

            - Sabe que você é muito machão, nem vai me agradecer.

            - Passo mais tarde no salão, vá embora.

            Antes que O Filho do Cão terminasse de falar, a pequena Cocos ficou repleta de pistoleiros.

            - São eles, eu não disse - argumentou Leila.

            - Vá embora garota, vá - gritou o filho do cão.

            Os presos voltaram pra delegacia dizendo:

            - O que devemos fazer Filho do cão?

            - Apanhem as armas e vamos atirar.

            E em poucos minutos, a pequena delegacia estava crivada de balas.

            - Eles estão fugindo Filho do Cão. Eles estão fugindo - argumentou um dos presos sentindo-se aliviado.

            - Qual o seu nome? - Perguntou O Filho do Cão.

            - Eduardo, e aquele é Sebastião, somos cunhados.

            - Você se casou com a irmã dele?

            - Sim Filho do Cão - interrompeu Sebastião.

            - E você também tem cunhado na cadeia?

            - Não Senhor, sou solteiro, só tenho comigo uma grande dor, pois meus irmãos morreram tentando tirar o meu pai e a minha mãe das garras do Coronel Robério.

            - E que dor você sente?

            - Não igual a do José, Filho do Cão, mas sinto pior.

            - Pior do que a do João, sinto eu - argumentou outro preso chamado Lúcio.

            - Já que cada um de vocês tem uma história, eu gostaria de saber o nome dos outros quatro.

            - Eu sou o Leopoldo, este é Jacinto.

            - Eu sou o Martin.

            - E eu sou Pedro, mas pode me chamar de Rio Verde.

            - Sei Rio Verde, um bom nome.

            - É, eu ainda tenho família, são de Montalvânia, fica perto da fronteira de Minas com Bahia.

            - E porque veio pra cá?

            - Sei lá, aventuras, sempre gostei de aventuras.   

            - Já que estamos juntos, vocês podem ir as lojas fazer o que iam fazer, e podem levar as armas.

            - Então vamos pessoal - argumentou Pedro.

            - Tome cuidado com eles Rio Verde.

            - Tomarei filho do cão.

            - E de três em três os prisioneiros saíram em busca de dinheiro, e já no final da tarde, eles retornaram â delegacia.

            - Viemos felizes Filho do Cão.

            - Vejo em seus olhares Rio Verde.

            - Senhor, eu gostaria de ir com meu cunhado ver nossas esposas.

            - Podem ir Sebastião, e sejam felizes.

            - Mas nós vamos voltar - argumentou Eduardo.

            - Podem ficar a vontade, assim que eu voltar, irei procurá-los.

            - Podemos saber pra onde irá Senhor?

            - Sim, vou pra casa do Rio Verde.

            - E quanto a nós? - indagaram os outros.

            - José será o novo delegado, Jacinto e os demais serão os seus ajudantes.

            - O que devemos fazer com os pistoleiros dos Coronéis.

            - Matem os que vierem tentar alguma coisa.

             - E se os Coronéis vierem negociar com a gente.

            - Que tipo de negócio Martin?

            - Não sei, sei lá.

            - Entendo Martin, Não devemos fazer nenhum negócio com Coronéis, eles são hipócritas, são cascavéis, eles têm no sangue o maldito veneno, eles...

             - Tem que morrer - interrompeu Leopoldo.

            - Já estamos indo Filho do Cão.

            - Sejam felizes.

            Eduardo e Sebastião deixaram a delegacia para irem matar a saudade de suas famílias.

            - Cocos está mergulhada na escuridão.

            - É Rio Verde, vamos dar uma olhada no salão.

             - Vai ver a Leila Senhor?

            - Sim Martin.

            - Podemos ir com o Senhor?

            - Podem, pois logo estarei de partida.

            Quando os oito pistoleiros entraram no salão, estavam assentados nas mesas alguns homens do Coronel Nicanor.

            - Não quero ver nenhum pistoleiro do Coronel Nicanor nesta cidade - gritou o Filho do Cão.

            Em poucos minutos não havia ninguém no salão, a não ser os oito.

            - Por que chegou a esta cidade se comportando assim amigo?

             - Posso saber quem está falando?

            - Sou o prefeito da cidade pistoleiro.

            - Pode me chamar de, O Filho do Cão Senhor.

            - Filho do Cão! Por que este nome ridículo?

             - Não vejo nada de ridículo Senhor, e o seu nome, qual é?

            - José Mota.

            - Está bem Senhor Mota, José, você que é o delegado, por favor, prenda o prefeito pra que ele não fique por ai protegendo os Coronéis.

            - Você não pode fazer isso Filho do Cão.

            - Não tenho tempo pra falar com o Senhor prefeito. Quando eu voltar, se o Senhor ainda estiver vivo, falaremos.

            - Está indo pra onde?  -     indagou Leila.

            - Estou indo pra casa do Pedro.

            - E porque está prendendo o prefeito?

            - Direi quando voltar.         

             - Vou estar te esperando.

            Na escuridão, até mesmo os cavalos confundiam o caminho de Montalvânia, mas, Pedro, o Filho do Cão o seguiam comentando:

            - Sabe Rio Verde, estou pensando como um homem furioso em busca da vingança é capaz de fazer coisas inacreditáveis.

            - Por quê diz estas coisas Senhor?

            - Este dia glorioso que passei.

            - Entendo Senhor, mas só não entendo o  por que de  tudo isso.

            - Logo você saberá Rio Verde, a hora vai chegar.

            - Mas, uma coisa eu gostaria de saber, de onde o Senhor veio?

            - Eu não vim Rio Verde, apenas estive uns anos fora, no caminho de Caribe eu encontrei uma boiada e um homem me disse que era do Coronel Nicanor e que este Coronel morava na cidade, fiz o que fiz e o homem não  apareceu.

            - Gostaria que ele aparecesse?

            - Não sei se seria bom.

            - Os homens dele foram os que matamos um bando.

            - Eu sei! A Leila me falou, mas, o velho mesmo não apareceu.

            - Sei Senhor, ele mora na cidade, ainda era dia quando o Senhor chegou, deu pra ver do lado sul, uma torre de igreja?

            - Lembro o que tem a ver?

            - Ele é o dono da igreja, fica dentro de uma de suas fazendas.

             - Então o velho imundo mora lá.

            - Sim, fui preso por um dos homens do Coronel Nicanor.

            - Você sabe na verdade quantos são os Coronéis Rio Verde?

            - Não Senhor.

            - Sabe Rio Verde, eu não estou gostando de ser chamado de Senhor.

            - Mas, que nome eu devo falar a não ser o Filho do Cão?

            - Eu tenho nome Rio Verde, mas Filho do Cão é o meu apelido.

            - E qual o seu nome?

            - Sou o Iran, o pobre Iran Pereira.

            - Por que o pobre Iran Pereira?

             - Você ainda saberá o porquê...

            - Entendo Iran.

            A lua aparecia sobre a floresta do sertão baiano, O filho do cão seguia com o Rio Verde já aproximando de Minas Gerais.

            - Rio Verde, acho que seria bom dormir por aqui.

            - Deixe chegar ao rio Carinhanha, tem um bom lugar.

             Logo chegaram à margem do rio Carinhanha onde fizeram um pouso, amarrando os pés dos cavalos pra não irem muito longe enquanto pastavam.

            - Os cavalos não irão muito longe, apesar de estar perto de o dia amanhecer, mas ainda dá pra gente dormir um pouco.

            - Por que estamos andando a noite?

            - Se esqueceu que somos fugitivos, Rio Verde, nós somos fora da lei.

            - Que lei que nada Iran, os Coronéis é que vivem fora da lei.

            - Nem sei mais quem é  que está certo Rio Verde.

            A brisa fria da madrugada pousava sobre a relva, de longe se ouvia os dentes dos cavalos triturando o capim seco.

            - Leila é uma linda garota, não acha Rio Verde?  

            - É Iran, tem mulher mais bonita que Leila, e na verdade ninguém sabe de onde ela veio.

            - E de quem é o bar?

            - Seu Miro, ele está pra Carinhanha.

            - Foi com a família?

            - Sim, a esposa e uma filha.

            - E é bonita.

            - Uma linda morena, se chama Vera.

             - Vera! Deve ser apelidada de Verinha.

            - Isso mesmo.

            Os dois pistoleiros falavam até que adormeceram sobre os couros do lado da fogueira que tinham acendido.

             - Acho que é hora de irmos garoto.

            - Você já apanhou os cavalos Iran?

            - Afinal, se esqueceu que sou O Filho do Cão garoto?

            - Não, só esperei que me chamasse.

            - Ta bom, na próxima eu vou te chamar.

            - Pedro foi ao rio e levemente jogou água no rosto dizendo:

             - Como é linda a liberdade Iran! Veja como os peixes, aves e insetos vivem livres...

            - Eles vivem outro mundo Rio Verde, e é bem diferente do nosso.

             - Mas, será que eles amam, matam...

            - Sim Rio Verde, eles amam, matam, fazem tudo que fazemos só que vivem na liberdade, nós é que nos prendemos em besteiras, idiotices e os Coronéis criam as suas leis pra nos tirar o direito de sermos livres, por isso Rio Verde, é que sou hoje O Filho do Cão.

            Falando de liberdade os dois pistoleiros seguiam em direção a Montalvânia.

            - Seu pai mora na cidade Rio Verde?

            - Não Iran, é numa pequena fazenda bem perto.

            - Tem muitos irmãos?

            - São nove, Iran, três moças e o resto rapazes.

            - Sua mãe ainda é nova?

            - Não muito, já está um pouco madura.

            - A minha também está.

            - Olhe Iran, como a mata ficou diferente depois que atravessamos o rio.

            - Por que é Minas! A terra de Minas Gerais é mesmo melhor do que a da Bahia.

            - Só nesta região da Bahia Rio Verde, mas tem lugares melhores.

            - Meu pai já me falou.

            - Seu pai veio de onde?

            - Pernambuco, ele disse pra gente.

            - E sua mãe?

            - Nunca quis nos dizer.

            Assim O Filho do Cão seguia com Pedro em destino a fazenda Cochá, onde iria encontrar uma família que seria a primeira na sua caminhada para a vingança, que veio fazer em Cocos.

            - Iran, eu não compreendo o que veio fazer.

            - Resolver alguns probleminhas Rio Verde, aos poucos você irá descobrir porque o Iran Pereira se chama O Filho do Cão.

            O  sol já passava do meio dia, os dois cavaleiros chegaram na fazenda do Senhor Paulo Gomes.

            - Estamos chegando Iran, lá está minha mãe estendendo roupa no terreiro.

            - Muito bonito este lugar Rio Verde.

            - Meu pai disse um dia que aqui seria palco de luta, pois muitos gostam deste lugar.

            Iran olhou para um canto do curral, e sentiu que ali tinha acontecido alguma coisa, pois sentiu vestígios de morte.

            - Vejo algo estranho aqui Pedro.

            - Deve ser sua impressão.

             - É, pode ser...

            Quando a Senhora Olga viu o filho aproximando da casa, saiu correndo ao seu encontro chorando e dizendo:  

            - Pedro, ainda bem que sobrou você meu filho...

            - O que foi mãe, pra que chorar?

            - É duro meu filho, é muito duro agüentar a dor...

            Pedro abraçou a mãe e deixou que as lágrimas dela banhassem a sua camisa dizendo:

            - O que foi que aconteceu mãe?

             - Luta filho, perdemos quase todos dos nossos.

            - Não fique assim mãe, vamos conseguir um jeito de vingar.

            - E quem é este rapaz?

             - Sou O Filho do Cão Senhora, mas pode me chamar de Iran.

            - Ele disse Filho do Cão Pedro.

            - Sim mãe, é o nome dele quando está lutando.

            Tirou-me da cadeia e depois se prontificou a vir pra cá, como se soubesse que a Senhora estivesse em perigo.

            - Por que tirou o meu filho da cadeia moço?

             - Não foi só ele que tirei Senhora.

            - Ele tirou todos mãe.

            - E qual sua intenção de tirar todos da cadeia:

             - Porque acho Senhora, que eles são inocentes, pois cadeia não foi feita pra inocentes e sim para Coronéis assassinos.

            - Tem alguma coisa contra os Coronéis?

            - Tenho Senhora, e por acaso a Senhora conhece alguém que não tenha!

            - É, isso é verdade - concordou a Senhora Olga dizendo:

            - Vamos entrar Iran, e não repare a casa humilde.

            Quando Iran acompanhou Pedro e a mãe e que entraram na casa, encontraram ali a Rosa assentada num banco.

            - Pedro meu irmão! - Exclamou Rosa.

            - Rosa, o que está fazendo aí?

            - Ela ficou assim desde o dia em que os homens do Coronel Lino nos atacaram.

            - O que foi Rosa? - indagou Pedro.

            - Não sei meu irmão, Não tive nada, mas não consigo andar.

            Iran ficou olhando a beleza de Rosa e querendo ajudá-la falou:

            - Meu nome é Iran, mas se quiser pode me chamar de O Filho do Cão.

            - O meu nome é Rosa, mas pode me chamar de Flor da Serra.

            - Sei, Flor da Serra, não seria bom andar um pouco, eu não vou deixar nada lhe acontecer.

            - Não consigo me levantar.

             Iran estendeu a mão pra Flor da Serra e ela então se levantou.

            - Mãe, eu, sou eu, um milagre.

            E Rosa se vendo de pé, não conteve a alegria e se atirou nos braços de Iran dizendo:

            - Sou sua, Filho do Cão, sou sua pra o que quiser.

            - Vamos deixar os dois sozinhos mãe - argumentou Pedro.

            A  Senhora Olga e Pedro  foram pros fundos da casa onde falaram dos acontecimentos e Iran saiu com Rosa para o terreiro onde estavam os cavalos.

            - Iran, onde encontrou Pedro?

            - Na cadeia, em Cocos.

             - Você é de Cocos?

            - Nasci lá, mas ainda criancinha fui pra Correntina com minha mãe.

            - E seu pai, onde ficou uma vez que você se foi com sua mãe?

            - Ainda não posso falar o que foi que aconteceu querida, mas assim que puder eu lhe direi.

            - Compreendo Iran, eu sou mesmo uma pessoa que quer saber o que não deve. 

            O sol já começava a se esconder nas árvores que tinha nos fundos da casa do Senhor Paulo Gomes.

            - Vem vindo alguém Rosa - argumentou Pedro.

            -  É o pai e Luiz, o único irmão que sobrou na desgraça.

            - Coronel Lino - argumentou Iran.

            - Sim Iran, foi este desgraçado.

            Os quatro saíram pro terreiro pra receber os chegantes.

            - Boa tarde gente! - falou o Senhor Paulo Gomes olhando meio desconfiado pro homem que se punha ao lado da filha.

            - Você melhorou Rosa? - indagou o Senhor Paulo Gomes.

            - Foi o Iran pai, ele me fez andar.

            - Quem é Iran?

            - Sou eu Senhor, mas se quiser pode me chamar de O Filho do Cão.

            - Filho do Cão, que nome estranho - argumentou Luiz dando a mão a Iran e dizendo:

            - Eu sou Luiz, mas pode me chamar de nuvem escura.

            - Nuvem escura, foi você que sobrou da desgraça?

             - Foi Filho do Cão, só eu dos homens.

            - E eu das mulheres - interrompeu Rosa.

            - E o que devemos fazer com o Coronel Lino? - indagou Pedro ao irmão.

            - Precisávamos de você mano, quando tudo aconteceu, mas você se foi e nem sequer deu notícias.

            - Estava preso, ia ser condenado a forca pelo Coronel Nicanor.

            - Em todos os lugares da terra existem Coronéis - argumentou o Senhor Paulo Gomes. 

            - Vamos entrar - retrucou a Senhora Olga.

            - Já que estamos reunidos, gostaria de discutir um plano para acabarmos com o Coronel Lino.

            - Você chegou animado filho.

            - Devo vingar a morte de meus irmãos pai.

            - Irei com você Rio Verde - interrompeu Iran.

            - Eu também  - acrescentou Luiz

            - Ficarei cuidando da família - continuou o Senhor Paulo Gomes.

            - Onde fica a fazenda do Coronel Lino? - indagou Iran.

            - Fica perto do Vale do Cochá, poucos quilômetros no eixo da serra.

            - Pois estes poucos quilômetros que existem será o caminho da sangrenta batalha que vamos travar contra o Coronel Lino.

            - Mas esta briga é minha e não sua Filho do Cão.

             Iran olhando pra Rosa respondeu:

            - Somos praticamente irmãos Rio Verde.

            - Começaremos amanhã - argumentou Luiz.

            - Quando a brisa noturna estiver caindo sobre o pó do caminho, quero colocar os cavalos a caminho da fazenda do Coronel Lino.

            - Irei com vocês Iran.

            - Não podemos levar você e nem seus pais Rosa. Iremos a três e só nós seremos capazes de acabar com este coronelzinho.

            - Não vai ser fácil - argumentou o Senhor Paulo Gomes.

            - Não tenha medo Senhor, onde O Filho do Cão ainda, ninguém consegue se livrar das suas balas...

            - Já perdeu alguma luta Iran?

            - Não Flor da Serra, desde quando comecei a lutar, só encontrei vitória, pois luto pra vingar, e quem luta pra vingar por uma causa justa, nunca perde uma batalha.

            - E qual é esta causa que você luta Iran?

            - Isso eu gostaria por enquanto, de deixar em segredo Senhora Olga.

            - E quanto a esta que vai enfrentar.

            - Esta é nossa Rio Verde.

            - Então vamos andando Nuvem Escura.

            - Estou pronto meu irmão. Antes do amanhecer, quero dizer ao Coronel Lino como manda matar seres humanos como se fosse um animal qualquer...

            - Mas, antes de vocês irem meus filhos, vou preparar um jantar, pois quero que esta noite seja inesquecível pra mim.

            - O que você quer comemorar de tão especial assim Olga? - indagou o Senhor Paulo Gomes com um olhar de ternura.

            - Meus queridos não estão aqui pra podermos festejar, mas sobraram três e ganhei mais um.

            Iran olhou pro Senhor Paulo Gomes que lhe olhava com um jeito estranho e ficou imaginando como seria ter um pai, pois na verdade ele tinha vontade, porque desde criança assistia a sua mãe procurar esconder o mistério que lhe fez vir ao mundo...

            - O que está pensando Filho do Cão?

            - Nada de especial Rio Verde.

            No entanto, o Senhor Paulo Gomes olhava o filho do cão de maneira estranha dizendo:

            - Filho do Cão, nunca pensei que um dia eu teria em minha casa assentado em minha mesa um homem com um nome tão estranho e depois de ter curado minha filha, a única sobrevivente de uma tragédia.

            - Pro Senhor ver Senhor Paulo Gomes, eu tenho um apelido estranho.

            -E não é tão estranho pai.

             - Você não acha filha?

            - Sim pai, eu gostaria de me namorar com ele.

            - E sabe se ele quer filha - Argumentou Dona Olga.

            - Eu gostaria Senhora - relatou Iran abraçando Rosa.

            - Mas é hora do jantar.

            Iran assentou-se ao lado de Rosa, o Senhor Paulo Gomes ao lado de Dona Olga e nas cabeceiras da mesa, de um lado Luiz e do outro Pedro.

            - Vamos brindar ao novo casal.

            - Gostaria que fosse verdade Pedro.

            - Pois pode ser verdade Senhor Paulo Gomes, se tudo der certo na minha vingança, vou me casar com Rosa.

             - E pra onde vai levar a minha filha?

            - Isto ainda não posso responder Senhor, mas com certeza, deverá ser bem longe deste lugar, quero viver onde não ouvirei ninguém falar em Cocos e Montalvânia.

            - Quando temos algum problema filho, onde formos ele irá com a gente.

             - Por quê diz isso Senhor?

            - Já faz tempo, mas, recordo-me de quando perdi meus pais em Pernambuco. Ainda era garoto, sai pro  mundo pra não ver ninguém Dalí, mas carrego dentro de mim a vontade de vingar a morte deles.

            - E nunca teve coragem Senhor?

            - É a vida filho, é vaga e cheia de incertezas, eu cresci e quando fui trabalhar pro Coronel Marcos Santos, me apaixonei por sua filha, assim como você está pela minha.    

            - E acabou me roubando - interrompeu Dona Olga.

            - Guardaram este segredo tanto tempo! - exclamou Pedro.

            - Então a Senhora é filha de Coronel mãe? - indagou Luiz.

            - Sim filho, vocês são netos de Coronel.

            - E pelo que vejo Senhor, o Senhor nunca mais teve notícias de ninguém.

            - Nunca, nem sei se os dois Coronéis ainda estão vivos.

            - Depois que vingarmos a morte dos seus filhos Senhor e se o Senhor quiser, iremos acabar com o Coronel de Pernambuco.

            - E quanto ao meu pai, eu tenho vontade de fazer as pazes com ele.

            - Sei Olga, do jeito que a vida está indo qualquer dia eu quero ir com você pro seu pai te ver.

            - Seria melhor irmos primeiro dar uma investigada na vida do velho e saber se ele procura pela Senhora mãe! - exclamou Pedro.

            - Eu também acho - confirmou Luiz.

            - E quanto ao Coronel lá de Pernambuco Senhor Paulo Gomes, se lembra do nome?

            - Gusmão Filho de Sertãozinho, deve estar muito velho.

            - Gusmão filho de Sertãozinho e o Coronel Marcos Santos?

             - Pilão Arcado na Bahia - interrompeu a dona Olga.

            - E o Senhor sabe por que o Coronel Lino mandou atacar o Senhor, não seria mandado por um desses Coronéis!

             - Não Iran, o Coronel Lino está atacando todos nesta região, dizem que ele quer desocupar estas terras pra fazer uma criação de cavalos.

            - Criação de cavalos...

             - É o que falam.                 

            Iran ficou por uns instantes calado e depois disse:

            - Nuvem Escura e Rio Verde, preparem as armas, sinto que tem alguém por perto.

            Antes do Filho do Cão fechar a boca, já se ouviam tiros e cavalos relinchando.

            - São os homens do Coronel Lino - gritou o Senhor Paulo Gomes.

            Cada um procurou se entrincheirar como pôde e balas cortava as paredes da velha casa.

            - Tome cuidado Nuvem Escura - gritou Iran atirando no pistoleiro que descia pelo telhado matando Nuvem Escura.

            - Meu irmão! - gritou Rosa saindo para o terreiro atirando nos pistoleiros com o revólver do Luiz.

            - Rosa, calma minha filha - gritou dona Olga correndo atrás da filha.

            - Não faça isso Olga - gritou o Senhor Paulo Gomes correndo atrás da mulher e da filha.

            - Atenção, todos parados - gritou um homem de voz grossa.

            Rosa e a mãe ficaram paradas no meio do terreiro apenas iluminadas pelas chamas que se formava no telhado.

            - Fale o que quer da gente desgraçado – gritou o Senhor Paulo Gomes.

            - Desgraçado não amigo, eu sou o Coronel Lino - argumentou o Coronel atirando no Senhor Paulo Gomes.

            - Vamos acabar com todos Rio Verde - gritou o Filho do Cão.

            E os dois pistoleiros pularam no terreiro e dentro de poucos minutos os pistoleiros do Coronel estavam estirados no chão, e o Filho do Cão, com o seu revólver no ouvido do Coronel dizendo:

            - Então o Senhor quer criar cavalos hem Coronel?

            - Você atira muito rápido pistoleiro, quanto quer pra trabalhar pra mim?

            - Eu não trabalho pra Coronel, eu sou o Filho do Cão.

            - Mate logo este desgraçado Iran - gritou Rosa atirando no Coronel e caindo ao mesmo tempo.

            Iran correu ao encontro dela que morria e dizia:

            - Faça o gosto do meu pai Iran, e procure encontrar o pai de minha mãe, conte pra ele que só sobrou Rio Verde.

            Iran beijou Rosa e sentia que ela acabava de morrer.

            - Ela deve ter levado um tiro quando saía pela porta - murmurou Iran olhando o amigo arrastando a mãe até onde estava o pai.

            - Vamos Rio Verde, deixe que alguém os enterre ou os urubus os devoram, aqui não tem nada que me interessa.

            - Pra onde devemos ir?

            - Pilão Arcado, à procura do Coronel Marcos Santos.

            - E Cocos, a sua vingança, vai deixar só porque uma pobre mocinha lhe pediu?

            - Era sua irmã Rio Verde, ela gostava de mim, éramos namorados, se esqueceu? E depois que resolvermos isso, voltaremos pra fazer a vingança em Cocos.

            Depois de meses de viagem às margens do Rio São Francisco, os pés dos cavalos rolavam pela areia fofa num composto de sofrimento, onde aqui e acolá se encontravam com os moradores em pequenas aldeias onde índios se misturavam com brancos, mestiços e outros pobres seres que foram condenados a viverem ali, sendo escravizados pelos colonizadores.

             - Senhor, os nossos cavalos já estão magros, seria possível alugarmos um pasto e ficarmos por uns quinze dias?

            - Pode pistoleiro, mas com o pagamento adiantado, e uma pergunta, de onde vieram?

            - Iran ficou instantes parado sem responder o homem, perdido no olhar de uma morena que ia chegando acompanhada de uma Senhora.

            - Eu sou O Filho do Cão Senhor, este é meu amigo Rio Verde.

            O homem meio pasmo com o que ouviu, disse:

            - Lá onde você nasceu pistoleiro, as pessoas têm estes nomes estranhos?

            - O meu nome verdadeiro Senhor, é Iran e o dele é Pedro.

            - Pedro de quê? - indagou a Senhora.

            - Pedro Gomes Senhora - respondeu o Pedro educadamente.

            - E o Senhor como se chama? - indagou Pedro.

            - Sou Urano Matos, esta é minha filha Dina Matos e a minha Senhora, Mercês Matos.

            - Família Matos - argumentou Iran.

            - Sim Iran, família Matos.

            Entre os olhos de Dina e os de Iran ficaram entrelaçados os de Pedro, mas a Senhora Mercês percebendo a situação argumentou:

            - Podem ficar à vontade rapazes, vamos minha filha.

            Dina seguiu a mãe, levando consigo o olhar sereno de Iran e o jeito assustado de Pedro.

            - Dois rapazes atraentes mãe, o que será que vivem fazendo...

            O velho percebendo o estranho jeito que os rapazes ficaram no tocante a garota relatou:

            - Sabe Iran, eu vivo nesta casa a alguns anos, nunca vi dois rapazes como vocês, sinto que são pessoas boas, vamos colocar os seus cavalos no pasto, colocaremos nesta roça mais nova, o capim é muito bom, os seus cavalos irão recuperar, pois sinto que vocês estão indo atrás de uma missão.

            - Vamos à procura do Coronel Marcos Santos.

            - Coronel Marcos Santos.

            - Disse a minha mãe que era em Pilão Arcado.

            - Pilão Arcado Pedro, não está muito longe, poderão ir em meus cavalos.

            - O Senhor nos empresta os seus cavalos, nós podemos comprar, mas na verdade queremos mesmo é descansar.

            - Como quiser Iran - respondeu o velho.

            - Iran começou a ficar cismado com a generosidade do Urano Matos, porém não deixou que o velho percebesse.

            - Não vamos dispensar a sua bondade Senhor - argumentou Pedro se sentindo interessado.

            - Pedro  na verdade queria se aproximar de Dina, enquanto Iran sentia que existia alguma coisa errada.

            - O Senhor não tem filho? - indagou Iran.

            - Não Filho do Cão, mas eu tive, eram seis, morreram lutando.

            - Lutando contra quem Senhor? Interrompeu Pedro.

            - Este Coronel que vocês estão à procura dele.

            - É muita coincidência Senhor - acrescentou Iran.

            - Se forem vingar alguma coisa, ficarei contente, pois assim farão o serviço pra mim.

            - Iremos cumprir uma promessa Senhor.

            - Uma promessa Iran, relatou o velho olhando nos olhos do rapaz como se estivesse pedindo alguma coisa.

            - Sinto que o Senhor ficou triste.

            - Sim Pedro, e posso saber a promessa?

            - Pode Senhor, foi apenas um pedido que a minha irmã fez antes de morrer.

            - É um pedido de Flor da Serra.

            - Quem era Flor da Serra? - indagou o velho entrando na casa.

            - Minha irmã, Senhor.

            - Gostava dela, não, Iran?

            - Sim, Senhor, salvei a vida dela e depois a vi morrer em meus braços.

            - Era uma linda moça, não?

            - Sim Senhor, muito bonita - respondeu Iran, olhando os cabelos de Dina, ternamente.

            - Falam de pessoas como se fossem amigos - argumentou Dina.

            - Somos amigos Senhorita, somos todos de um só lado.

            - Não estou entendendo Iran.

            - Ele fala filha, que estamos no mesmo barco, vivem em busca de vingança e o homem que eles procuram é o que matou os seus irmãos.

            - Coronel Marcos Santos?

            - Sim Dina, porém não procuramos o Coronel pra matar e sim para dar um recado da Senhora Olga.

            - Olga, então você é filho de Olga - interrompeu a Senhora Mercês, surpresa.

            - Conheceu a minha mãe Senhora?

            - Sim Pedro, eu a ajudei a fugir com um forasteiro, não me lembro mais o nome dele, me parece que tinha mesmo esse Gomes, ah! Lembro-me, era Paulo Gomes, um forasteiro de Pernambuco.

             - Pedro abraçou a velha dizendo:

            - Só eu fiquei vivo Senhora, na desgraça que aconteceu.

            - Você perdeu o seu lar filho, mas pode contar com o meu você está em sua casa, você substituirá os filhos que perdi.

            - Mas quanto à vingança?

            - Sim filho, iremos vingar, pois o seu avô nunca gostou mesmo de sua mãe e nem de mim, acho que acabou com os  meus filhos porque eu ajudei a sua mãe a fugir.

            Pedro ficou assustado com tanta coincidência que relatou:

            - Gostaria de falar com este Coronel Senhora.

            - De tão ordinário que ele é filho, lhe matará sem perdão.

            - Eu acho que como Mercês está falando Pedro, você veio ao mundo pra acabar com o Coronel, pois, foi o que a sua mãe mandou pra ele.

            - Pode ser Senhor - confirmou Pedro cabisbaixo olhando de fininho pra Diva.

            - O que você acha Iran? - indagou Dina.

            - Pelo que estou vendo Senhorita, eu não tenho direito de entrar na briga, uma vez que ficou tão familiar!

            - Pedro olhou pra Iran e disse:

            - Filho do Cão, você veio de não sei onde, surgiu na cidade acabando com o delegado e soltando prisioneiros dentre eles, eu, depois veio pra minha casa, gostou de minha irmã e agora veio pra Pilão Arcado, estamos aqui, descobrimos que quem procuramos matou os filhos de quem ajudou a mãe de quem você gostou, agora não quer me ajudar!

             - Mas, ajudar em quê Rio Verde?

            - Acabar com o Coronel Marcos Santos.

            - Mas, vai lutar contra o seu avô.

            - Sim Filho do Cão, contra o meu avô.

            - Iran olhou pra expressão de Dina e argumentou:

            - Ajudarei amigo, pois sinto que estamos distante de minha terra, e que ainda temos que cumprir o intento do velho Paulo Gomes.

            - Gostaria de vencermos o Coronel Marcos Santos, assim irei com vocês pra Pernambuco.

            - O Senhor já está cansado pai, esta viagem é muito longa.

            - Acho que Dina tem razão velho - argumentou Dona Mercês.

            - O homem não tem idade, ainda que esteja velho, mas sempre terá vontade de acabar com as coisas más.

            - Pois é pai, o Senhor morre e as coisas más ficam aí, sabe pai, eu acho que estas coisas nunca vão acabar.

            - Mesmo que Dina tenha razão Senhor Urano, eu ainda estou do seu lado, pois a dor que carrego comigo é tão grande que até hoje não concordo sobre o fato de eu não ter pai, por isso vivo amargurado, me encontrando a cada dia com a vontade de poder dizer algo que me faz viver intrigado,  a uma pessoa.

             - E que coisa estranha é essa Iran? - indagou Dina.

            - Em tristeza Senhorita, os meus pensamentos vivem a cada dia fazendo que muitos sem mesmo querer sofram com isso, pois nascer e crescer do lado de uma mãe que nunca teve a possível condição de me falar quem era o meu pai.

            - E até hoje não se sabe quem é o seu pai Iran?- indagou a Senhora Mercês.

            - Depois de muitos anos Senhora, é que apanhei minha mãe fazendo uma oração.

             - E que oração foi essa? - interrompeu Dina.

            - Ela chorava e dizia: (Senhor, ó meu Deus, me dê forças para que Iran nunca saiba o meu segredo) e quando eu me aproximei, senti que as suas lágrimas banhavam o seu rosto e a sua expressão era de uma cadela.

            - Por isso se apelidou de O Filho do Cão? - interrompeu o Senhor Urano.

            - Não Senhor, eu vendo aquela expressão estranha, obriguei a minha mãe a me confessar.

            - E o que ela te confessou? - perguntou a Senhora Mercês.

            - Pediu pra guardar um segredo dizendo que se um dia eu prendesse o homem que a violentou, ela contaria com a sua própria voz, porque me apelidou de O Filho do Cão.

            - Por isso não quer nos dizer - interrompeu Pedro.

            - Sim amigo, só por isso.

            E a noite se fechava na pequena fazenda, nas proximidades do arraial Cruz de Ferro, perto de Pilão Arcado, por nome de Porteira Velha, onde o Senhor Urano festejava a vingança de seus filhos e por outro lado hospedando em sua própria casa um neto do seu inimigo.

            - Já faz dez dias que estamos aqui Pedro, e você com este namoro escandaloso nem sequer pensa em cumprir a vontade de sua mãe.

            - Eu não gostaria de fazer nada contra meu avô Iran, pois, é a única pessoa que vive por mim, quem sabe um dia irei precisar de sua ajuda.

            - Darei poucos minutos para me ver nesta casa, pois, não tolero ver e ouvir o seu plano sabe Rio Verde, você está traindo o pobre velho e a Senhora Mercês e eu não gosto de traição.

            - Então vai embora?

            - Sim, lhe deixarei no seu paraíso, pois O  Filho do Cão não merece esta vida.

            - E vai voltar pra Cocos?

            - Não, irei até Pilão Arcado dar o recado de sua mãe, depois irei em Pernambuco fazer a vingança do Senhor Paulo Gomes, vou matar o Coronel Gusmão Filho.

            Enquanto os dois pistoleiros falavam a linda Dina se aproximou dizendo:

            - Posso saber o que estão falando?

            Iran não quis respondê-la, deixando transparecer que algo não estava indo bem.

            - Não é nada não querida - argumentou Rio Verde enquanto Iran saiu de mansinho indo em direção ao curral.

            - Iran está estranho, o que será que lhe aconteceu?

            - Disse que vai embora.

            - Embora, e quanto a vingança e o recado de sua mãe.

            - Disse que vai dar.

            - E você não vai com ele?

            - Não querida, sinto que depois que o recado for dado ao Coronel, ele virá aqui, e assim acabarei com o velho, e nós quatro ficaremos livres para sempre.

            - Por minha causa vai abandonar o seu amigo?

            - Sim, ele é um homem muito estranho, nós não íamos viver muito juntos mesmo, eu já pretendia romper a amizade com ele.

            - E por que não rompeu?

            - Eu precisava de um motivo que justificasse, e com a nossa união tudo ficou mais fácil.

            - Rio Verde, pra onde foi Iran?

            - Foi apanhar o seu cavalo Senhor Urano.

            - E o seu, ele vai trazer também?

            - Não Senhor, eu não vou embora, quero me casar com Dina.

            - Casar com Dina, e o Coronel Marcos Santos?

            - Depois que Iran der o recado de minha mãe, ele virá me procurar, assim armarei uma cilada e acabarei com o velho.   

             - Se você acha que vai dar certo, tudo bem, e quanto ao  Iran, vai ficar?

            - Não Senhor, disse que vai pra Sertãozinho, acabar com o Coronel Gusmão Filho.

            - Então você vai se separar de Iran? - argumentou a Senhora Mercês.

            - Sim Senhora, só quero viver com meu amor e cuidar dos meus segundos pais.

            - Alegre e ao mesmo tempo triste, a Senhora Mercês abraçou Pedro dizendo:

            - Deus que nos ajude meu filho, foram tantos anos de sofrimento.

            - Fique calma Senhora que vai dar certo.

            - Iran vinha chegando com o seu cavalo, e logo depois de arreá-lo meio triste disse:

            - Nunca pensei que o amor fosse tão importante Rio Verde, eu gostaria que fosse comigo, mas como gostei tanto de sua irmã, compreendo o que está sentindo, o que na verdade eu tenho a dizer é que seja muito feliz com sua nova casa e se não for incômodo eu quero dar um abraço no meu amigo.

            Pedro com os olhos lacrimados abraçou Iran, falando:

            - Não fique triste amigo, um dia irá entender o que estou sentindo, e irá se sentir aliviado.

            Iran abraçou também o Senhor Urano e a Senhora Mercês, e depois deu um beijo na fase de Dina dizendo:

            - Cuide do meu amigo Dina.

            - Cuidarei Filho do Cão, e seja feliz na sua caminhada, e depois que sua mãe contar ao povo o porquê do seu nome, eu irei a Cocos pra saber sobre o mistério.

            - E quer mandar algum recado pro Coronel seu avô Rio Verde?

            - Diz pra ele o que você tem a dizer, e se ele não acreditar mande-o aqui pra me ver.

            - Eu darei o seu recado pro Coronel seu avô Rio Verde - confirmou Iran levando consigo um pouco de mágoa do prisioneiro.

            Depois de um dia de viagem Iran chegou na fazenda do Coronel Marcos Santos, que ficava no pé de uma grande serra chamada Pilão Arcado.

            - Boa tarde Senhor.

            - O que deseja forasteiro?

             - Venho trazer um recado pro Coronel Santos.

            - Que recado Senhor?

            - Só direi a ele.

            O homem mandou um dos pistoleiros na casa do Coronel que ficava perdida no meio de um coqueiral.

            Iran ficou esperando a resposta enquanto via o sol se pôr atrás dos coqueiros.

            - Bonito aqui hem moço!

            - Djalma, é o meu nome moço, e o seu?

            - Iran, amigo, mas pode me chamar de Filho do Cão.

            - Prefiro lhe chamar pelo primeiro.

            - Está bem, e como se chama esta fazenda?

            - Roça Grande.

            Iran falava com o homem enquanto o outro chegou com o recado.

            - O Coronel disse que se for serviço não lhe interessa.

            - Não é serviço moço.

            - Mas ele disse que não quer falar com ninguém.

            - Então serei obrigado a entrar na fazenda dele sem a sua permissão.

            - E como pretende fazer isso?

            Iran nem sequer respondeu o homem cravando assim uma bala na testa de cada um, friamente.

            - Esses Coronéis são tão imponentes, não querem receber ninguém.

            Depois que Iran eliminou os dois coitados, abriu a porteira e dirigiu-se a casa do Coronel, porém, quando estava no meio do coqueiral percebeu que ali existia muitos pistoleiros escondidos, assim desmontou do seu cavalo e o fez correr até a casa, de modo que ele começou a eliminar os pistoleiros de maneira misteriosa. O Coronel começou a se preocupar, quando começou a ouvir de vez em quando um pistoleiro a gritar.

            - Pistoleiro, pode se apresentar e dar  o seu recado.

            - Mande os seus homens pro terreiro Coronel.

            Assim, o Coronel mandou os homens se aglomerarem no grande terreiro que tinha na frente do casarão da fazenda.

            - Estão todos reunidos pistoleiro desgraçado.

            - Apanhe o meu cavalo e venha até a porteira Coronel.

            Como não tinha outro jeito o Coronel Marcos Santos levou o cavalo até a porteira e perto de dois pistoleiros mortos Iran falou:

            - Aí está bom Coronel, agora venha até aqui.

            Iran convidou o Coronel para ir numa touceira de pés de coco.

             - Mas, o que quer pistoleiro do meio do inferno?

            - Calma Coronel, venha cá.

            - Quando o Coronel se aproximou do pistoleiro, num piscar de olhos, Iran já tinha dominado o velho.

            - Agora que o Senhor está com as mãos amarradas Coronel, vamos lá pro terreiro ver os seus pistoleiros.

            - O que quer de mim?

            - Eu não tenho nada contra o Senhor Coronel, mas prometi alguém que viria lhe dar um recado, mas ainda não vou falar. Agora eu quero ver os homens e sua família.

            - Eu não tenho família, a minha mulher já morreu.

            - Só vive este velho nojento roubando das pessoas e perseguindo os mais fracos, só pra mostrar que é um Coronel!

            - Mas, eu tenho o direito de saber o que você quer pistoleiro.

            - Ah! Tem muito bonito isto Coronel, os Senhores Coronéis sempre têm direitos, porém os pobres nunca tiveram direito, só dever.

            - O que quer pistoleiro?

             - Vamos ver os seus pistoleiros.

            Iran levou o Coronel até o terreiro e ordenou que um deles amarrasse os demais, depois mandou colocar dinamite na casa e por fim...

            - Já está tudo em ordem Coronel, e sua linda fazenda está minada e os seus valentes pistoleiros estão amarrados.

            - Eu estou solto moço - argumentou o que tinha amarrado os demais.

            Iran atirou no moço falando:

            - Meu nome é Filho do Cão. E quanto a vocês Esperem amigos, eu não tenho pressa.

            Iran apanhou algumas dinamites e acendia, depois jogava em cada um dos homens vendo subir aos pedaços.

            - Urano que mandou você fazer isso?

            - Não Coronel, eu tenho um recado pro Senhor.

            - Não vai falar deste recado?

             - Agora não Senhor, mas, a hora vai chegar.

             - E o que vai fazer com minha casa?

             - Nada Coronel, deixe ela aí.

             Iran amarrou o Coronel na cauda do seu cavalo e saiu já na porteira, disparou a sua arma em direção a casa do Coronel que logo a viu subir em pedaços.

             - Filho do Cão, você vai pagar caro por isso.

             - Não Coronel, os dez dias que descansei valeu a pena, eu estava mesmo precisando ver chamas.

            Poucos metros de distância separavam o Coronel Marcos Santos do Filho do Cão, pois, amarrado num pequeno pedaço de corda, o cavalo o arrastava  às vezes quando caía.

            - Não vai mesmo me falar o que tem pra me dizer Filho do Cão?

            - Vou Coronel, em primeiro lugar pode me chamar se quiser de Iran, e em seguida o recado é de sua filha Olga.

            - Não me diz que você é filho daquela vagabunda.

            - Por que acha que sou seu neto Coronel?

            - Não, você não é meu neto, deve ter sido por causa de alguma filha dela que você veio vingar por aquela desgraçada, aquela filha ingrata.

            - Se lembra do seu genro Coronel?

            - Trabalhou muitos anos para mim, e depois quando se apaixonou por Olga, fugiu com ela.

            - Sim Coronel, e depois de muitos anos eu fui encontrá-la em Montalvânia, Minas Gerais.

            - Mulher sem vergonha, deixou a mãe dela morrer de paixão.

            - Lamento Coronel.

            - Você lamenta coisa nenhuma pistoleiro, da forma que vi matar os meus homens, você não lamenta nada.

            - Da mesma forma Coronel, que os Senhores Coronéis fazem com os pobres, nunca irão se lamentar.

            - E voltando ao assunto da filha desnaturada.

            - Está interessado mesmo Coronel, mesmo na hora da morte.

            - Talvez, você ainda pode morrer primeiro do que eu.

            - Como ia falando Coronel, depois que encontrei um filho de Olga em uma prisão na cidade de Cocos, eu fui pra casa dele, lá encontrei uma filha de Olga, paralítica, e lá sobre um banco, e sem pensar, a convidei para dar uma volta, ela sem mais nem menos ela saiu andando. Andando, depois ficamos amigos, mais tarde chegou o velho e um filho.

            - Então estavam felizes.

            - Aparentemente Coronel, tinham saído de uma grande tragédia, pois, tinham sido atacados pelo Coronel Lino que matou as lindas moças e fortes rapazes.

            - Por que não matou a vagabunda?

            - Calma Coronel, vou chegar lá.

            - Ainda bem, fale.

            - Eu resolvi ir vingar, matando o Coronel Lino.

            - E foi?

            - Eu e os seus dois netos íamos, mas fomos atacados.

            - Morreram todos.

            - Sim Coronel, só sobrou o que eu tirei da cadeia.

            - Assim veio pra cá?

            - Sim, antes de morrerem comentavam, a vontade de Olga era saber como estava o pai e me pareceu que ela queria voltar.

            - Mas eu não iria aceitar aquela vagabunda.

            - Sei disso Coronel, vocês Coronéis nunca cedem.

            - E o que aconteceu com o Coronel Lino?

            - Foi morto por sua neta.

            - E depois ela morreu?

            - Não disse que só sobrou o que tirei da cadeia Coronel.

            - Está certo Iran.

            - Sim Coronel, Iran Pereira.

            - E onde ficou este idiota?

            - Estou levando o Senhor para a casa de Urano, o Senhor irá conhecer o seu neto.

            - Mas o que aconteceu com o neto? Não foi você que o trouxe da cadeia!

            - Sim Coronel, mas ele tem sangue de Coronel, não é confiável, quando chegou na casa do Senhor Urano se apaixonou com a linda Dina e resolveu viver com ela.

            - Com isso foi só, e ainda vai me levando pra ele, você gosta muito de ajudar.

            - Estou vingando os filhos que o senhor tirou do pobre Urano.

            - Mas, a briga que eu tenho com Urano, é minha.

            - Sei Coronel, mas isso não importa, eu gosto mesmo de ajudar as pessoas, e ainda mais quando é para acabar com um Coronel, sabe Coronel, enquanto eu viver estarei acabando com Coronéis.

            A linda lua com seu prateado cobria a floresta e Iran falava com o Coronel que era puxado pelo rabo do cavalo, e lembrando de sua mãe que o aguardava em Correntina.

            - Iran, por que este nome, Filho do Cão?

            - Uma história muito triste Coronel, não gostaria de lhe contar, mas, lhe afirmo que tem Coronel na jogada.

            Iran seguia em destino a casa do Senhor Urano, fazendo uma vingança que na verdade não tinha nada a ver.

            - Posso descansar um pouco Iran?

            - Pode Coronel.

            - Iran, eu estou achando você um homem bom.

            - Obrigado Coronel, eu não sei por que vivo matando pelos outros, mas acho que quantos forem os Coronéis que eu encontrar um pezinho contra eles, irei persegui-los.

            Já perto da casa do Senhor Urano, o Filho do Cão seguia a estrada fechada na floresta, e de repente caiu numa armadilha.

            - Minha perna, ai minha perna, ai - gritava o Coronel preso na armadilha e ao rabo do cavalo.

            Com uma pequena lanterna Pedro focalizou o Coronel e chamou o Senhor Urano dizendo:

            - Venha ver quem pegamos se é este o meu avô.

            O Senhor Urano se aproximou e disse:

            - É o desgraçado mesmo, me deixe um dar um tiro nele.

            - Não seu Urano, veja quem está do outro lado.

            - O Filho do Cão, o tire daí.

            - Não, ele não vai conseguir, da armadilha que faço ninguém consegue se Salvar.

            - O deixe morrer com este velho idiota, não mandamos vir trazer o Coronel, mas ele tem um coração muito bom.

            - Vai deixá-lo aí desse jeito?

            - Não Senhor, vou soltar o cavalo dele.

            - Não vai me matar Rio Verde?

            - Não Filho do Cão, acho que não seria bom, você vai morrer aos poucos, daqui a pouco virá o sol, depois a noite, depois o sol, até os seus olhos não verem mais nada, ai você estará morto.

            - Seu Urano, tire as armas do Filho do Cão, vamos deixá-lo sem armas, não é bom ele ficar com arma, assim ele poderá cometer alguma besteira quando estiver fora de si.

             - Assim como você, não é Rio Verde.

            - Sei o que quer dizer Iran deve estar se lembrando de quando me tirou da cadeia, depois que demonstrou o seu poder atirando em todo mundo, só vencendo, mas, não salvou ninguém, deixou o meu pai morrer, minha mãe e minha irmã, mesmo apaixonada, mas nada adiantou, eu odeio você Filho do Cão, você é um covarde, por isso tem que morrer de uma forma covarde como é você.

            - Eu não tenho escolha garoto?

            - Não Iran, eu vou embora e vou lhe deixar um companheiro, o Coronel Marcos Santos, o meu avô, espero que sejam felizes.

            - Você não pode fazer isso Rio Verde - argumentou o Senhor Urano atirando em Rio Verde, este, porém muito rápido eliminou o velho dizendo:

            - Só quero mesmo a sua filha velho idiota.

            - E a velha Rio Verde, o que vai fazer?

            - Quando eu disser que na luta contra o Coronel Marcos Santos ele morreu, a velha Mercês baterá as botas, aí estarei livre com minha amada e serei um homem rico, serei dono da fazenda do meu avô e a do pai dela.

            - Se você me libertar lhe darei uma fortuna garoto esperto!

            - O que tem pra me oferecer Coronel?

            - Uma grande fortuna que está guardada em uma gruta na serra Pilão Arcado.

            - E como vou saber que está falando a verdade Coronel?

            - Dou minha palavra, palavra do seu avô.

                        - Palavra do pai da vagabunda Coronel - interrompeu Iran.

            - Cale a sua boca pistoleiro derrotado.

            - Está bem Coronel, não está mais aqui quem falou.

            Por instantes Pedro ficou pensativo e disse:

            - Está bem meu avô, eu vou te libertar.

            Pedro soltou o Coronel e depois disse:

            - Vamos Coronel, preciso de muito dinheiro, quero dar uma vida de rei e rainha ao casal Pedro e Dina.

            O Coronel depois de solto falou:

            - Pegue o seu cavalo, pois eu não agüento, estou com a uma perna quebrada.

            - Ta bem Coronel, quanto a sua perna não tem problema, vai ficar boa, e se for mentira sobre esta fortuna, eu vou lhe matar mesmo...

            Pedro foi apanhar o cavalo, enquanto o Coronel apanhou o revólver do Iran, e quando o Pedro voltou o Coronel apontou a arma e Iran gritou:

            - Cuidado Rio Verde.

            O pistoleiro tentou sacar, mas já tinha sido alvejado e o Coronel gritou:

             - Você não deve ser meu sobrinho, idiota, e foi logo atirando em Iran, porém Rio Verde conseguiu matá-lo.

            Respirando aliviado, Iran ficou apreciando os três cadáveres estendidos no chão, já sendo visto pelos raios da claridade, pois o dia começava amanhecer. Com os olhos embaralhados, se via em sua frente um corpo de mulher, Iran assustado disse:

            - Onde estou?

            - Calma Filho do Cão, sou eu, Dina.

            - Dina, onde estou?

            - Na minha casa.

            - E o Coronel, o Rio Verde, seu pai, cadê  eles.

            - Descanse um pouco, depois eu lhe conto o que aconteceu.

            - Sei que morreram, ah!, Foi eu fiquei preso na armadilha.

            - Eu lhe tirei de lá, sabe Iran, depois que você se foi eu fiquei pensando na traição que o Pedro lhe fez por minha causa.

            - Sei Dina, ele parecia que era mesmo neto de Coronel, do Coronel Marcos Santos.

            - Como foi que aconteceu?

            - Eu fui levar o recado pro Coronel, mas quando cheguei na entrada da fazenda, um pistoleiro não permitiu minha entrada, mandou falar com o Coronel, no entanto ele não quis falar comigo, assim eu resolvi acabar com tudo.

            - Eram muitos homens?

            - Deveria ter uns cem, mas eu procurei me esconder no coqueiral, assim fui eliminando o bando até que venci. Acabei com a casa do velho e saí aliviado com ele amarrado na cauda do cavalo.

            - Assim caiu na armadilha?

            - Foi, depois o seu pai começou discutir com Rio Verde e atirou contra ele, porém Rio Verde foi mais rápido.

            - E o Coronel.

            - Estava na armadilha, porém depois convenceu Rio Verde que se o soltasse lhe daria uma fortuna.

            - Ele soltou o velho?

            - Sim, mas depois do velho solto, disse a Rio Verde para apanhar os cavalos, e enquanto Rio Verde se distraiu ele apanhou das mãos do seu pai o meu revólver pra atirar em Rio Verde, eu o avisei, mas foi tarde e eles atiraram juntos.

            - Um matou o outro?

             - Não, o Coronel venceu, porém quando foi atirar em mim o Rio Verde ainda conseguiu matá-lo.

            - Então ele te salvou?

            - Foi querida, ele ainda foi gentil, porém sinto ao mesmo tempo que não foi mesmo pra me salvar, foi que ele ia mesmo matar o Coronel.

            Dina falava com Iran e o seu corpo sedutor fazia o pistoleiro começar a imaginar como seria a vida de um casal.

            - Onde está a sua mãe?

            - Ela foi lavar roupas, só volta à tarde.

            - Foi sozinha?

            - Sim, mas não tem perigo, logo a noite ela estará de volta.

            - Mas, porque você não foi com ela?

            - Não, fiquei te olhando, pois tinha medo de você acordar e ir embora.

            - Mas que diferença faz, um dia eu não tenho mesmo de ir embora!

            - Se for embora, leve-me com você.

            - Não posso te levar.

            - Por que tem outra mulher que te espera?

            - Não é isso Dina, eu sou um homem diferente dos outros.

            - Não vejo tanta diferença, isso é sua impressão, talvez seja, porque eu não te escolhi, e preferi o Rio Verde.

            - Não, eu nem pensei nisso.

            Na verdade Iran não ficou mesmo interessado em Dina, porém sentiu revoltado quando viu Rio Verde beijar os lábios desejados e sedutores de Dina.

            - Sei que você gostaria de me beijar, eu sempre pensei que um dia eu teria algum momento de confidência com um homem diferente, eu pensei que Rio Verde fosse diferente.

            - Sei Dina, mas ele era um homem diferente...

            - Era mesmo, mas o que quero dizer é...

            - Sei o que quer dizer Dina...

            Iran se levantou meio tonto e começou a andar, porém...

            - Cuidado Iran, você está muito fraco, eu vou lhe trazer um pouco de comida.

            - Obrigado Dina.

            Dina servia Iran colocando a comida em sua boca, e Iran olhando os olhos encantadores da moça argumentou:

            - Você é linda, muito linda, se eu não fosse o Filho do Cão, poderia ser o seu marido e viver com você e ver os nossos filhos crescerem, iríamos brincar na areia com eles, ia ser tão bonito.

            - Você pode se casar comigo sim, eu não tenho medo de você ser o Filho do Cão.

            - Não é bem assim querida.

            - Ah! Então deve ser que eu escolhi Rio Verde.

            - Não Dina, esqueça este nome, ele morreu.

            - Está bem, vou me esquecer.

            A tarde chegou e logo o sol estava se pondo no caminho que nascia na floresta, a Senhora Mercês vinha no seu cavalo faceiro.

            - Lá vem a minha mãe, como é tão bonita.

            - Seu pai gostava muito dela?

            - Sim, parecia uma doença.

            - Venha me ajudar Dina.

            - Eu vou também.

            - Não, você ainda esta fraco.

            Dina saiu ao encontro da mãe e com  Um sorriso estampado no rosto falou:

            - Ele melhorou mãe, só está um pouco fraco, mas melhorou.

            - Eu te falei filha, que ele ia ficar bom.

            - Mãe, será que ele vai namorar comigo?

            - Não sei filha, ele é um homem diferente, e tem uma missão.

            - Mas ele vai esquecer-se dessa missão.

            - Não Dina, homens assim nunca esquecem as suas missões, eles lutam até o último momento.

            Depois, já as duas dentro de casa a Senhora Mercês falou:

            - Iran, você está se recuperando rápido.

            - Sim Senhora, mas me sinto um trapo.

            - Mas, vai ficar bom.

            - E a Senhora nem importou com o que aconteceu.

            - Temos que aprender a enfrentar as coisas da vida.

            - Minha mãe também é forte Iran - argumentou Dina.

            - Então somos todos fortes.

            - Sim Iran, e se quiser casar comigo, seremos uma família ainda mais forte.

            - Não vou lhe dizer que não Dina, mas tenho que resolver os meus problemas, aí só depois que irei imaginar o que fazer se deverei amar alguém, pois acho que não devemos brincar com o amor.

            - Acha que estou brincando Iran - argumentou Dina olhando ternamente pro rapaz, pois só faltava dizer-lhe que estava a sua disposição.

            - Não Dina, o seu olhar é encantador e seu corpo faz qualquer homem se apaixonar, não vou dizer que não sinto nada por você que estaria mentindo, mas sei que o meu caminho está cheio de buracos, muitas porteiras, não posso viver um grande amor.

            As palavras de Iran se perderam no silêncio, pois com um olhar triste Dina ficou olhando o retrato do pai dizendo:

            - Meu pai era um homem incomparável...

            - O que quer dizer com isso Dina? - indagou a Senhora Mercês pondo comida na mesa.

            - Nada mãe, só estou me lembrando do meu herói.

            - Eu nunca fui herói de ninguém Dina - argumentou Iran olhando o velho retrato.

            - E já teve um herói?

            - Não Dina, meu herói é um maldito Coronel.

            - Coronel, Iran. Então você é filho de Coronel.

            - Não quero falar sobre isso.

            - Compreendo você, assim como Rio Verde, filhos de Coronel.

            - Venham comer filhos, que já é hora.

            Assentado ao redor da mesa Iran falou:

            - Breve estarei de partida, irei ao encontro do Coronel Gusmão Filho, quero acabar com isso pra voltar em Cocos.

            - Quando voltar de Pernambuco você vai passar aqui pra me ver Iran?

            - Não Dina, eu vou passar por Correntina, quero poder ver a minha mãe sorrir em minha frente e perguntar se eu já desisti de mostrar ao povo de Cocos porque sou O Filho do Cão.

            - Qual o nome de sua mãe? - indagou a Senhora Mercês.

            Antes de responder a Senhora Mercês, Iran olhou firmemente para Dina e disse:

            - Pobre garota, era minha mãe antes daquele desgraçado violentá-la, dizem que era mais bonita do que uma rosa, mais simpática do que um sorriso de uma pessoa amiga, era mais bonita talvez do que a própria palavra, era a linda Marieta, hoje é a...         

            - Não fique triste Iran.

            - Não é tristeza Dina, é um pobre Filho do Cão, deve ter sido tão ruim o que ele fez a ela.

            Enquanto Iran e Dina falavam a Senhora Mercês percebia que o que Iran queria falar era tão ruim, que não devia ser comentado.

            - Vamos mudar de assunto Iran.

            - É muito bonito Senhora, tentar mudar de assunto, mas é tão difícil, pois, pra cada lado da razão que procuro não encontro solução para apagar tamanha crueldade, como poderia surgir um homem que teve coragem de fazer aquilo.

             - Sabe Iran, pelo que sinto, a sua mãe não vive tão triste assim.   

            - Sei Dina, talvez você tenha razão, aquela linda fazenda e as casas na cidade, a minha mãe está escondendo alguma coisa de mim, ah! Sim, ela está escondendo mais um mistério, e eu vou descobrir.

            - Que mistério Iran? - indagou a Senhora Mercês.  

            - Ela não tinha marido e como conseguiu tanta coisa.

            - Se for o que eu estou pensando...

            - O que está pensando Dina?

            - Não é nada não Iran, besteira minha.

            - Sei, besteira sua.

            Mais uma vez a tristeza se apoderou de Iran e os dias se passaram, a tristeza aumentava até que um dia:

            - Dina, eu vou embora ainda hoje, estarei longe quando ver o sol se esconder nos montes...

            Depois de tantos pedidos de fica de Dina, Iran perdido no caminho incansado de vingança, preferiu ir, e no caminho de Pernambuco levava consigo a imagem do lindo corpo de Dina.

            Após os longos e cansados dias de viagem e de ter deixado a fronteira da Bahia, ele chegou em Sertãozinho.

            - Aqui é Sertãozinho Senhor?

            - É forasteiro, e o que deseja? Vejo que não é de Pernambuco.

            - Venho de muito longe Senhor, mas isso é problema meu.

            - Você é muito malcriado forasteiro - argumento o homem atirando em Iran.

            - E o Senhor atira mal - argumentou Iran, guardando a arma depois de ter eliminado o homem.

            Sertãozinho ficava na margem de um pequeno rio chamado Lontra, onde mulheres lavavam roupas assentadas sobre grandes pedras.

            - Ainda era tarde, o sol estava alto no céu, muitas mulheres lavavam roupas, Iran foi ao porto dar água pro seu cavalo e quando ali chegou ficou encantado com uma morena que levava roupa acompanhada da uma senhora.

            Depois que o cavalo bebeu, Iran saiu levando consigo o lindo olhar da jovem.

            Perto ainda do rio, Iran se dirigiu ao curral que ficava na entrada da cidade.

            - Neste curral tem condições de se cuidar do meu cavalo?

            - Tem moço, é só pro cavalo que o Senhor quer...

            - Só moço, cuide bem dele que vou dar uma volta na cidade.

            - Se quiser se hospedar pode ficar na casa da Senhora Neusa.

            - Obrigado amigo, se eu resolver te direi.

             - Qual o nome do Senhor?

            - O Filho do Cão.

            - Um prazer, Leonardo.

             Iran saiu em destino ao bar que tinha na pracinha de Sertãozinho, agora o Filho do Cão estava na pista do Coronel Gusmão Filho, pois dali iria pra Correntina e depois Cocos pra acabar de uma vez por todas com a sua missão. Recordando de Leila, depois de Rosa que morreu em seus braços, de Dina que ficou à sua espera, sem falar de Fátima, o seu amor antigo em Correntina, e agora se via na frente de uma morena que substituía todas, apenas com um olhar.

            Entrando no bar, os pistoleiros comentaram:

            -O homem que matou João Bento.

            - De onde será que ele veio?

            - Pergunte pra ele.

            - Você aí moço, de onde veio?

            - Sou da Bahia.

            - Qual o seu nome?

            - Iran amigos, mas podem me chamar de O Filho do Cão.

            - O que está fazendo nesta cidade Filho do Cão? - indagou um homem alto e moreno dos cabelos pretos.

            - Procuro por um Coronel.

            - Podemos saber o nome dele? - perguntou outro homem.

             - Sim, o Coronel Gusmão Filho.

            - Procura pelo velho Gusmão?

            - Não sei Senhor, não sei quem é o Coronel Gusmão Filho.

            Iran conversando com os pistoleiros entraram no salão e avistou humildemente um homem assentado numa cadeira ao lado de uma mesa, e que o olhou quando falou no Coronel Gusmão Filho. Iran se dirigiu ao balcão e pediu uma bebida.

            O garçom serviu a bebida e quando Iran foi apanhar, uma voz disse:

            - Então está à procura do Coronel Gusmão Filho, Filho do Cão?

            - Sim amigo, Conhece o Coronel?

            - Sim, o conheço, o velho Gusmão, quem não o conhece!

            A forma debochada de o homem falar fez com que o Filho do Cão dissesse:

            - Por acaso eu estou falando o nome do Coronel errado?

            - Não pistoleiro, o nome do Coronel não pode ser expresso por forasteiros.

            -  Ah! Entendo, então estou correndo risco de morrer?

            - Isso mesmo - falou um pistoleiro negro, com os olhos brancos e a língua vermelha.

            - E por acaso negão, você trabalha pro Coronel?

            - Negão é a sua mãe.

            Apesar de Iran não ser muito gentil com sua mãe, mas deu um tiro no preto e disse:

            - Pistoleiro preto, tem coragem de falar de mãe de pistoleiro branco como se fossem iguais.

            - Você é racista Filho do Cão? - indagou o homem humilde.

            - Sou e não sou.

            - Não estou entendendo, é ou não é.

            - Isto é o seguinte Senhor: não tenho nada contra negros, mas, assim como entre os brancos existe o respeito, acho que os pretos também devem nos respeitar, e eles se escondem atrás da cor pra falar o que não deve, e a gente pra não ser racista tem que agüentar, estão muito enganados, comigo levarão chumbo.

             - Tudo bem Filho do Cão, mas por outro lado posso saber o que pretende com o Coronel?

            - Preciso falar com ele, sabe onde ele fica?

            - Sei pistoleiro, mas tenho que saber o que pretende tratar com o Coronel.

            - Isto vai ser difícil amigo, pois eu, O Filho do Cão não tenho costume de contar o que quero para ninguém, e principalmente a um pistoleiro velho num bar.

            Depois que Iran falou, pediu mais uma bebida dizendo:

            - Velho pistoleiro, vai me dizer onde mora o homem ou quer ser o próximo a entrar na bala?

            - Você chegou disposto a matar muita gente pistoleiro, sinto que o que  você veio fazer deve ser muito importante.

            O velho pistoleiro falava com O Filho do Cão e naquele instante o pequeno salão que já tinha poucos pistoleiros, pois, já tinham levado até o preto que tinha sido eliminado, ficou enfeitado quando a linda morena do rio entrou e se dirigido ao velho pistoleiro que falava com Iran dizendo:

             - Mãe mandou chamar o Senhor.  

            A roupa simples que a moça estava, se tornava ainda mais simples no contraste que se formava com sua beleza.

            - Diz a ela que estou indo filha.

             Iran ficou olhando a linda jovem sair.

            - Eu vou procurar a outra pessoa Senhor, por aí, onde mora o Coronel.

            - Não quer atirar em mim pistoleiro?

             - Não Senhor - argumentou Iran saindo.

            Ao chegar no curral o sol já estava se pondo e com o corpo cansado Iran resolveu procurar pouso.

             - Leonardo, onde fica a casa de Dona Neusa?

             - Eu vou te levar lá.

             Leonardo levou Iran pra se hospedar na casa de dona Neuza e chegando ali uma surpresa...

            - Leonardo, algum problema?

            - Não Vilma, eu vim trazer o Filho do Cão pra se hospedar.

            - Filho do Cão, ah! Foi você que estava no bar falando com o meu pai, vamos entrar, mãe, tem gente.

            Iran pasmado com a beleza e a gentileza de Vilma nem sequer percebeu que Leonardo se foi.

             - Pois não vaqueiro, quer dormir ou quer comer também?

             - Ah! Sim Senhora, quero comer também.

            - Vai tomar banho ou não tem costume?

            - Sei Senhora, o banho no rio, eu já sei.

            Iran se hospedou num quarto na sala da casa e depois que tirou suas esporas foi pro rio tomar banho, porém levando consigo os revólveres, pois, alí se piscasse os olhos entraria no chumbo. Depois que tomou o seu banho voltou pra casa de dona Neusa e imaginando como seria passar a noite ali perto da linda Vilma.

             - O viajante está vindo mãe.

            - Prepare a comida pra ele.

            - Que viajante filha? - indagou o velho.

             - Aquele que  o Senhor estava conversando no bar.

             - O Filho do Cão.

            - Sim Senhor, em pessoa - acrescentou Iran entrando pela porta.

            - Como foi moço, a água estava boa? Já mandei Vilma preparar a sua janta.

             - Obrigado Senhora.

            O velho pistoleiro ficou com ressentimentos por não ter convidado o pistoleiro antes, pra ir para sua casa e por não falar onde morava o Coronel.

            - O Senhor está bem, já se decidiu me dizer onde mora o velho?

            - Não posso Filho do Cão, eu não posso fazer isso.

             - Corre risco de morrer?

             - Todos nós - argumentou Vilma.

             - Compreendo, mas eu não tenho medo do Coronel e de ninguém, sou um pistoleiro e honro o meu nome.

            - Nonato, venha me ajudar arrumar umas coisas enquanto Vilma dá comida ao rapaz.

            Iran ficou observando a forma estranha que as pessoas demonstravam na casa, mas procurou jantar, depois foi bater um papo com o velho, a Senhora Neusa e a linda Vilma.

             - Então você veio de Correntina? - indagou o velho.

            - E o que vive fazendo pelo mundo afora?

             - Eu vivo em busca de vingança Vilma.

             - Vingança, como pode  uma pessoa sair  em busca de vingança.

             - É, no tocante a vida é muito estranho, mas não achou estranho o meu nome?

             - Sim, devo confessar que achei.

             - Pois tudo começou por aí. O meu nome mesmo é Iran, este nome é apelido, é por que quando eu nasci minha mãe fez me chamar de O Filho do Cão.

            Assim, Iran abordou toda a história e o velho pistoleiro falou:

            - Paulo Gomes, coitado, era um bom menino, eu me lembro dele.

             - Foi assim que o pobre Paulo Gomes morreu?

            - E por causa da filha dele, você veio matar o Coronel? - indagou Vilma se sentindo feliz.

            - Sim, não só este, como qualquer outro que atravessar o meu caminho.

             Iran contou o caso, porém sentindo que não estava pisando em terra firme, parecia que a casa do Senhor Nonato era um local que os viajantes eram eliminados durante a noite.

             - E o que pretende fazer Iran? - indagou o velho.

            - Vou dormir, amanhã quero eliminar alguns pistoleiros na cidade pra ver se tem alguém que me diz onde mora o velho Gusmão Filho.

            - Ele mora depois do Brejo Novo, um arraial que tem logo na frente, indo pra Alagoas.

            - Uma fazenda?

            - Sim, fazenda Chapadão, é lá que vive a onça.

            - Pois amanhã estarei lá no Chapadão, pra ver se o velho Gusmão é mesmo temeroso.

            Depois de um bom papo Iran foi se deitar observou que tinha uma grande pedra pendurada sobre a sua cama. O pistoleiro vendo a grande pedra se deitou num canto do quarto e começou a roncar logo em seguida ouvindo o velho cochichar com a velha dizendo:

            - Parece que ele já dormiu, é hora de soltar a pedra – falou o velho.

             - Sim, pode soltar - respondeu a Senhora Neusa.

            A enorme pedra caiu sobre a cama, e minutos se passaram em silêncio, uma porta falsa na parede foi se abrindo, Iran se escondeu atrás e avistou a estranha mulher como se fosse um monstro que vinha comê-lo. Iran deu uma coronhada na cabeça dele que logo caiu, e depois veio também como se fosse um monstro o velho, o qual, Iran fez a mesma coisa e ninguém mais apareceu, parecia que nem existia outra pessoa na casa, assim Iran saiu à procura de Vilma, que a encontrou completamente nua sobre a mesa, onde ele tinha jantado e ela dizia:

            - Estou a sua espera papai, pode me usar, estou com muita vontade.

            Todo o encanto que Iran tinha por Vilma, transformou-se em ódio, pois sacou de seu revólver atirando na moça depois voltou ao quarto eliminou o velho e a mulher dizendo:

             - Vocês são de outro mundo seus imundos.                

Após o serviço, Iran foi ao curral, apanhou o seu cavalo e se foi deixando Sertãozinho com seus mistérios e indo a busca do Coronel Gusmão Filho na fazenda Chapadão.

            O dia amanheceu no sertão Pernambucano, logo o sol vermelho surgiu por entre as tortas árvores sem folhagem. Iran com o seu corpo maneiro, vestido de roupas pretas, chapéu e botinas, montado em seu cavalo pampa por nome de corta fronteiras que sempre esteve preparado para as suas viagens constantes. Assim O Filho do Cão vivia em busca de uma vingança que na verdade se quisesse já teria conseguido, porém, foi se envolver com tanta gente que lhe fez andar em busca de realizações dos outros. Sua mãe, no entanto, lhe esperava em Correntina, pois, aflita sem saber onde seu único filho estaria, ou se o covarde Coronel Nicanor teria mandado matá-lo.

            Também, junto com a mãe, sua querida Fátima que mesmo assim ainda repercutia em seu peito uma triste saudade.

             - Ô de casa!

            Numa casa já quase uma tapera saiu uma mulher muito velha e disse:

            - Tem alguém chamando?

             - Tem Senhora, eu estou à procura da fazenda Chapadão, sabe onde fica?

             - Sei Senhor, logo depois da encruzilhada começa a fazenda do Coronel Gusmão Filho.

            - Obrigado Senhora.

             Iran ficou alegre de saber que estava ficando perto de solucionar mais um caso e com isso voltar pra sua casa.

            - É aqui a fazenda do Coronel Gusmão Filho Senhor?

             - Sim moço, o que deseja?

             - Falar com ele.

             - E quem quer falar com o Coronel?

             - O Filho do Cão.

            - Não teria um nome melhor pra mim falar pro Coronel?

             - Pode falar Iran.

             - Este é melhor.

             Iran ficou esperando pelo moço que foi falar com o Coronel, porém, assustado com a maneira estranha da fazenda, pois além do homem não se via pistoleiros. Contudo, minutos depois o homem veio e disse:

             - Você, amarre o seu cavalo e pode entrar na porta de frente que o Coronel vai te receber.

            - Iran fez o que o homem disse e seguiu pra entrar na porta e já dentro da casa falou:

            - Coronel, onde está o Senhor?

            A voz de Iran se desfez na escuridão da casa e instantes depois...

             - Quem procurava por mim - falou uma voz como se fosse do outro mundo, em seguida uma porção de morcegos passou voando pela sala e se dirigiram para a escuridão.

            Iran percebeu, porém, que a casa era apenas uma porta de uma grande gruta, resolveu assim voltar, porém não encontrou nenhum homem.

            - Coronel, apareça seu desgraçado, eu tenho negócios a tratar com você.

             Iran falou atirando pra dentro da escuridão e logo a porta se fechou nas suas costas.

             - Coronel não brinque comigo seu desgraçado.

            Quando Iran falou desgraçado o Coronel respondeu:

            - Eu sou o desgraçado, e quem é você?

             - Sou O Filho do cão.

            - Filho do Cão, vou ver se você é mesmo Filho do Cão.

            Em poucos minutos muitas cobras começaram a chegar, e cada uma vinha com um linguajar diferente.

            Iran tentou se proteger das cobras, porém, elas vinham subindo em seu corpo.

             - Tira estas cobras de cima de mim Coronel Gusmão Filho.

            Quando Iran falou Gusmão Filho, aconteceu uma grande explosão nos fundos da gruta, e uma criança chorou, depois o choro, uma mulher deu uma grande risada completamente estranha, com um assobio que deixou Iran  desmaiado.

            - Venha cá pistoleiro idiota, hoje eu tenho prato novo, hoje eu tenho comida de longe.

             Iran desmaiado nos braços do Coronel, que era uma grande caveira andante e o levou pros fundos da gruta colocou-o sobre uma cama de capim e ficou falando.

            - Filho do Cão, de onde foi que você veio.

            Minutos depois Iran voltou ao normal e ficou olhando aquela coisa horrorosa conversando consigo.

            - Quero saber de onde você veio.

            Iran já podendo saber onde estava, pois, naquele lugar tinha uma luz estranha que parecia uma mistura da luz do sol com a luz da lua, assim ele pôde perceber que estava numa casa de capim, pois, logo riscou um fósforo e enquanto o fogo subia, ele lutava contra a caveira do Coronel Gusmão Filho, e ao ver que as chamas estavam altas, ele atirou a caveira sobre o fogo.  

            - Tire-me daqui Filho do Cão!

            Os gritos de horror do Coronel, fez surgir uma grande ventania e parecia que quanto mais ventava, o fogo ia entrando terra adentro até que quando Iran percebeu, estava sobre o solo ao lado do seu cavalo perto de uma tapera.

             - De todos os Coronéis que eu matei corta fronteira, este foi o mais estranho.

             Iran montou em seu cavalo e foi pra Correntina, pois não tinha mais nada a fazer em Pernambuco, porque o que tinha prometido ao seu amigo Paulo Gomes já  tinha sido cumprido.

            Muitos sóis e luas passaram pelos seus olhares sedentos de saudades de Fátima, Leila e Dina, sem esquecer que no outro mundo já estava à sua espera Rosa e Vilma.

            Ficou assim pra trás a fronteira de Pernambuco e depois no meio do sertão baiano, Iran chegou a Correntina e pôde ver sua mãe e a sua querida Fátima.

            - Pensei que nem viesse mais filho - argumentou Marieta assentada na varanda vendo o filho entrar.

             - Voltei mãe, foi uma experiência e tanto que tive, pude perceber mãe, que se uma pessoa sai pro mundo pra resolver as injustiças, ela nunca mais voltará pra casa, pois em cada lugar da terra existem os Coronéis fazendo, desfazendo, e se escondem atrás de leis, de igrejas, de Deus, e de tantas coisas imundas que jamais seria eu capaz de enumerá-las. Sabe mãe, eu ainda não fiz o que eu queria o que sai para fazer, pois sinto que nem só eu como muitos outros homens vivem por aí sendo injustiçados.

            - E o que pretende fazer filho?

            - Só vou parar mãe, depois que eu acabar com o Coronel Nicanor.

            - Tem coragem filho, de acabar com o seu próprio pai.

            - Sim mãe, eu sinto triste quando olho pras minhas mãos e sei que nem todos percebem que elas parecem com mãos de cachorro, porém, eu mesmo não consigo esquecer a dor que a Senhora sentiu, e a tristeza de viver atrás de uma mentira, só porque um Coronel quis, eu vou matar o Coronel mãe, pois se não matá-lo, os seus filhos irão fazer a mesma coisa que o pai.

            - Ele fez o que fez filho, mas me pagou, hoje somos ricos, tudo que temos foi ele que nos deu você também pode ser um Coronel, já que tem sangue de Coronel.

            - Então tudo isso foi dado à Senhora pra ficar escondido o que o Coronel fez?

            - Sim filho, foi um acordo que o meu pai fez com ele.

            - Então o meu avô aceitou esta imundícia mãe?

            - Por pouco tempo filho, eu era filha única e depois que vim pra cá e que você nasceu, a minha mãe morreu de tristeza.

            - E ao seu pai, o que aconteceu?

            - Ele foi pra roça certo dia e não voltou, mandei os trabalhadores procurá-lo e depois de muitos dias, uma roda de urubus voava pra dentro da floresta, foi que eles encontraram os seus restos mortais, acham que ele se enforcou.

            - Só tristeza que aconteceu na sua vida mãe, que nem falo da minha, eu já sou mesmo uma coisa do outro lado.

            - Filho, você não é do outro lado, você veio ao mundo de uma forma diferente dos outros meninos, mas você é um bom menino.

            - Sei mãe, eu sou um bom menino...

            - O que pretende fazer agora filho?

            - Acabar com o Coronel Nicanor e depois a Senhora vende estas terras e iremos embora para um lugar que ninguém nos conheça.

            - Não está se lembrando de mais nada?

            - A Senhora quer falar sobre a Fátima?

             - Sim filho, ela se casou, disse que você não ia  voltar, assim se casou.

            Quando Marieta falou pro filho que Fátima tinha se casado, ele olhou pro canto do quintal e disse:

            - Fátima, quantas vezes eu me assentei do seu lado, senti o seu calor, beijei os seus lábios e hoje tudo por causa de um Coronel ela está dando o amor que era meu pra outro homem.

            - É filho, e sua mãe que nunca teve este amor que você está se referindo.

            - Nunca amou ninguém mãe?

            - Não vou dizer que não filho, pois estaria mentindo, eu gostava de Horozino, um cigano que trabalhava pro Coronel Nicanor, mas um dia o Coronel se engraçou comigo e mandou seus homens matar o coitado, quanto chorei filho, mas o que podia fazer nada...

            A Senhora Marieta falava olhando pro rumo de Cocos, com um olhar triste e continuou dizendo:

            - Meu pai era pobre, não pôde fazer nada.

            - Assim, foi que a cegueira do Coronel começou?

            - Sim filho, ele mandou chamar o meu pai pra trabalhar e que levasse eu e minha mãe. Meu pai como precisava de dinheiro, atendeu ao seu pedido.

            - Foram pra fazenda?

            - Sim filho - respondeu a Senhora Marieta chorando.

             - Sei mãe, mesmo assim eu gosto da Senhora, claro que nunca vou lhe perdoar, a Senhora não podia ter me deixado nascer, mas por outro lado, eu tinha que nascer pra mostrar pro mundo que alguém tem que acabar com os Coronéis.

            - Talvez você tenha razão filho, porém antes de você chegar filho, foi eu que cheguei, será filho, que eu vim ao mundo pra ter um filho e este filho acabar com os Coronéis.

             - Ou será mãe, que foi seu pai e sua mãe que vieram ao mundo pra ter uma filha única pra ter um filho que declararia guerra contra os Coronéis...

            Depois de falar em tantas coisas de filosofias e outras, Iran e sua mãe chegaram ao entendimento.

            - Vamos viajar pra Cocos mãe, quero que a Senhora chegue na cidade por cima e assista o seu filho acabar com o Coronel Nicanor.

            - Sim filho, seja o que Deus quiser.

            E dias depois debaixo da poeira vermelha o pistoleiro e a mãe esperavam  a boiada passar.

            - Muito gado hem amigo - argumentou Iran ao homem que estava assentado no mourão da porteira.

            - Você é o filho do Cão? - perguntou o homem surpreso.

            - Sim Senhor, e esta é minha mãe.

            - Ah! Sim, quer dizer que você tem mãe.

            - Marieta Senhor, às suas ordens.

            - Não seria a Senhora filha do Senhor Arnaldo?

            - Sim Senhor, por quê? Lembra-se de mim, já faz tanto tempo.

            - Nunca me esqueci da violência que o Coronel Nicanor fez com a Senhora, fui eu que levei aquele cachorro, até hoje não tive coragem de me casar pra não ter uma filha e depois saber que um Coronel viesse a  possuí-la e depois colocar um cachorro pra violentá-la e com isso esconder o seu crime.

            - Obrigado amigo por ter falado por mim o que ainda não tive coragem.

            - E eu poderia saber o seu nome?

            - É claro Iran, eu sou Adão.

            - Sabe o nome do meu filho.

            - Sei Senhora, o vi o dia que ele passou por

            aqui à procura da cidade e também fiquei sabendo que matou uns pistoleiros, prendeu o prefeito, matou o delegado, eu confesso que fiquei muito feliz.

            - Agora estou indo Adão, à procura de vingança.

            - Se me permitir Iran, gostaria de ir com vocês.

             - Não acha que o Coronel iria desconfiar e poderia te matar?

            - Não importo filho, se eu morrer, estarei pagando pelo que fiz, sei que soldado mandado não tem crime, mas não consigo dormir direito quando me lembro dos gritos daquela pobre moça, quando as unhas daquele cão desgraçado arranhavam os seus delicados seios, enquanto que o Coronel satisfeito sorria...

            - Então aguardamos você lá.

            - Não Iran, está um pouco tarde, acho que seria melhor ficarmos em casa, depois de amanhã iremos pra cidade, enquanto isso nós bolamos alguns planos, pois, depois que você passou, muita coisa mudou na cidade.

            - O que mudou?

            - Muita coisa...

            Adão convenceu Iran a ficar, e assim desarreou os cavalos e os colocou na roça dizendo:

            - Amanhã será um novo dia, nós encontraremos uma solução pra acabarmos com o Coronel Nicanor.

            - Mas, você não me respondeu.

            - Sim, sobre a mudança que te falei.

             - Sim, é isto.

            - Os presos que você soltou, sabe pra onde foram?

            - Sei que Sebastião e Eduardo foram ver suas esposas.

            - E o Rio Verde foi com você.

            - Sim, e os demais ficaram cuidando da cidade. 

            - Certo filho, só que mataram José, Martin e João.

            - E aos demais, o que aconteceu?

            -  Jacinto desapareceu, Lúcio passou pro lado do Coronel Nicanor e Leopoldo foi atrás de Eduardo e Sebastião.

            - E o prefeito?

            - O Coronel o matou enforcado por ter perdido a briga e ter sido preso.

            - Quem é o novo prefeito?

            - O Senhor Miro.

            - Sei, o homem do bar.

             - Sim, o pai da Vera.

            - E Leila, o que aconteceu a ela.

            - Os homens do Coronel Nicanor a violentou e depois José os matou, porém, ela ficou muito doente e logo morreu.

            - Entendo por que o Senhor me disse que estava tudo mudado.

            - Pode me chamar de você Iran, eu sou solteiro, assim como você, eu também gostava de Leila, era uma menina e tanto.

            - Pobre Leila, eu achei mesmo que ia acontecer alguma coisa a ela.

            - Falam como se fossem conhecidos há muito tempo - interrompeu a Senhora  Marieta.

            - Compreendo Senhora, mas é que estávamos falando de certas coisas.

             - Sei Adão.               - Vamos entrar gente, estejam à vontade, a casa é de vocês.

            Marieta entrou na casa e vendo as paredes de enchimento, mas muito limpa e pobre como a casinha aonde ela tinha sido criada.

            - Bem cuidada a sua casa.

            - Sempre fiz de tudo, depois que deixei de trabalhar pro Coronel, vivo da caça e pesca, e quando mato uma caça, fico muitos dias em casa, por isso tenho tempo de cuidar, mas sei que se eu tivesse uma mulher, esta casa seria mais alegre.

            - E porque não tem?

            - Já falei com Iran sobre isso.

            - Eu sei como se sente, uma vez que ouviu os meus gritos.

            - Foi mesmo muito difícil Senhora.

            Adão olhava de uma forma interessante para Marieta, até dava pra perceber que estava gostando dela.

            - Eu vou preparar o jantar pra nós - argumentou Marieta.

            - Esteja à vontade Marieta.

            Enquanto Marieta cuidava do jantar Iran bolava planos pra ir a Cocos acabar com o Coronel Nicanor. 

            - O que pretende fazer Iran? Vai deixar sua mãe na cidade?

    - Quero deixá-la no hotel e depois que o Coronel estiver preso, promulgarei um julgamento popular, quero que o Coronel seja condenado à forca pelo o que fez.

            - Do jeito que é o ser humano Iran, é bem provável que irão condenar não só a sua mãe como o Coronel e a mim.

            - Não vai ser possível isto acontecer, eu tenho uma idéia diferente.

             - Que idéia você tem?

            - Estava pensando besteira...

            A noite rompeu e os três saboreavam a comida preparada por Marieta.

            - Há quantos anos que não como uma comida dessas.

            -  Onde foi que comeu? - indagou Iran.

            - Quando eu morava com minha avó, assim que ela morreu, eu fui trabalhar pro Coronel.

            - E sua mãe, o que aconteceu a ela?

            - Você não se lembra Marieta, de um caso sobre o Coronel Cosme.

            - Eu era pequena, mas me recordo.

            - Foi uma boiada que estourou e passou sobre a casa deles, meu pai e minha mãe morreram ali.

            - Por isso o Senhor veio morar perto do caminho?

            - Sim Iran, pra mim minha mãe ainda anda junto do gado e quando ouço um vaqueiro boiar, pra mim, é o meu pai.

            - Muito engraçado, será que foi mesmo por causa do cachorro que você não se casou Adão? - indagou Marieta.

             - Às vezes eu fico pensando Marieta, mas, já não sei, pois hoje depois que a boiada passou e que a poeira baixou, fiquei com o meu coração na mão só de ver um homem e uma mulher vindo em minha direção, pra mim era o meu pai e a minha mãe.

            - Marieta percebeu que Adão vivia um grande drama e que, o que lhe faltava na verdade era uma mulher.

            - Eu quero lhe perguntar Adão, se já teve alguma mulher?

            - Não Marieta, eu nunca estive com uma mulher.

            Adão praticamente com a mesma idade de Marieta, permitia que se formassem um lindo casal, pois na verdade nem tinha chegado aos quarenta anos.

            - Iran, já acabou de comer filho?

             - Sim mãe, já sei o que quer.

            - Então faça isso filho.

            Iran foi lavar os pratos enquanto a sua mãe namorava o Adão, pois bem mais tarde eles procuravam contar as estrelas no terreiro da casa.

            - Adão, a noite vai ser muito escura? - indagou Iran.

            - Sim Iran, a lua entrou junto com o sol.

            A noite escura recebeu o novo casal de namorados e Iran aproveitou o momento sem que percebessem, apanhou o seu cavalo e foi pra Cocos durante a escuridão, eliminar alguns inimigos.

            Ainda na madrugada depois que o Filho do Cão esteve em Cocos, voltou e se deitou, e o dia amanheceu como se não tivesse saído dali.

            - Bom dia Adão, esta foi uma noite maravilhosa, há muitos anos que  esperava por uma  noite dessas.

            - Eu fico feliz com isso.

             - Eu também - argumentou Iran.

            - Iran, você saiu esta noite, eu te conheço, sinto que você foi a algum lugar.

            - Sim mãe, eu fui à cidade, eliminei algumas Pessoas na madrugada pra quando chegarmos lá, o serviço ficar mais fácil. 

            - E posso saber quem foram os premiados?

            - Sim Adão, o primeiro foi Miro e a mulher dele junto com a filha, depois dei uma chegadinha na cadeia e eliminei uns coitados que estavam junto com eles, acabei com dois guardas.

            - E alguém sabe que foi você.

            - Não mãe, não disse meu nome pra ninguém.

            - E o que devemos fazer?

            - Eu já sei o que vamos fazer Adão.

            - O que então Iran?

            - Você deve ficar aqui com mãe, pois, vou prender o Coronel Nicanor, depois levarei vocês pra assistirem o julgamento.

            - Vai fazer isso sozinho? - indagou Marieta.

            - Sim mãe, se eu não der conta vou atrás de alguns pistoleiros.    

            Iran selou o seu corta fronteiras e saiu à busca do Coronel Nicanor em Cocos, logo depois da montanha. E antes do meio dia, Iran entrou em Cocos e vendo nos olhos das pessoas o mistério do que aconteceu na noite que passou. Na pequena e misteriosa cidade, pra onde o famoso Coronel Nicanor mandava as pessoas pra serem enforcadas, ainda estavam as grandes forquilhas, com a trava e pedaços de cordas pendurados à espera de mais um. A porta do bar estava fechada e sob algumas árvores, pistoleiros conversavam juntos dos seus cavalos.

            - Posso fazer companhia Senhores? - indagou  Iran.

            - Quem é você forasteiro?

            - Sou O Filho do Cão.       

- E o que está fazendo nesta cidade?

            - Aqui é a minha cidade, eu nasci aqui, mas por causa de um Coronel eu fui obrigado a viver fora, mas depois de muito sofrimento, resolvi vim por isto em pratos limpos.

             - Então você é filho de Coronel.

            - Sim moço, sou filho do Coronel Nicanor.

            Quando Iran falou que era filho do Coronel Nicanor, muitos dos homens sorriram e um deles disse:

             - Então você é meu patrãozinho?

            - Se trabalha pro meu pai, você é meu empregado também.

            - Estamos então às suas ordens Senhor Filho do Cão.

             - Podem me chamar de Iran.

            - Não estou acreditando nessa conversa - relatou um pistoleiro.

            Iran sacou do seu revólver e disse:

            - Gostaria de desafiar O Filho do Coronel.

            - Sim, eu gostaria.

            - Eu também - relatou outro pistoleiro.

            Assim já somavam doze pistoleiros prontos pro desafio.

             - Vamos pro meio da praça.

             Logo a pequena praça estava lotada de curiosos e um dos pistoleiros gritou:

            - Estamos fazendo um desafio com um forasteiro que se diz ser filho do Coronel Nicanor.

            - Um momento - interrompeu um homem moreno de cabelos grisalhos que continuou falando:

            - Sou o delegado desta cidade, vou Coordenar o desafio.

            - Pode coordenar delegado - argumentou Iran.

            - Você é o filho do Coronel Nicanor?

            - Sim Senhor, sei que é muito difícil acreditar, mas ele é o meu pai.

            - Mas vive falando que é Filho do Cão - interrompeu um pistoleiro.

            - Por que este nome? - indagou o delegado.

            - Esta pergunta só o Coronel pode responder.

            - Ele está mentindo - gritou um pistoleiro.

            - Ele tem que ser preso - falou outro.

            - Então vamos cancelar o desafio - relatou o delegado.

            - Por que delegado?

            - Tenho que te prender Iran, o Coronel precisa saber o que está acontecendo.

            - Ninguém consegue prender O Filho do Cão delegado - argumentou Iran atirando no delegado e em mais alguns pistoleiros e se protegendo atrás de um velho carro de boi. 

            Assim o tiroteio começou e logo Cocos estava com a sua praça repleta de cadáveres. Alguns pistoleiros fugiram pra fazenda do Coronel e depois Iran saiu em seu cavalo pampa, e foi aplaudido pelas pessoas.

.           Seguindo a poeira dos cavalos, Iran foi até a fazenda do Coronel Nicanor que ficava ali perto da cidade. Porém, Iran chegou na entrada da fazenda, percebeu que existia um grande muro onde não lhe permitia ver o que tinha lá dentro. Iran voltou à cidade e foi até a casa do armeiro e levou dinamites, e muitas balas. Iran passou rapidamente pela cidade e as pessoas o olhavam de um modo estranho, parecia ser na verdade uma satisfação, pois o tirano Coronel Nicanor estava agora numa grande enrascada. Na verdade o povo de Cocos estava mesmo contente, pois assistiram o Coronel Nicanor acabar com os demais Coronéis da região, e tudo indicava que ele ia escravizar aquele povo. Iran entrou na fazenda do Coronel Nicanor e no meio do grande plantio de caju que formava um pomar, ele começou a eliminar os homens do famoso Coronel. Já tinha passado de meio dia, o sol da tarde se entristecia no anoitecer aos sons de explosões que não paravam, até que um pistoleiro falou:

            - Filho do Cão, sou eu, Lúcio, aquele que você tirou da cadeia.

            - E que passou pro lado do Coronel.

            - Eu estou do seu lado.

            - Não confio em você, você é um traidor.

            - Não Filho do Cão, eu estou do seu lado.

            Enquanto Iran falava com o pistoleiro, um grupo de outros pistoleiros atacou Iran pelas costas e foi grande o tiroteio.

            - Tem mais aí seu idiota, mande mais - gritou Iran.

            Iran observou que tudo ficou em silêncio, assim correu pro portão principal, ia saindo uma carruagem e ele pulou dentro dela.

            Com o revólver em punho Iran eliminou dois homens que guardavam o Coronel e disse:

            - Difícil falar com o Senhor, não é Coronel Nicanor?

            - Por que diz que é meu filho?

            - E não sou Coronel?

            - Falamos disso depois, volte com cara, volte com a carroça...

            - Eu não vou voltar Coronel, sei que está com o Filho do Cão, eu estou do lado dele.

             - Volte seu pistoleiro traidor, volte.

            - Não vou voltar, eu estou do seu lado Filho do Cão, pode acreditar em mim.

            Lúcio não voltou e entrou numa estrada diferente onde um bando de pistoleiros estavam. Iran percebeu a armadilha, deu uma coronhada no Coronel e saltou da carroça vendo logo em seguida a carroça ser alvejada.

            - Coronel Nicanor e o Filho do Cão encontraram os seus fins.

            - Não Lúcio eu ainda estou vivo - argumentou Iran eliminando Lúcio e os demais pistoleiros, depois foi até a carroça e apanhou o Coronel, assobiou o seu cavalo que logo chegou.

            - Vamos pra cidade Coronel, amanhã teremos uma tarefa difícil para resolver.

            O Coronel voltando em si, disse: 

            - Pra onde vai me levar?

             - Pra cidade Coronel.

            - Não Iran, você deve me levar pra minha casa, eu sou um Coronel, não  posso ser preso como um pistoleiro qualquer.

            - Sim Coronel, concordo com o Senhor, mas não vou te prender.

            - O que vai fazer então?

            - Vamos pra cidade, quero ver aquele povo todo olhando pra sua cara.

            - Eu sou seu pai Iran, você não pode fazer isso comigo, tudo que tenho é seu.

            - Não quero nada seu Coronel, só quero que todo o povo de Cocos se vingue de você, da dor que você causou com o seu poder idiota, não sei por que os Coronéis são assim, mas sei que um dia todos irão lutar contra vocês e acabar com esta peste sobre a terra.

            - Você está falando de Coronel, você é meu filho, você pode ser um Coronel.

            - Não Coronel, ser filho de Coronel não quer dizer que vai ser Coronel, eu tenho certeza que muitos filhos de Coronéis irão se rebelar contra os seus pais, pois como disse e insisto, temos que acabar com esta peste, esta coisa nojenta que impede o crescimento das nações, a Cultura e o bem estar. Vocês Coronéis só causam mortes, prostituição, fome, atraso e tudo de ruim que possamos pensar.

            Iran falava com o Coronel enquanto o amarrava e depois montou em seu cavalo e saiu puxando-o como se fosse um bode velho.

            - É muito duro pra mim  meu filho, entrar na cidade deste jeito.

            - Que bom Coronel, mas o dia que o Senhor violentou aquela pobre mocinha, o Senhor não quis nem saber se ia ser muito duro pra ela viver com o gosto do seu ódio e a saliva daquele cachorro, acho que  também foi difícil apagar de sua mente as marcas das unhas do cão em seus delicados seios.

            - Mas eu a recompensei, dei a ela conforto pra te criar como gente.

            - Não é este tipo de coisa Coronel, que paga uma honra, pros Coronéis pode ser, mas pra simples figura humana, cheia de bondade, nada paga seu valor.

             - Você vai me matar?

            - Você vai me matar que pergunta idiota Coronel, é claro que você tem que morrer, mas não sei se serei eu o matador do meu próprio pai.  

            - Por que não me chama de pai?

            - Acha que devo te chamar de pai ou Papai? Seu Coronel idiota, eu prefiro ser mesmo filho do cachorro.

            - Ah! Então te chamam de Filho do Cão por causa de um cachorro, eu pensei que fosse mesmo do diabo.

            - Se fosse por causa do diabo Coronel, eu preferia ser mesmo filho do Coronel Nicanor, assim seria a mesma coisa.

            Já com as nuvens escuras, os lampiões clareavam a pequena praça onde O Filho do Cão amarrou o Coronel Nicanor.

            - Venha gente, eu trouxe o Coronel pra vocês.

            Em poucos minutos, muita gente se aglomerou ao redor do Coronel.

             - Vamos matá-lo? - perguntou o Armado.

            - Não amigo, ele será julgado por vocês amanhã, e depois será enforcado.

            - Pra onde está indo Filho do Cão.

            - Vou buscar duas pessoas que podem dar testemunho contra as sujeiras do Coronel.

            - É mentira dele, eu não tenho nada contra vocês, eu não fiz nada.

            - Deixe de falar besteira Coronel, vocês Coronéis são uns hipócritas.

            - Você está mentindo Filho do Cão, ele está mentindo gente, é tudo mentira dele.

            - Armando, não deixe nada de ruim acontecer ao Coronel, pois amanhã estarei de volta.

            - Pode deixar com a gente Filho do Cão.

            Assim Iran se foi lá pra casa do Adão, pois, além de um dia cansativo, ele se sentia feliz, estava chegando o momento exato de mostrar ao povo de Cocos porque o seu nome.

            A noite escura mais uma vez permitia que o novo casal continuasse o seu romance na pequena casa ao lado da estrada onde as boiadas do Coronel Nicanor passavam quase todos os  dias.

            - Iran deve ter chegado, o cachorro está latindo - argumentou Adão levantando-se da cama, deixando ali o seu novo e único amor, Marieta.

            - Vai recebê-lo?

            - Vou meu amor.

            Adão foi ao encontro de Iran que já tinha desarreado o seu cavalo e soltado no pasto.

            - Como foi lá Iran?

            - Foi bem, o Coronel ficou aos cuidados de um homem chamado Armado e as pessoas da cidade.

            - Mas onde ele ficou?

            - Amarrado na praça.

            - Amanhã cedo vai ser o julgamento.

            - Sim, antes do meio dia o velho Nicanor será enforcado.

            Iran falava com o Adão enquanto comia alguma coisa, e sua mãe o ouvia deitada.

            - E mãe, como está?

            - Feliz, está muito feliz, nós estamos muito felizes.

            - Eu também fico feliz por vocês.

            - O que pretende fazer depois que enforcarmos o Coronel?

             - Não sei ainda, não pensei o que devo fazer.

            - Por lei natural você será o dono de todo o gado e fazendas do Coronel, pois ele não tem filhos.

            - Não tem porque não teve esposa, viveu a vida inteira usando e abusando das mocinhas indefesas.

            - Isso é Iran.

            - E tem mais, quanto a mim, imagine os filhos e filhas que vão aparecer com o fim do velho Nicanor.

            Depois de muito papo, Iran foi dormir tranqüilo, pois se sentia quase realizado e jogar aquele nome de O Filho do Cão no esquecimento, pois iria ser a partir dali o Iran, o simples Iran Pereira.

            Junto com o sol Iran se levantou o sorriso estampado no seu rosto não deixava esconder a sua alegria.

            - Bom dia mãe, vejo que a Senhora não está tão feliz com o fim do Coronel.

            - Estou filho, mas eu nunca gostei de lutas, mas estou feliz por você.

            - Vai comigo desmascarar o Coronel?

            - Vou filho, este é meu dever,

            - Adão, como está se sentindo?

            - Estou bem Iran, muito bem.

            Depois do café os três seguiram pra Cocos onde o Coronel Nicanor estava à espera.

            - Veja quanta gente - argumentou Iran.

            - Quem veio, não veio à toa.

            - Viu Adão, os filhos e filhas do Coronel, eu não falei ontem.

            - Devem ser eles mesmos.   

            Marieta ia montada num cavalo preto, trajando uma roupa de madame, os seus cabelos pretos sobre os ombros deixava Adão perdido na nova e única paixão de toda a sua vida. Adão ia vestido de sua melhor roupa, pois parecia um grande fazendeiro e Iran trajava-se como sempre, a sua roupa preta com os seus revólveres na cintura e em sua boca o grande charuto.

            - Atenção pessoal, vem chegando O Filho do Cão.

            - Muitas palmas para o nosso herói.

            E  Armando foi ao seu encontro.

            - Como está Filho do Cão?

            - Tudo bem amigo, agora quero saber como está o Coronel.

             - Está desmaiado desde cedo.

             - Mande jogar água na cara dele que vai começar o julgamento.

            Iran levou o Coronel pra cima de um palanque que ele tinha mandado Armando fazer e lá mandou jogar água na cara do Coronel Nicanor pra que ele assistisse ao julgamento.

            - Armando, jogue água no velho.

            Com a água o Coronel assustou meio desvanecido e ao   fitar Iran falou:

            - Por que não acaba logo com isso?

            - Não sou eu Coronel, veja a multidão na sua frente.

            - O que eles querem?

            - Pergunte pra eles.

            - Pergunte você.

            - Atenção pessoal, o Coronel está perguntando o que querem dele. A multidão começou a gritar.

            - Queremos o Coronel morto, enforcado, esquartejado, queimado.

            - Houve uma pausa e Iran continuou.

            - Atenção, vamos começar o julgamento.         

Assim Iran escolheu no meio do povo vinte pessoas, dez contra o enforcamento e dez a favor, mandou que subissem no palanque.

            - Vocês dez, vão ser a defesa do Coronel e vocês será a acusação - Depois de todos a postos, as vítimas começaram a falar e o primeiro foi Iran.

            - Senhores e Senhoras, eu sou Iran Pereira, tenho um apelido de O Filho do Cão, mas isso se deu por causa deste Coronel, vou convidar a minha mãe que é a pessoa mais indicada pra falar o porquê de O Filho do Cão.

            Marieta subiu no palanque com Adão e falou:

            - Vocês não devem ter se esquecido do caso sobre uma moça que foi possuída pelo cachorro do Coronel Nicanor, e foram muitos anos de sofrimento que vivi por ter sofrido tamanha injustiça, pois eu fui violentada por este homem o Coronel Nicanor, e depois que fez o que quis de mim, mandou este homem colocar um cachorro para completar a desgraça. Depois de tudo que fez eu fui obrigada a sair de Cocos, ele mesmo comprou casa e fazenda pra mim em Correntina e ninguém mais ouviu falar da pobre Marieta, a mãe do Filho do Cão.

            - Ela está mentindo - argumentou o Coronel.

            - Não está mentindo Coronel, eu fui o homem que levou o cachorro.

            - Adão, você seu traidor, vou te matar.

            - Calma Coronel, todos estão ouvindo - argumentou Iran.

            - Fui aquele dia gente levar um cão pra violentar uma mulher, só pra esconder o crime deste velho imundo e não foi só esse, foram várias as garotas que assisti o Coronel Nicanor usá-las como se fosse um garanhão, coitadas, muitas morriam de tristeza e outras ficavam trabalhando em sua fazenda, depois o próprio Coronel matava cada uma sem piedade.

            Depois que Adão falou, Iran disse:

            - Sei que todos desta cidade têm alguma coisa contra este Coronel, e assim, acontece em muitas outras cidades, esperamos que as pessoas que vivem lá acabem também com os Coronéis de lá, pois estas pestes têm que acabar da face da terra.

            E com a voz embargada de emoção Iran continuou:

            - Foi muito duro chegar a este ponto e poder mostrar a vocês o meu pêlo de cachorro. Quantas vezes eu subi ao monte e ficava uivando em desespero.

            E Iran tirou a camisa para que o povo visse os pêlos de cachorro em suas costas.

            - Viram quem sou gente? Pelo amor de minha mãe. E pelo cachorro  ódio do Coronel. O que devemos fazer com o Coronel?

             - Enforcar - respondeu a multidão.

             - E quanto as suas terras, o gado?

            - Pertence ao Filho do Cão - argumentou Armando.

            - Vou dividir pra todos vocês, quero que o povo desta cidade seja um povo feliz.

            A multidão agradeceu Iran.

            - Quero dizer ainda, Armando será o prefeito de Cocos.

            - Obrigado Iran - respondeu Armando emocionado.

            - Vamos colocar o velho Coronel Nicanor na forca.

            Assim colocaram o Coronel sobre um cavalo e a multidão se afastou, Iran montou em seu cavalo e a sua mãe no dela, Adão no dele, e se despediram do povo, já na saída da cidade Iran falou:

            - Veja mãe, lá está o Coronel Nicanor.

            - Estou vendo filho, o que vai fazer?

            - Enforcá-lo - argumentou Iran, atirando no cavalo do Coronel que saiu correndo enquanto o maldito ficou pendurado na corda.

            - Adeus amigos - gritou Iran.

             - Adeus - respondeu a multidão.

            O sol da tarde aquecia a floresta e logo chegaram na casa de Adão, Iran não parecia feliz.   

            - O que está sentindo filho?

            - Estou feliz mãe, e por outro lado triste.

             - Não já acabou com o Coronel filho?

            - Sim mãe, mas tem gente em algum lugar sendo injustiçada por outro Coronel, eu vou por aí, quem sabe vou poder ajudar alguém.

            - Vai com Deus filho.

            Já na frente da casa de Adão, Iran se despediu dele  dizendo:

            - Seja feliz com minha mãe Adão, não permita que um Coronel ponha um cachorro com ela, de Filho do Cão basta eu.

            - Vai com Deus Iran, eu vou cuidar dela.

            Vinha passando uma boiada e Iran se encobriu na poeira, depois que a boiada passou e que a poeira abaixou ninguém viu O Filho do Cão.

            - Vamos meu velho amigo, somos verdadeiramente amigos, pois sei que posso confiar em você...

 

 

FIM

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