sábado, 29 de abril de 2023

A Semente João Rodrigues

 A SEMENTE

 

JOÃO RODRIGUES

 

                  Em uma rua de um bairro de uma cidade do interior do quarto estado de um país do terceiro mundo, vivia ali Iracy sua esposa Raquel e Renan o único filho do casal. Esse por sua vez vivia muito triste no quintal da casa cercado por um muro de concreto de uns quinze metros de altura. Tudo isso se dava porque Iracy não queria que o seu filho tivesse contato com as crianças daquela cidade.

            - Nosso filho vive triste Iracy - reclamava Raquel com uma expressão de piedade.

            - Vai ficar ai até que ele cresça e quando homem ele decidirá o de melhor para si.

            Renan ainda pequeno vivia naquele pequeno terreiro com a sua solidão. O que tinha era uns pedaços de pau pra brincar, e de vez em quando a sua mãe participava das suas brincadeiras, mas só nas horas que o Iracy saía.

            - Mãe! Venha brincar comigo!

            Raquel não deve ter ouvido o seu filho Que lá no meio do quintal ouviu uma voz diferente que vinha do chão.

            - Ei, se quiser companhia você pode me plantar! Eu sou uma semente.

            Renan olhou para o chão e avistou a minúscula semente que falava:

            - Sou eu! Eu aqui!

            Assim, Renan apanhou a semente e já na palma da sua mão ela falou:

            - Você pode me plantar que lhe darei sombra e frutos. Além de lhe fazer companhia em todos os dias da minha ou da sua vida.

            De maneira que Renan abriu um pequeno buraco no canto do quintal e ali colocou a semente que falava. Contudo mesmo antes de cobri-la de terra ela disse:

            - Dentro de três dias e nascerei. Assim meu nome não será mais semente, e sim árvore. E não se esqueça de me regar todas as manhãs e tardes.

            E a partir daquele dia o menino Renan vivia feliz com a sua semente que agora já era uma linda árvore que já lhe fornecia muita sombra.

            - Nosso filho agora só vive naquela árvore. Parece que nem precisa mais da gente - reclamou Iracy.

            Raquel fez que não ouvisse o que disse o marido. Pois já que aquele pai ignorante era assim com o filho, melhor ter sido trocado por uma árvore. Assim não via o seu filho sofrer a solidão atrás dos quinze metros de concreto.

            - Não tive sorte no meu casamento com você - voltou a reclamar o incompreensível Iracy.

            Raquel calada estava calada continuou.

            - Eu estou falando com você sua imprestável!

            Com os nervos à flor da pele Raquel relatou:

             - Quem foi na casa do meu pai pedir a minha mão foi você.

            - E não imagina o quanto me arrependo por isso.

            - E porque não se vai. Não é obrigado a viver comigo.

            - Sei mulher, infelizmente eu sou obrigado. Tenho que carregar este fardo até que a morte nos separa. Foi isso que me fizeram jurar.

            - Não consigo entender o por que de tanta revolta Iracy. Você foi o único rapaz que me namorou.

            - E tem vontade de ter outro?

            - Não estou entendendo. Será por isso Que construiu esta fortaleza para me esconder aqui com o nosso filho! Tudo isso é ciúmes de mim?

            E esse bate boca às vezes passava noite adentro. Tinha momento que chegavam até ferir um ao outro. Renan já nem ligava pro que estava acontecendo. Pois parecia que aquilo já existia bem mesmo antes dele vir ao mundo. Foi criado com aquilo. Para ele era uma coisa normal. Pois quando aquilo não acontecia, ele achava estranho. Contudo se sentia apreensivo quando a coisa ficava violenta.

            - Sabe mãe! Quando ouço a senhora bater boca com o meu pai, eu fico pensando no que  pode acontecer.

            - Pensando no que meu filho?

            - Quando eu ficar do tamanho dele, ai a coisa vai engrossar pro lado dele.

            - Ele é o seu pai filho. Deus disse que temos que honrar pai e mãe.

            - Não vamos colocar Deus no meio disso mãe. O que meu pai faz ou deixa de fazer não me interessa. O que quero me referir é quando eu crescer que não sei se vou tolerar as injustiças que ele vive fazendo com a gente. Eu não tenho ninguém para falar comigo, um direito que ele me roubou. A senhora vive presa nessa casa, outro direito que ele roubou. Isso vai custar muito caro para ele mãe!  

            - É filho. A conversa está boa, mas está quase na  hora dele chegar!

            De modo que Renan e Raquel não conseguiam ser felizes. Algo muito estranho estava na mente de Iracy. E assim iam levando a vida. Até que um dia numa noite escura Renan encontrou a sua árvore chorando.

            - Você está chorando árvore! Qual é o motivo da tua lágrima?  

            - É que Deus não vai mandar chuva sobre a terra. Assim iremos todos morrer.

             - E você sabe o motivo?

            - Sim, por causa da maldade dos homens. Deus vai acabar com o mundo em chamas. Eu e você vamos morrer.

            - Não fique assim árvore. Eu vou ter uma conversa com Deus. Ele vai me ouvir.

            Renan entrou na casa e depois do jantar, ele foi lá pro meio do quintal e sob o grande lençol de estrelas ele ergueu as suas mão para o céu e disse:

            - É Deus! Preciso ter uma conversa muito séria com o Senhor. Vê se tem cabimento Deus, o Senhor deixar de mandar chuva por causa da maldade dos homens! E minha árvore Deus, o que tem a ver com isso! Se é uma coisa entre o Senhor e o homem, não é justo a minha pobre árvore pagar. Sei que o Senhor é Justo e Fiel. Sei ainda que só o Senhor é Deus. Poupe a minha árvore meu Senhor.

            Naquele monto Iracy observava e ouvia o que o filho falava com Deus, fechou a janela onde estava e disse:

            - Bem que eu podia ter me casado com outra. Você não serviu nem pra me dar um filho de verdade. Olha lá o idiota que você pariu brigando com Deus.

            Raquel seguiu pro quarto levando um grande nó em sua garganta, nem mesmo retrucou o seu incompreensível marido.

            O certo é que umas duas horas mais tarde, um vendaval trouxe uma densa chuva e a enxurrado levou o grande muro de concreto ao chão. A água abundante invadiu a casa de Iracy e quando ele acordou, ela já estava nos pés da sua cama. Assustado aquele homem horrível foi até o quarto do filho e quando ali chegou ao abrir a porta pôde ver o seu filho dormir como se fosse um príncipe. E uma luz azulada o cobria. Envergonhado Iracy fechou a porta e foi pro seu quarto. Naquele momento por si só a água saiu de dentro da casa. Ali Iracy viu a sua esposa dormindo como se estivesse feliz em algum lugar muito especial. Ao ver aquilo não lhe restou mais nada a não ser chorar. E ele chorava enquanto e chuva continuava cair sobre o telhado. E quando o dia amanheceu o pequeno Renan acordou e ao sair na sala encontrou com o seu pai que disse:

            - Vamos tomar café filho?

             - Primeiro vou ver a minha árvore.  

 

 

FIM

Nenhum comentário:

Postar um comentário