sábado, 29 de abril de 2023

A Interseção João Rodrigues

 A INTERCESSÃO

 

JOÃO RODRIGUES

 

            No subúrbio de uma cidade vivia um senhor com sua querida esposa e seus dois filhos...

            - Eu estive pensando no que o meu pai me disse...

            - O que ele disse Juliva?

            - Que devo ir com as crianças pra casa dele, quando a sua situação melhorar você irá nos buscar, a situação dele é muito boa, disse que não é justo ver os seus netos passarem fome.

            Francisco olhou friamente nos olhos da esposa e atrás de um suspiro disse:

            - Não sei o que verdadeiramente está nos acontecendo, desde quando nos casamos minha vida é trabalhar e tudo que fiz não deu nem mesmo pra nos vestir e alimentar...

            - Até hoje vivemos pagando este maldito aluguel. Acho que isso de aluguel é coisa do diabo - relatou Juliva meio triste.

            - Não pense assim mulher, Deus sabe o que faz.

            Francisco e Juliva se amavam com muito ardor. Não se tinha notícias de alguém contra aquela união. Contudo era difícil entender o que de errado, pois desde o princípio foi de pura dificuldade.

            - Nem mesmo o seu comércio vai adiante Francisco - relatou Juliva.

            - Quem sabe seria mesmo melhor você e as crianças irem pra casa do seu pai. Assim eu poderia tentar sozinho...

            - Sinto medo de te perder. Assim que eu der as costas você se esquecerá de mim.

            Francisco olhou ternamente pra esposa e disse:

            - Só conheci você em toda minha vida Juliva. Sou feliz com os nossos filhos, e não está indo pra sempre. Só até as coisas melhorarem.

            - Então você me deixeeu ir com as crianças pra casa do meu pai?

            - Claro, querida, feliz de nós e dos nossos filhos que temos ainda um lugar pra ir, já imaginou quantos acabam como mendigos vagando rumo ao nada!

            De modo que dias depois Francisco se despedia da sua querida esposa e dos seus dois filhos...

            - Que Deus vos acompanha meus queridos...

            Francisco ficou no portão do barraco olhando o caminhão que levava a sua querida Juliva e seus filhos Ana e Duzinho. 

            - Aqui está a chave do seu barracão seu Pedro. A minha mulher foi embora com as crianças.

            - Abandonou o senhor seu Francisco?

            - Não senhor, ela foi pra casa do pai dela até que as coisas melhorem pra mim.

            Francisco deixou o seu Pedro falando sozinho e seguiu pra seu comércio se sentindo aliviado de um fardo que era pagar aquele maldito aluguel, pois até falava sozinho enquanto andava:

            - Coisa infernal é o tal de aluguel...

            Agora o pobre Francisco já que voltou a ser solteiro, passou a dormir no seu comércio e almoçava num restaurante que existia ali perto. Mesmo assim ainda tinha que pedir fiado. Até que um dia...

            - A partir de hoje eu não vou servir mais o seu almoço seu Francisco. Pois o meu marido está insinuando algo ao nosso respeito...

            Francisco foi se levantando, mas a mulher voltou a dizer:

             - Hoje o senhor pode almoçar, mas peço que não volte mais, nem é preciso me pagar o que me deve.

            Foi difícil aquela comida descer na garganta de Francisco. Contudo comeu, tomou um cafezinho e agradeceu a bondade daquela mulher dizendo:

            - Que Deus abençoa a senhora e a sua família dona Regiane...

            Francisco nem mesmo ouviu se a mulher respondeu, foi pro comércio pensando na vida, e que já há dias que nem sequer uma viva alma entrava em seu comércio. E quando ali chegou ele disse:

            - O que será que aconteceu comigo!

            Já era noitinha, Francisco fechou a loja e jogou a chave por debaixo da porta e se foi. Saiu andando com as mãos no bolso e falando sozinho:

            - Não posso entender o que está me acontecendo, se isso é uma coisa do céu ou do inferno. Acho que deve ser do último que falei.

            Enquanto Francisco falava com o nada os seus pés te conduzia para fora da cidade e já numa estrada ele se assentou num barranco e ficou observando ao longe as estrelas cintilantes no além da escuridão...

             - Minha vida, que vida!

    Naquele instante Francisco foi surpreendido por um homem que estava assentado ao seu lado...

            - Não estava ai quando cheguei! Quem é você?

            - Eu sou um anjo dos céus, e o Senhor Deus te mandou um recado.

            - Que recado?

             - Que você só tem um dia de vida, amanhã a essas horas você estará morto.

            Francisco ouviu o anjo e em seguida disse:

            - Agradeça ao Senhor Deus por mim, pena que você veio me dar esse recado num lugar tão sem jeito, não tenho nada pra te oferecer, posso te dar um abraço?

            O anjo permitiu que Francisco o abraçasse, porém...

             - Você sumiu cara, entre os meus braços!

            Agora estava o Francisco naquela estrada escura e ciente de que só lhe restava um dia para viver. De modo que ele seguia na escuridão e cantava uma canção ao Senhor Deus. E naquela canção Francisco agradecia a Deus por tudo que tinha lhe acontecido. Francisco agradecia também pela estrada, o canto das corujas, o uivo do lobo, agradecia pelas estrelas, depois cumprimentou a lua quando clareou a estrada, cumprimentou e agradeceu ao sol guando veio na sua última manhã, agradeceu ao canto das aves, ao rio quando nele tomou banho, se despediu do sol quando se foi e já noite se assentou novamente num barranco bem longe do que esteve ontem e disse:

            - Aqui estou Senhor Deus, e meu muito obrigado, do fundo do meu coração...

            O certo é que nada lhe aconteceu, e Francisco pensava murmurando:

            - Como Deus é justo, a gente é que não o entende. Já que estava próximo do meu fim, Ele fez com que nada desse certo, só pra minha mulher ir pra casa do pai dela com os meus filhos.

            Naquele momento Francisco viu outro anjo assentado no barranco da estrada.

            - Vai me dizer que tem outro recado pra mim, ou é um outro charlatão?

            De modo que o anjo falou:

            - De ontem pra hoje foi festa no céu. Muitos foram lá intercederem por você.      Foram a lua, o sol, as estrelas, os pássaros, a floresta, o rio...

            - E então, o que aconteceu?

            - Aconteceu que o Senhor Deus mandou lhe dar mais cem anos... 

 

 

FIM

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