sábado, 29 de abril de 2023

O Motivo João Rodrigues

 O MOTIVO

 

JOÃO RODRIGUES

 

            Já há um bom tempo Henrique vivia de vender lotes, casas, chácaras e qualquer terreno que encontrasse para sustentar a sua linda esposa Albertina e seus filhos, Marinalva, Luis e Martim.

            Só que de certo tempo pra cá, as coisas começaram piorar, já estava difícil, mas agora a coisa estava cada vez pior. Até mesmo os seus aluguéis da casa e escritório já estavam com ordem de despejo...

            - Desse jeito que está indo eu tenho de tomar uma atitude - relatou Albertina ao seu marido.

            Henrique olhou para os seus filhos e disse:

            - O que pretende fazer mulher?

            - Vou pra minha terra. Quem sabe lá eu arrumo um emprego e assim darei uma vida melhor para nossos filhos. Até mesmo poderia arrumar um pra você e assim te livrarei deste pesadelo de venda de imóveis. Desde quando nos casamos escuto que vai melhorar. Não suporto  mais esta vida.

             Henrique ficou por algum tempo pensando no que a mulher falou e voltou a olhar para os filhos e disse:

             - Já que é assim, não posso dizer nada. Não vivo vagabundando, vivo a trabalhar na confiança de que um dia serei um vencedor.

            - Só se for em outra vida! - exclamou Albertina com ironia.

            Henrique não quis discutir com sua esposa, só com a voz embargada de emoção, relatou:

            - Vou sentir a sua falta e dos nossos filhos...

            E naquele momento pegou a chave do seu fiat 147, o único bem de sua propriedade, pois com ele Henrique carregava o seu sonho de ser alguém na vida, quando levava cada cliente pra ver o imóvel que vendia. 

            - Eu estou indo, faça o que achar melhor.

            Albertina ficou surpresa com a decisão de Henrique. Achava que ele fosse contra a sua decisão, contudo se foi deixando para ela o direito de decidir.

            - Vamos arrumar as nossas coisas filhos. Poremos em um caminhão e chegando lá na casa do papai, ele pagará a conta.

            - Nem vai ligar primeiro pro vovô mamãe?

            - Não filha. Ele vai ficar preocupado com a gente. Eu conheço o meu pai.  

            Nessas alturas Henrique já estava no seu escritório e como não tinha cliente, assentou-se na sua velha cadeira e colocou os seus pés sobre a mesa, falando em seguida  com Deus:

            - Nunca gostei de jogo Senhor. Contudo vejo muitas pessoas ganharem. Sei que existe essa possibilidade. Já que a minha causa é justa, eu peço ao Senhor que me permita ganhar. Pois tenho que recuperar a minha família que está indo embora. Só esta vez Senhor. E desde já prometo ao Senhor que nunca mais jogarei.

            Henrique fazia o pedido a Deus enquanto Albertina arrumava as coisas com os seus filhos para irem embora, tentar a vida em outra cidade, e assim, fugir daquela vida miserável com aquele vendedor de lotes, casas, chácaras e terrenos.

            - O papai bem que podia ir com a gente mãe! - exclamou Luis.

            - Depois que estivermos em condição de recebê-lo, ele irá filho.

            Enquanto isso, Henrique acabou dormindo no seu escritório e só acordou depois de um pesadelo em que um mecânico passava uma placa de carro na sua cara.

            - Obrigado Senhor Deus, muito obrigado - relatou Henrique indo até a casa de vitamina de seu Augusto. Um velho português.

            - Seu Augusto, não me pergunte por que e nem pra quê, mas será possível o senhor me emprestar um pouco de dinheiro. Prometo pagar o senhor ainda hoje. Nem mesmo vou olhar o quanto o senhor vai me emprestar.

   O velho Augusto nunca tinha visto Henrique daquele jeito. De modo que lhe entregou o dinheiro e ficou olhando-o correr pelo escuro corredor do prédio em direção a loja de jogo que existia ali de forma clandestina.

            - Moço eu nunca joguei, faça uma aposta com esse dinheiro que o seu Augusto me emprestou. Neste número que sonhei.

            - Está bem seu Henrique, mas é muito dinheiro. Com isso o senhor vai quebrar a banca.

            - Não entendo nada sobre isso moço.

Eu só quero salvar a minha família.

            Emocionado o moço da banca disse:

            - Calma seu Henrique. Fique calmo.    

            Depois da aposta feita Henrique foi para o seu escritório dizendo:

            - Quando sair o resultado o senhor me avisa.

            - Se o senhor ganhar eu aviso.

            - Eu vou ganhar!

            Assim que Henrique chegou no seu escritório foi logo se assentado em sua cadeira e em seguida falou:

             - Obrigado Senhor Deus, já fiz a aposta. E me perdoa por este pedido tão estranho. Mas o Senhor vai me entender. Pois só o Senhor é Deus.

            De maneira que Henrique acabou dormindo e só acordou quando alguém desesperado batia em sua porta.

            - Seu Henrique, o senhor estourou a banca!

            Henrique abriu a porta e pôde ver nos olhos do homem uma alegria sem medida, pois até dizia:

            - Nunca pensei que fosse viver este momento!

            Henrique não festejou com o homem que em seguida disse:

    - Vamos apanhar o dinheiro seu Henrique.

            De modo que Henrique acompanhou aquele senhor e foram até o dinheiro que lhe rendeu dois grandes volumes de cédulas.

            - Este é para o senhor.

            - Obrigado seu Henrique. Nunca vi tanto dinheiro junto! - exclamou o dono da banca de jogo.               

            Naquele momento Henrique saiu levando aquele olhar de gratidão do moço e foi em seguida pagar o seu Augusto. Dando a ele uma grande parte do dinheiro.  E Henrique corria contra o tempo. Pagou os aluguéis do seu escritório e da sua morada, foi em seguida trocar o velho fiat 147.

            Já depois de tudo certo ele seguiu para casa e ao chegar ali, a sua esposa já tinha colocado as coisas no caminhão, e triste dizia para o pequeno casebre:

            - Vou sentir saudades!

            - Eu também querida!

             - Henrique! - Exclamou Albertina... 

 

FIM

 

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