O MOTIVO
JOÃO RODRIGUES
Já há um bom tempo Henrique vivia de vender lotes, casas, chácaras e qualquer terreno que encontrasse para sustentar a sua linda esposa Albertina e seus filhos, Marinalva, Luis e Martim.
Só que de certo tempo pra cá, as coisas começaram piorar, já estava difícil, mas agora a coisa estava cada vez pior. Até mesmo os seus aluguéis da casa e escritório já estavam com ordem de despejo...
- Desse jeito que está indo eu tenho de tomar uma atitude - relatou Albertina ao seu marido.
Henrique olhou para os seus filhos e disse:
- O que pretende fazer mulher?
- Vou pra minha terra. Quem sabe lá eu arrumo um emprego e assim darei uma vida melhor para nossos filhos. Até mesmo poderia arrumar um pra você e assim te livrarei deste pesadelo de venda de imóveis. Desde quando nos casamos escuto que vai melhorar. Não suporto mais esta vida.
Henrique ficou por algum tempo pensando no que a mulher falou e voltou a olhar para os filhos e disse:
- Já que é assim, não posso dizer nada. Não vivo vagabundando, vivo a trabalhar na confiança de que um dia serei um vencedor.
- Só se for em outra vida! - exclamou Albertina com ironia.
Henrique não quis discutir com sua esposa, só com a voz embargada de emoção, relatou:
- Vou sentir a sua falta e dos nossos filhos...
E naquele momento pegou a chave do seu fiat 147, o único bem de sua propriedade, pois com ele Henrique carregava o seu sonho de ser alguém na vida, quando levava cada cliente pra ver o imóvel que vendia.
- Eu estou indo, faça o que achar melhor.
Albertina ficou surpresa com a decisão de Henrique. Achava que ele fosse contra a sua decisão, contudo se foi deixando para ela o direito de decidir.
- Vamos arrumar as nossas coisas filhos. Poremos em um caminhão e chegando lá na casa do papai, ele pagará a conta.
- Nem vai ligar primeiro pro vovô mamãe?
- Não filha. Ele vai ficar preocupado com a gente. Eu conheço o meu pai.
Nessas alturas Henrique já estava no seu escritório e como não tinha cliente, assentou-se na sua velha cadeira e colocou os seus pés sobre a mesa, falando em seguida com Deus:
- Nunca gostei de jogo Senhor. Contudo vejo muitas pessoas ganharem. Sei que existe essa possibilidade. Já que a minha causa é justa, eu peço ao Senhor que me permita ganhar. Pois tenho que recuperar a minha família que está indo embora. Só esta vez Senhor. E desde já prometo ao Senhor que nunca mais jogarei.
Henrique fazia o pedido a Deus enquanto Albertina arrumava as coisas com os seus filhos para irem embora, tentar a vida em outra cidade, e assim, fugir daquela vida miserável com aquele vendedor de lotes, casas, chácaras e terrenos.
- O papai bem que podia ir com a gente mãe! - exclamou Luis.
- Depois que estivermos em condição de recebê-lo, ele irá filho.
Enquanto isso, Henrique acabou dormindo no seu escritório e só acordou depois de um pesadelo em que um mecânico passava uma placa de carro na sua cara.
- Obrigado Senhor Deus, muito obrigado - relatou Henrique indo até a casa de vitamina de seu Augusto. Um velho português.
- Seu Augusto, não me pergunte por que e nem pra quê, mas será possível o senhor me emprestar um pouco de dinheiro. Prometo pagar o senhor ainda hoje. Nem mesmo vou olhar o quanto o senhor vai me emprestar.
O velho Augusto nunca tinha visto Henrique daquele jeito. De modo que lhe entregou o dinheiro e ficou olhando-o correr pelo escuro corredor do prédio em direção a loja de jogo que existia ali de forma clandestina.
- Moço eu nunca joguei, faça uma aposta com esse dinheiro que o seu Augusto me emprestou. Neste número que sonhei.
- Está bem seu Henrique, mas é muito dinheiro. Com isso o senhor vai quebrar a banca.
- Não entendo nada sobre isso moço.
Eu só quero salvar a minha família.
Emocionado o moço da banca disse:
- Calma seu Henrique. Fique calmo.
Depois da aposta feita Henrique foi para o seu escritório dizendo:
- Quando sair o resultado o senhor me avisa.
- Se o senhor ganhar eu aviso.
- Eu vou ganhar!
Assim que Henrique chegou no seu escritório foi logo se assentado em sua cadeira e em seguida falou:
- Obrigado Senhor Deus, já fiz a aposta. E me perdoa por este pedido tão estranho. Mas o Senhor vai me entender. Pois só o Senhor é Deus.
De maneira que Henrique acabou dormindo e só acordou quando alguém desesperado batia em sua porta.
- Seu Henrique, o senhor estourou a banca!
Henrique abriu a porta e pôde ver nos olhos do homem uma alegria sem medida, pois até dizia:
- Nunca pensei que fosse viver este momento!
Henrique não festejou com o homem que em seguida disse:
- Vamos apanhar o dinheiro seu Henrique.
De modo que Henrique acompanhou aquele senhor e foram até o dinheiro que lhe rendeu dois grandes volumes de cédulas.
- Este é para o senhor.
- Obrigado seu Henrique. Nunca vi tanto dinheiro junto! - exclamou o dono da banca de jogo.
Naquele momento Henrique saiu levando aquele olhar de gratidão do moço e foi em seguida pagar o seu Augusto. Dando a ele uma grande parte do dinheiro. E Henrique corria contra o tempo. Pagou os aluguéis do seu escritório e da sua morada, foi em seguida trocar o velho fiat 147.
Já depois de tudo certo ele seguiu para casa e ao chegar ali, a sua esposa já tinha colocado as coisas no caminhão, e triste dizia para o pequeno casebre:
- Vou sentir saudades!
- Eu também querida!
- Henrique! - Exclamou Albertina...
FIM
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