sábado, 29 de abril de 2023

A Cinca Verde João Rodrigues

 A CINCA VERDE

 

JOÃO RODRIGUES

 

            Numa rua de um bairro da cidade de Belo Horizonte, lá pelo meado do século 20, vivia com muita alegria, um taxista com a sua linda esposa que por muito tempo compartilharam o grande amor que sentiam e, dividiam as tarefas para criarem os frutos que aquele maravilhoso convívio fez assim virem ao mundo.

            De modo que aquele senhor taxista dirigia a sua cinca verde pelas ruas da linda capital mineira, transportando as pessoas para futuro, arquitetando de maneira natural a cidade que seria um dia uma grande metrópole.

            - Obrigado meu amor - relatou Dinho trajando a lindíssima roupa com sua gravata borboleta  à sua esposa Margaret que tinha como costume de nas madrugadas frias enquanto o seu esposo dormia, ela lavava e perfumava a linda cinca verde que era o ganha-pão da família.

            - Que Deus te proteja querido...

            Assim era a rotina que levava aquela casa a fazer parte de uma cidade repleta de amor e esperança, que em cada olhar estava presente o desejo de tudo dar certo para que todos pudessem ter uma vida digna.

            Contudo lá nas entranhas do invisível existe alguém que procura tirar proveito mesmo indevido por necessidade ou por apenas um condutor das coisas do mal, pois numa daquelas madrugadas frias que Margaret cumpria a sua tarefa ela encontrou um bilhete manchado de batom com as marca violeta de finos lábios da luxúria dizendo a seguinte frase: “Feliz é ela que te tem todas as noites, quanto a mim que apenas posso te possuir nos nossos poucos instantes de amor”.

            Com dois fios de lágrimas em suas faces Margaret continuou limpando a cinca verde, contudo deixando regada de lágrimas e um som inexplicável de dor e sentimentos.

            Mesmo assim aquela fez como de costume, preparou a roupa do seu amado com aquela gravata borboleta que ele tanto gostava. Fez o seu café e o colocou na mesa. Apanhou uma cadeira de balanço e se assentou na sala bem perto de porta de saída.

            Ali ela ficou esperando o momento de ver o seu querido Dinho sair para o trabalho, e ir dar os poucos instantes de amor àquela maldita fera do invisível que começava a destruir uma família naquela rua de um bairro de linda capital do estado de Minas Gerais.

            Sua mente tentava procurar uma justificativa para o que estava acontecendo. O que teria feito ela de errado para estar pagando um preço tão alto. E no seu calado murmúrio ela sentia pela última vez o perfume de alguém que ela tinha lhe confiado não só o seu amor, mas também o seu corpo e sua vida a ele.

            De modo que com seus passos de galã, aquele maldito taxista aproximou-se da esposa para dar aquele beijo de despedida como era de costume. No entanto, Margaret negou a tua face deixando que ele beijasse o vento da sua maldade e saísse levando consigo o que com certeza já podia imaginar que fosse acontecer um dia. Ou seria ele um inocente. Será que aquele maldito bilhete poderia ser de alguma passageira desavisada que por ironia do destino teria esquecido ali. Mas justamente no porta-luvas do carro! Margaret então assistia a sua mente vagar no mar de desespero. Será que estaria sendo ela injusta com o seu grande amor!

            - Meu Senhor Deus, peço com humildade de todo o meu coração que me perdoe pela minha desconfiança. Mas se for que mereça do Senhor uma resposta, dê-me Senhor, pois é grande a minha dor.

            E Margaret murmurava cantando em murmúrio uma canção de louvor ao Senhor Deus...

            - Ham ham ham, an an an, ham ham ham...

            Aquele dia a tristeza fez presente à casa de Margaret. Seus filhos ainda crianças ficaram sem entender o que estava com a mamãe. Pois naquele murmúrio nem sequer ela se levantou para fazer o almoço. E assim eles a assistiam naquela cadeira de balanço...

            - Ham ham ham, an an an, ham ham ham...

            E para assustá-la ainda mais, ele o Dinho não veio para o almoço como era de costume. E lá estava Marguerite esperando a resposta do Senhor Deus como ela pediu. Murmurando na cadeira.

            Já eram 19 horas, seus filhos assistiam à televisão quando a programação foi interrompida quando o repórter falou:

            - Foi encontrado um carro queimado dentro do Rio Arrudas, e nele dois corpos carbonizados. A polícia informa ser de um homem e uma mulher.

            Naquele instante Margaret se levantou da cadeira e gritou bem alto:

            - Deus existe!

   FIM

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