sábado, 29 de abril de 2023

A Maldição João Rodrigues

 A MALDIÇÃO

 

JOÃO RODRIGUES

 

            Lá bem distante no sertão, seguia em seu caminho um homem Pedro montando em seu cavalo chamado Corisco, já era bem no cair da tarde, ele então olhando pro firmamento disse para o seu cavalo:

- É Corisco, hoje o meu filho vai nascer!

            O cavalo não tinha como responder o seu dono, contudo de um assopro como que quisesse dizer que concordava.

            De modo que seguia caminho afora, rumo a sua casa, que ainda com a luz do sol que se despedia por entre as poucas nuvens avermelhadas Pedro viu ao longe a sua casa e o seu coração dispararam de alegria que podia ouvir no vento o seu filho chorar.

            E assim que Pedro chegou a sua casa não tardou em soltar o cavalo Corisco no pasto e foi pra dentro da casa se desmanchando de felicidade para conhecer o tão esperado filho que era o primeiro que Deus lhe concedia através do seu grande amor por nome de Carmosina.

            De maneira que quando Pedro entrou no quarto a sua linda Carmosina disse: 

            - Veja o Nosso filho, Pedro. Como é lindo!

            Pedro ficou por algum tempo sem palavras e em seguida disse:

            - Parece com você!

            Carmosina muito contente relatou:

            - Com você meu amor.

            - Então ele se parece com nós dois...

            Naquele instante de extrema alegria Pedro disse:

            - E que nome daremos a ele, meu bem?

            Carmosina pedida no encanto do filho disse:

            - Deixe ele crescer, depois escolherá o seu nome, tem tanta gente infeliz com o seus nomes, ele escolherá o dele.

            - Mas como devemos chamá-lo até que ele cresça? – Indagou Pedro meio apreensivo.

            Naquele instante a empregada entrou no quarto e disse:

            - Porque não o chama de Nivaldo!

            - Está bem filho, vamos te chamar de Nivaldo – confirmou Pedro saindo do quarto com o menino e indo até o quintal da casa e pode ver que uma grande lua apontava no oriente, lua assa que em todo o seu tempo não tinha visto por ali...

            - Que lua enorme Pedro – relatou Carmosina ainda se sentindo fraca pelo parto do pequeno menino que iria escolher o seu nome e que por enquanto seria chamado de Nivaldo...

            - Ela veio ver o menino, ra, ra, ra - sorriu a empregada demonstrando satisfeita por alguma coisa além do normal.

            - O que está acontecendo Vilma? – indagou Pedro entrando na casa e tentando esconder o menino daquela lua que ele nunca tinha visto em toda sua vida.

            - Não adianta Pedro, ra, ra, ra, o seu dia chegou, ra, ra, ra, ra...

            Pedro não conseguia entender o que estava verdadeiramente acontecendo, contudo se sentindo fraco por aquela claridade nunca vista daquela enorme lua, voltou ao encontro da esposa Carmosina que estava estacionada no meio do terreiro de olhos fixos na grande lua e dizia:

            - Vejo você lá dentro da lua Pedro, então foi você que se chamava Nivaldo? Hem! Pedro me diz seu maldito, quem é você.

            - Não sei do que está falando meu amor, eu não sei de nada!

            Vilma chegou perto do pobre Pedro e disse:

            - Neste lugar há uma maldição que já passa de quinhentos anos e nunca foi quebrada.

            - Que maldição Vilma, que maldição? – indagou Carmosina olhando a enorme lua que parecia estar estacionada por sobre a casa.

            - Toda criança que nascer nessas terras no dia de hoje será entregue ao monstro que vive na lua, e será assim até que a maldição seja quebrada.

            - E o que acontece com a criança? – indagou Pedro entregando o filho para esposa.

            - Nada seu Pedro, acontece com os pais dela.

            - O que acontece Vilma? – indagou Carmosina entregando o filho para empregada.

            - O monstro leva os pais da criança e deixa-a viver, pois dessa forma toda criança que nasce dentro dessa maldição produz duas pessoas para o monstro.

            - E quem é você que sabe de tudo isso Vilma?

            - Eu sou a própria maldição, ra, ra, ra.

            Pedro olhava para a empregada e meio triste disse:

            - Sou patrão da própria maldição?

            - Isso senhor, seus pais foram habitar na lua, hoje são servos do homem da lua.

              Quando Pedro terminou do ouvir a maldita empregada e que olhou pra lado da sua esposa essa já subia numa estranha escada que lhe conduzia à lua...

            - Meu amor, não me deixa aqui! – exclamou Pedro correndo para a sua inseparável companheira que parecia hipnotizada seguindo rumo ao desconhecido.

            E naquele instante de extrema magia o casal tão promissor se desfazia em forma de luz, uma linda luz que não permitia ninguém contestar a sua beleza e paz que transmitia por detrás de um profundo mistério.

            - Estão indo embora Nivaldo, dê um adeusinho a eles, afinal ficou tão pouco tempo com eles!

            A ironia de Vilma com o pequeno Nivaldo parecia coisa de outro mundo. O certo é que a lua se foi levando consigo o tal monstro e aquele casal que amava tanto que parecia estar acima de qualquer coisa do mal...

            - Onde encontrou este menino?

            - Estava sozinho na casa de Pedro, mãe. Não é uma gracinha! – exclamou Jacinto dizendo:

            - E o pior é que não tinha ninguém na casa, nem mesmo vestígio de luta ou coisa assim.

            - Nem mesmo a empregada dele estava lá? – indagou  Sônia olhando o menino e dizendo:

            - Como será que se chama, e será mesmo filho de Carmosina.

            - Só pode ser mãe, ela não estava grávida!

            - Pois é! Como é passagem de lua, ela deve ter tido o filho, e algo estranho deve ter acontecido – relatou Sônia tomando o menino no colo e dizendo:

            - Vou te chamar de Gabriel, o meu Gabriel.

            - Como vamos cuidar dele mãe? – indagou Jacinto dizendo:

            - Madalena teve criança há poucos dias, quem sabe ela amamentará o seu Gabriel.

            - Isso filho, ela pode até ficar alguns meses com a gente, sinto tanta falta dela depois da morte de seu pai.

            - Eu nem mesmo gosto de me lembrar disso mãe, quando pai morreu a vida parecia ter acabado pra todos nós.

            - Pois é filho, vai ser mesmo muito bom ele vir ficar um pouco com a gente.

            De sorte que Jacinto foi convidar a sua irmã e pelo caminho imaginava o que teria acontecido ao seu amigo Pedro e sua Carmosina...

            - Quando Jacinto me contou o que aconteceu ao Pedro e Carmosina foi que me lembrei quando pai era vivo, mãe, ele disse que tinha me visto amamentando duas crianças e que uma delas não era minha, nem sei se ele contou isso pra senhora.

            - Sônia meio triste olhou pra sua filha amamentando Gabriel e Cristina e disse:

            - Seu pai era uma pessoa tão especial filha, ele falava tantas coisas...

            E com o semblante abalado, as duas mulheres falaram ao mesmo tempo:

            - Antônio de Almeida Costa, este é o meu nome.

            - Quanta saudade sinto dele!

            - E eu também mãe. Eu também.

            - E Alberto quando te pediu em casamento, se lembra o que seu pai disse:

            - Cuida direito da minha princesa senhor cavalheiro de perna fina.

            O tempo passou e lá bem distante no sertão, seguia em seu caminho um homem chamado Gabriel montando em seu cavalo chamado Rompedor, já era bem no cair da tarde, ele então olhando pro firmamento disse para o seu cavalo:

            - É Rompedor, hoje o meu filho vai nascer!

            O cavalo não tinha como responder o seu dono, contudo de um assopro como que quisesse dizer que concordava.

            E assim que Gabriel chegou a sua casa não tardou em soltar o cavalo Rompedor no pasto e foi pra dentro da casa se desmanchando de felicidade para conhecer o tão esperado filho que era o primeiro que Deus lhe concedia através do seu grande amor por nome de Marilda.

            - Veja o Nosso filho, Gabriel. Como é lindo!

            Gabriel ficou por algum tempo sem palavras e em seguida disse:

            - Que nome daremos a ele, meu bem?

            Naquele instante a empregada entrou no quarto e disse:

- Porque não o chama de Nivaldo!

                                                          FIM

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