terça-feira, 2 de maio de 2023

Vozes dos Animais João Rodrigues

 

VOZES DOS ANIMAIS

 

JOÃO RODRIGUES

 

Se eu fosse uma abelha

Eu sairia a azoinar

Sussurrando nos caminhos

Zoar pelas estradas

Zumbar entre as folhagens

No verdejante zumbir

Alegre vunir voando

Sempre,  sempre a zunzunar...

 

Mas seu eu fosse um abutre

O que seria de mim

Crocitar na minha angustia

De sempre viver sozinho

Meu grasnar da seca árvore

De um sertão sem fim...

 

Porém sendo uma águia

Crocitaria contente

Grasnava nas alturas

Em busca do velho ninho

Gritava para ouvir

Meu filho sem a piar...

 

Hoje sou andorinha

Chilrando na imensidão

Chilrearia perto das nuvens

Gazeando a neblina

Gorjearia contente

Grinfando no arco-íres

Por entre os raios de sol

Trinfaria a sorrir

Trissando rumo aos montes

Sozinha a zinziluar...

 

                - O que está fazendo Marquinho?

 

Sou um anho a balar

Em busca de o seu comer

Mugindo com a saudade

Da mãe do seu bebe

 

                - O que está falando?

                - E estou recitando poesia com a voz dos animais Lina.

                - Ah, ainda bem, pensei que...

                - Não Lina, eu só...

 

O anum segue a piar

A araponga a bigornear

Ao mesmo tempo a gritar

Sem paciência a martelar

Convenciada a retimir

Orgulhosa a soar

Acaba sempre a tinir

 

Eu ser uma arara

Chilrar muito contente.

Grasnar ou então gritar

Ou mesmo taramelar

 

                - Não gostei Lina, você não serve pra ser arara.

                - O que então?

 

Será você um arganaz

Pra viver a chiar

Por entre as tocas do campo

Mesmo na escuridão

Iria viver a guinchar

 

                - Essa não Marquinho, você...

 

Marquinho e como uma ariranha

Estranho a regougar.

 

                - O que estão fazendo ai?

                - Oi Lucas, estamos fazendo poesia com a voz dos animais.

                - Voz dos animais, como assim?

 

Você é como avestruz

Grasnando pelos campos

Roncando nos carreiros

A rugir o seu encanto

 

                - Acha que eu sou assim Lina

                - Não Lucas, você é...

                - Deixe que eu fale Marquinho

                - José você aqui?

 

Como um azulão a cantar

Ou mesmo a gorjear

Todo campo acordaria

Ao ti ouvir trinar.

 

                - Esta foi para quem?

                - Para Lucas marquinho.

                -Mas tudo é pra mim, Lina?

                - Não Lucas, eu vou recitar uma poesia para José.

 

Você é um baitaca

Que vive sempre a chilrear

Até mesmo a chilrear

Voando dos arvoredos

Você vai para longe a palmar.

 

                - Obrigado Lina, foi mesmo muito bonito.

                - E pra mim Lina?

                - você Lucas?

                - Eu faço pra ele  interrompeu Marli.

                - Marli. Como você está Linda menina.

                - Não sei onde está vendo beleza nela Marquinho.

 

Sim, te vejo como baleia

Nas águas dos oceanos

Perdia no desengano

Vagando sempre a bufar,

 

                - Que coisa feia Marquinho - argumentou Dorotéia

                - O que tem a ver, ela é feia mesmo! - exclamou Flávia

                - Mas comparar as pessoas com os animais nãos é uma coisa legal.

                - Também acho, concordo com o Lucas.

                - O que é isso José, não tem nada a ver, se alguém achar ruim, então é só recitar outra poesia comparando o adversário a um animal.

                - Gostei desta!  - exclamou Lina.

 

José é como um beija-flor

Voando alegre a afar

Às vezes a arrular

Por entre as flores formosas

Ouviu-se o seu ciciar

Perdido no necta da vida

Ruflar pelos frutinhos

Que ainda hão de nascer

Pois não se pode esquecer

No campo o seu surrurar

 

                - Lindo Lina, muito bonito mesmo! - exclamou Marquinho falando:

 

Flávia é como um bem-te-vi

Cantando nas alturas

Voando atrás estridulando

Espantando as criaturas

Que quando cai no seu bico

Sai alegre a assobiar.

 

                - E eu, com que animal vocês vão me comparar?

                - Você, Epaminondas, só pode ser...

                - Eu sei.

                - Então pode falar Juca.

 

Epaminondas minha gente

É aquilo que faz zoar

Também faz zumbir

No pensamento a sorrir

É igual a um besouro

Que voa sempre a zunir.

 

                - Obrigado, gostei...

                - Como tem gente boba! - exclamou Marta.

                - E você Marta, está com pena dele?

                - Não Lina, não e pena...

                - Pode ficar tranqüila Marta, fui eu mesmo que pedi Epaminondas, na verdade não batia bem das idéias, veja só:

 

Marta gosta de mim

E como um bezerro

Seguido atrás da mãe

No verde pasto barrar

Depois de leite mamado

Sai pelos cantos a mugir.

                - Lindo Epaminondas, apesar de não ter ritmo, mas foi legal, obrigada, mas obrigada mesmo.

                - Que bobeira e esta Marta, nunca vi gente tão burra...

                - Respeite a Marta José, você está com ciúmes...

                - Eu com ciúme, que coisa feia, acha que vou ter ciúmes de você Epaminondas...

                - Gente, vocês vão me deixar fazer as poesias?

                - Sim Marquinho, fique à vontade, a fazenda é sua, nós somos apenas convidados...

 

Marquinho e como um bode

Que anda sempre a balar

Às vezes a balir

Quando esta triste a berrar

Na conquista ele bodeja

E perde a gaguejar

 

                - Não concordo com você Antônio, Marquinho e...

                - Já sei Paulo.

                - Saiam da minha frente...

 

Marquinho e como um boi

Nervoso sai a urrar

Contrito vive a berrar

Perde-se fica a bufar

E solitário a mugir,

 

                - Já chega seus idiotas.

                - Calma Marquinho, não se deve perder a esportiva.

                - Sei Marta, mas estou perdendo.

                - Calma meu amigo, estou do seu lado - argumentou Juca.

 

Marquinho é um borrego

Dormindo no campinão

Surpreso acorda a balar

Na noite escuridão

A sua voz a balir

Quebra da noite a canção,

 

                - Se você fosse viver de poesia morria de fome Sebastião.

                - Por que José, não gostou?

 

José é como um búfalo

Que mugi no seu intento

Berra no seu silêncio

                E...

                - Pois é Maria, acho que você não ia se der bem também.

                - Tem razão Marquinho, eu sempre fui muito fraca em poesia

                - Joaquim? E você não recitar uma poesia para Cláudia?

                - Vou Lina - argumentou Joaquim olhando firmemente nos olhos azuis de Cláudia recitando a poesia...

 

Cláudia minha querida

Vejo-te a zurrar

Sinto-me orneando

E você a onerjar

Rebusno no sentimento

De saber que relinchando

Levo a vida no engano

Triste vivo a rinchar

No entanto a zornar

Um burro assim como eu

Nunca para de zurrar.

 

                - Parabéns Joaquim, essa foi a maior -  argumentou Marquinho falando em seguida:

 

Balando vou percebendo

Que Jussara vai chegar

Pois um balir sorridente

De uma cabra do sertão

A berrar de alegria

Sinto um berregar de paixão

Num bozear de cabrito

 

                Ninguém deu muito atenção ao que Marquinho recitou...

 

José é um caburé

No tronco rugoso a piar

Parecendo uma coruja

Ele sempre vive a silvar

 

Como um caititu do serrado

Vejo Antônio a grunhir

Ao mesmo tempo roncar

Que ele está a dormir.

 

A cantar vou despedindo

A velha chalandra gorjeando

Nos cantos do meu destino

Quero ir sempre grifando

Se tudo for bem pra mim

Darei palmas a trilar

Para nos cantos da terra

A minha voz ir trinar.

 

Chilreando sou cambaxirra

Que vivo a galrear

Adeus amigos adeus

Até quando eu voltar

 

Lentamente vou andando

Pelo deserto de tempo

Na solta areia a blaterar

Um velho camelo contente

 

Nas tocas do meu destino

Vou viver sempre chiando

Não tenham pena de mim

O camundongo guinchando

 

Pureza no meu cantar

A minha voz a dobrar

Até mesmo a modular

Sinto até a trilar

Sou o canário a trinar

 

Sou o melhor amigo

Por viver a cuincar

Por vezes a ganir

Nas estradas a ladrar

Lá no terreiro a latir

O velho cão a rosnar

Na escuridão ulular

Uivando sempre a luar

 

Crocitarei no futuro

Por ser um caracará

Todos rindo de mim

Por eu só poder grasnar.

Quando estou novinho

Ninguém ouviu o meu balar

Mas depois de grande

Muitos ouvem o meu balir

Sou um carneiro

Que vivo...

 

                De modo que todos os meninos saíram do pomar imaginário onde se encontraram Marquinho e logo depois...

 

                - Marquinho o que está fazendo aí?

                - João Rodrigues, você!

                - Sim, estou com a professora Eme, estamos escrevendo um novo livro dedicado a você e os animais.

                Marquinho ficou muito feliz, mas ao mesmo tempo pensativo, pois parecia da história até mesmo relatou:

                - Mas e sobre a história João Rodrigues?

                - Sim, foi muito bonito tudo isso que aconteceu, vi que foram lindas as poesias, vamos para outra história?

                Marquinho se foi na história e nem mesmo ficou para nos dizer, mas com isso vamos dizer:

                - Até a próxima história...

 

Fim.

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