VOZES DOS ANIMAIS
JOÃO RODRIGUES
Se eu fosse uma abelha
Eu sairia a azoinar
Sussurrando nos caminhos
Zoar pelas estradas
Zumbar entre as folhagens
No verdejante zumbir
Alegre vunir voando
Sempre, sempre a
zunzunar...
Mas seu eu fosse um abutre
O que seria de mim
Crocitar na minha angustia
De sempre viver sozinho
Meu grasnar da seca árvore
De um sertão sem fim...
Porém sendo uma águia
Crocitaria contente
Grasnava nas alturas
Em busca do velho ninho
Gritava para ouvir
Meu filho sem a piar...
Hoje sou andorinha
Chilrando na imensidão
Chilrearia perto das nuvens
Gazeando a neblina
Gorjearia contente
Grinfando no arco-íres
Por entre os raios de sol
Trinfaria a sorrir
Trissando rumo aos montes
Sozinha a zinziluar...
- O
que está fazendo Marquinho?
Sou um anho a balar
Em busca de o seu comer
Mugindo com a saudade
Da mãe do seu bebe
- O
que está falando?
- E estou
recitando poesia com a voz dos animais Lina.
-
Ah, ainda bem, pensei que...
-
Não Lina, eu só...
O anum segue a piar
A araponga a bigornear
Ao mesmo tempo a gritar
Sem paciência a martelar
Convenciada a retimir
Orgulhosa a soar
Acaba sempre a tinir
Eu ser uma arara
Chilrar muito contente.
Grasnar ou então gritar
Ou mesmo taramelar
-
Não gostei Lina, você não serve pra ser arara.
- O
que então?
Será você um arganaz
Pra viver a chiar
Por entre as tocas do campo
Mesmo na escuridão
Iria viver a guinchar
-
Essa não Marquinho, você...
Marquinho e como uma ariranha
Estranho a regougar.
- O
que estão fazendo ai?
- Oi
Lucas, estamos fazendo poesia com a voz dos animais.
-
Voz dos animais, como assim?
Você é como avestruz
Grasnando pelos campos
Roncando nos carreiros
A rugir o seu encanto
-
Acha que eu sou assim Lina
-
Não Lucas, você é...
-
Deixe que eu fale Marquinho
-
José você aqui?
Como um azulão a cantar
Ou mesmo a gorjear
Todo campo acordaria
Ao ti ouvir trinar.
-
Esta foi para quem?
-
Para Lucas marquinho.
-Mas
tudo é pra mim, Lina?
-
Não Lucas, eu vou recitar uma poesia para José.
Você é um baitaca
Que vive sempre a chilrear
Até mesmo a chilrear
Voando dos arvoredos
Você vai para longe a palmar.
-
Obrigado Lina, foi mesmo muito bonito.
- E
pra mim Lina?
-
você Lucas?
- Eu
faço pra ele interrompeu Marli.
-
Marli. Como você está Linda menina.
-
Não sei onde está vendo beleza nela Marquinho.
Sim, te vejo como baleia
Nas águas dos oceanos
Perdia no desengano
Vagando sempre a bufar,
-
Que coisa feia Marquinho - argumentou Dorotéia
- O
que tem a ver, ela é feia mesmo! - exclamou Flávia
-
Mas comparar as pessoas com os animais nãos é uma coisa legal.
-
Também acho, concordo com o Lucas.
- O
que é isso José, não tem nada a ver, se alguém achar ruim, então é só recitar
outra poesia comparando o adversário a um animal.
-
Gostei desta! - exclamou Lina.
José é como um beija-flor
Voando alegre a afar
Às vezes a arrular
Por entre as flores formosas
Ouviu-se o seu ciciar
Perdido no necta da vida
Ruflar pelos frutinhos
Que ainda hão de nascer
Pois não se pode esquecer
No campo o seu surrurar
-
Lindo Lina, muito bonito mesmo! - exclamou Marquinho falando:
Flávia é como um bem-te-vi
Cantando nas alturas
Voando atrás estridulando
Espantando as criaturas
Que quando cai no seu bico
Sai alegre a assobiar.
- E
eu, com que animal vocês vão me comparar?
-
Você, Epaminondas, só pode ser...
- Eu
sei.
-
Então pode falar Juca.
Epaminondas minha gente
É aquilo que faz zoar
Também faz zumbir
No pensamento a sorrir
É igual a um besouro
Que voa sempre a zunir.
-
Obrigado, gostei...
-
Como tem gente boba! - exclamou Marta.
- E
você Marta, está com pena dele?
-
Não Lina, não e pena...
-
Pode ficar tranqüila Marta, fui eu mesmo que pedi Epaminondas, na verdade não
batia bem das idéias, veja só:
Marta gosta de mim
E como um bezerro
Seguido atrás da mãe
No verde pasto barrar
Depois de leite mamado
Sai pelos cantos a mugir.
-
Lindo Epaminondas, apesar de não ter ritmo, mas foi legal, obrigada, mas
obrigada mesmo.
-
Que bobeira e esta Marta, nunca vi gente tão burra...
-
Respeite a Marta José, você está com ciúmes...
- Eu
com ciúme, que coisa feia, acha que vou ter ciúmes de você Epaminondas...
-
Gente, vocês vão me deixar fazer as poesias?
-
Sim Marquinho, fique à vontade, a fazenda é sua, nós somos apenas convidados...
Marquinho e como um bode
Que anda sempre a balar
Às vezes a balir
Quando esta triste a berrar
Na conquista ele bodeja
E perde a gaguejar
-
Não concordo com você Antônio, Marquinho e...
- Já
sei Paulo.
-
Saiam da minha frente...
Marquinho e como um boi
Nervoso sai a urrar
Contrito vive a berrar
Perde-se fica a bufar
E solitário a mugir,
- Já
chega seus idiotas.
-
Calma Marquinho, não se deve perder a esportiva.
-
Sei Marta, mas estou perdendo.
-
Calma meu amigo, estou do seu lado - argumentou Juca.
Marquinho é um borrego
Dormindo no campinão
Surpreso acorda a balar
Na noite escuridão
A sua voz a balir
Quebra da noite a canção,
- Se
você fosse viver de poesia morria de fome Sebastião.
-
Por que José, não gostou?
José é como um búfalo
Que mugi no seu intento
Berra no seu silêncio
E...
-
Pois é Maria, acho que você não ia se der bem também.
-
Tem razão Marquinho, eu sempre fui muito fraca em poesia
-
Joaquim? E você não recitar uma poesia para Cláudia?
-
Vou Lina - argumentou Joaquim olhando firmemente nos olhos azuis de Cláudia
recitando a poesia...
Cláudia minha querida
Vejo-te a zurrar
Sinto-me orneando
E você a onerjar
Rebusno no sentimento
De saber que relinchando
Levo a vida no engano
Triste vivo a rinchar
No entanto a zornar
Um burro assim como eu
Nunca para de zurrar.
-
Parabéns Joaquim, essa foi a maior - argumentou
Marquinho falando em seguida:
Balando vou percebendo
Que Jussara vai chegar
Pois um balir sorridente
De uma cabra do sertão
A berrar de alegria
Sinto um berregar de paixão
Num bozear de cabrito
Ninguém
deu muito atenção ao que Marquinho recitou...
José é um caburé
No tronco rugoso a piar
Parecendo uma coruja
Ele sempre vive a silvar
Como um caititu do serrado
Vejo Antônio a grunhir
Ao mesmo tempo roncar
Que ele está a dormir.
A cantar vou despedindo
A velha chalandra gorjeando
Nos cantos do meu destino
Quero ir sempre grifando
Se tudo for bem pra mim
Darei palmas a trilar
Para nos cantos da terra
A minha voz ir trinar.
Chilreando sou cambaxirra
Que vivo a galrear
Adeus amigos adeus
Até quando eu voltar
Lentamente vou andando
Pelo deserto de tempo
Na solta areia a blaterar
Um velho camelo contente
Nas tocas do meu destino
Vou viver sempre chiando
Não tenham pena de mim
O camundongo guinchando
Pureza no meu cantar
A minha voz a dobrar
Até mesmo a modular
Sinto até a trilar
Sou o canário a trinar
Sou o melhor amigo
Por viver a cuincar
Por vezes a ganir
Nas estradas a ladrar
Lá no terreiro a latir
O velho cão a rosnar
Na escuridão ulular
Uivando sempre a luar
Crocitarei no futuro
Por ser um caracará
Todos rindo de mim
Por eu só poder grasnar.
Quando estou novinho
Ninguém ouviu o meu balar
Mas depois de grande
Muitos ouvem o meu balir
Sou um carneiro
Que vivo...
De
modo que todos os meninos saíram do pomar imaginário onde se encontraram Marquinho
e logo depois...
-
Marquinho o que está fazendo aí?
-
João Rodrigues, você!
-
Sim, estou com a professora Eme, estamos escrevendo um novo livro dedicado a
você e os animais.
Marquinho
ficou muito feliz, mas ao mesmo tempo pensativo, pois parecia da história até
mesmo relatou:
-
Mas e sobre a história João Rodrigues?
-
Sim, foi muito bonito tudo isso que aconteceu, vi que foram lindas as poesias, vamos
para outra história?
Marquinho
se foi na história e nem mesmo ficou para nos dizer, mas com isso vamos dizer:
-
Até a próxima história...
Fim.
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