UM
TOURO AZUL
JOÃO
RODRIGUES
Nas margens do Rio Preto no estado
de São Paulo, existe uma grande fazenda chamada piracema...
- Piracema professora?
- Sim, lá viveu o senhor Antônio
Porteira
- Que nome estranho - argumentou
Manoel.
- Estranho mesmo Manoel, e mais
estranho era que ele tinha uma maneira estranha de comportamento estranho.
- Como assim? - indagou Marquinho.
- Todo ano quando era época da ferra
dos bezerros ele marcava os bezerros com números...
- Mas porque com números? - indagou
Margarida.
- Esta era a maneira que ele
escolhia, dizem que tinha sido o seu avô que o ensinou quando ele ainda era
pequeno.
- Qual era o nome do avô dele? -
indagou Júlio.
- Dizem que era Josué, não se sabe a
verdade de sua avó, era Honória, conhecida na região como a velha do bolo
gostoso.
- Bolo gostoso professora?
- Sim, era o que falavam Joaquim.
Joaquim ficou olhando ternamente para
um lado da sala até parecia imaginar uma grande quantidade do bolo com café...
- Está querendo do bolo da velha, Joaquim? Indagou Marquinho.
- Eu não - respondeu Joaquim como se
estivesse com a boca cheia de bolo...
- Professora, nós estamos falando do
Touro Azul ou do bolo da velha? - perguntou Angélica.
- Dos dois - interrompeu Odete.
- Sim Angélica, de modo que quando
os empregados marcavam os bezerros e de maneira que formassem pares, mas se
sobrasse um, este seria o Touro Azul.
- E para que seriam os pares?
- Eram para auxiliar a contagem
Marquinho, quer dizer, parecia ser no que diz, ele não gostava de contar
números impares.
- E se não sobrasse o impar? -
indagou Marcelo.
- Ah! Ai diz que ele ficava nervoso
e entrava armado no curral, atirando nos bezerros.
- Nossa! Que homem louco - argumentou
Paulo dizendo:
- A polícia não o prendia
professora?
- Não, nesta época praticamente a
lei não existia, e como para muitos ainda não existe.
- Como assim professora? - perguntou Marcelo sentindo medo.
- Não precisa sentir medo Marcelo, é
tudo muito bem tramado.
- Continuei sem saber.
- É filho, assim como eu continuo
sem entender.
- É uma incógnita professora -
relatou Marquinho
- É, pode ser - respondeu a
professora meio triste.
- E o que acontecia quando Antônio
Porteira atirava nos bezerros?
- Acontecia como se fosse a própria
guerra, onde homens atiram contra homens...
- Mas tem suas razões professora - argumentou
Pedro.
- Nem sempre, quero dizer, não
existe nada que possa justificar uma guerra
- Mas tem gente ruim filho, existe
nações de pessoas ruins.
- Sei professora, isso eu sei, mas
tão bom seria se não...
- Calma Marquinho, não fique assim
filho, Deus sabe o que faz.
Marquinho olhou para a professora e
disse:
- Mundo de cão, até Antônio Porteira
não respeitava os próprios animais indefesos, chegar ao ponto de atirar nos pobres
bezerrinhos.
- Se todos fossem iguais Marquinho,
o mundo seria uma monotonia.
- Não concordo Antônio, se fossemos
pensar assim...
- Bem, de modo que ao terminar a
fúria ele mandava tratar os bezerros e distribuísse a carne entre os empregados
e os vizinhos.
- Mas carne de bezerros professora?
- Sim Marta, dizem que é muito
gostosa.
- Professora, e quanto ao Touro
Azul?
- Passava muitos dias quando tudo
estava calmo ele mandava reunir os bezerros novamente.
-
E assim contavam novamente os bezerros?
- Sim Joaquim, marcava novamente, e
quando sobrasse um...
- Seria o Touro Azul - argumentou
Paulo.
- Certo, e desta segunda vez se deu
que o que sobrou era um pequeno bezerro.
- Ele não quis o bezerro para touro.
- Quis sim, mandou todos os demais
para invernada e o escolhido era preso num curral e todos os vaqueiros teriam
que conversar com ele.
- Conversar com um bezerro, bezerro
não conversa - argumentou Marquinho.
- Conversa sim Marquinho! - exclamou
Margarida
- Como conversa? Não estou
entendendo.
- É muito difícil de entender
Marquinho, mas a conversa não quer dizer como nós, é uma conversa que só o
vaqueiro fala.
- Ah sei, sei então, é uma forma de
conversa que só o vaqueiro é que fala.
- E depois professora, o que
aconteceu com o bezerro, quero dizer o Touro
azul? - perguntou Marta
- Ah sim, na verdade na fazenda já
tem o Touro Azul que tivera sido escolhido no ano anterior, mas agora quem
seria chamado de Touro Azul seria o bezerro.
- Professora, e o que fizeram com o
bezerro depois que os vaqueiros falaram com ele? - indagou Paulo.
- Ela está falando só - argumentou
Marquinho meio nervoso.
- O que é isso Marquinho, está
nervoso, um bom menino não pode ficar nervoso.
- Mas eu não consigo entender o que
faz a pessoa não perceber o que a outra fala.
- Calma Marquinho, não pode ser
assim.
- Tudo bem professora, eu estou
entendendo
- Ainda bem...
- E depois professora, o que
aconteceu?
- O bezerro era colocado em uma roça
onde não tinha contato com ninguém, nem mesmo com outro animal qualquer Júlio.
- Ficava isolado! - exclamou Pedro.
- Sim, parecia ser a intenção dele.
- Ninguém sabe o porquê! - exclamou
Marieta meio pensativa.
- Mas deve ter um motivo real
professora.
- Certamente José, tudo indica que o
seu Antônio Porteira queria era poder proteger o seu rebanho.
- Mas proteger o rebanho do quê?
- Proteger no sentido de que o seu
gado fosse o melhor de toda a região.
- E será que era o melhor gado da
região professora?
- Por sobre maneira, subtende que
seria, pois a família Porteira era muito respeitada na região, e no tocante a
Rio Preto, era até indicado a Fazenda Piracema como ponto de referencia.
- Ah! Então é por isso que muitas
pessoas têm o costume de cuidar de certa forma dos seus bens, de maneira
exagerada - argumentou Eduardo meio pensativo como se ele próprio tinha o tal
costume.
- Está pensando o que Eduardo?
- indagou Marquinho
- Não sei Marquinho, fico pensando
em muitas coisas, esta coisa de história inventada pra fazer a gente pensar. - O que você está pensando sobre a
história do touro?
- Estou na verdade Marquinho, não é
na história do touro e sim no comportamento do seu Antônio Porteira.
- Por quê? - indagou a professora.
- Sim professora, o Antônio Porteira
não tinha o costume de atirar nos bezerros.
- Não Eduardo, você entendeu mal - interrompeu
Pedro
- Deixe-me explicar - continuou
Eduardo.
- Explique filho - ordenou a
professora contente.
Eduardo continuou o seu raciocínio.
- O seguinte, se o seu Antônio
Porteira atirava nos bezerros é porque não ficava bezerro para ser o Touro
Azul, daí é que nascia a revolta.
- Isso mesmo - argumentou Marquinho
dizendo:
- Se na verdade sobrasse da primeira
vez o bezerro para touro, ele não atiraria nos bezerros.
- Sim, isso Marquinho, mas não
podemos esquecer que se ele não atirasse nos bezerros, aquelas pessoas não
teriam carne.
-
Mas Paulo, você está louco, já pensou se a gente fica esperando carne desta
forma?
- Não é isso, a coisa é diferente
Amélia, o que Paulo quis dizer é diferente.
- Bem, vamos mudar de assunto, acho
que o que vocês estão discutindo não tem nada a ver com a história! - exclamou
Amélia dizendo:
- Continue professora Eme.
- Posso? Já deu pra entender o que
disse.
- Já pode continuar professora! - exclamou
Marquinho
- Ótimo o que foi mesmo que tínhamos
falado?
- O touro, quero dizer, o bezerro
foi para roça ficar sem contato.
- Isso José, depois dos anos
seguintes, naturalmente o pequeno bezerro chamado Touro Azul era solto para
encontrar com o verdadeiro Touro Azul.
- Era um desafio? - indagou Vilma
- Sim, era avisado o povo da região
o dia que os touros iriam brigar.
- E pra que a briga professora? - perguntou
João.
-
Era para com certeza pra saber se o pequeno bezerro que agora já era touro
podia assumir o comando das matrizes.
- E onde era o local?
- Na história não fala bem
certamente o local, mas, no entanto, o que parecia é que era no pátio da grande
fazenda.
- E como era dada a partida? - perguntou
Maria meio curiosa.
- Já depois do almoço todos os
convidados se assentavam nas grandes arquibancadas a espera que os touros
viessem brigar.
- Mas eles são irracionais
professora, como eles iam brigar?
- Todo animal Juca, tem todo um
instinto e este é que o faz defender a sua existência.
- Ah! Sei, compreendo porque muita
gente briga uma com a outra.
- Certo, depois os dois touros são
soltos no pátio.
- Eles levam armas professora?
- Ué, é isso Margarida, ficou doida?
Onde já se viu perguntar uma coisa dessas! - exclamou Marquinho.
- Não sei por que, macacos quando
vão no circo levam objetos.
- Sim, mas são macacos, estamos
falando de touros.
- Está bem Marquinho, eu errei
mesmo.
- Ainda bem que reconheceu - argumentou
José.
- Sim gente, até parece que não
estão gostando da história.
- Não professora, estou ansioso pra
saber se o bezerro vai ganhar a luta.
- Vai ganhar não Jussara, já ganhou
- argumentou Juca.
- Não estou falando com você Juca.
- Respeite Jussara, Juca.
- Ninguém está te chamando na
conversa, Marquinho.
- Olha o que fala cara - argumentou
Marquinho se levantando.
- Calma Marquinho, calma - pediu
Pedro.
- Não respeitam mais a professora!
- Sim professora, é que o Marquinho
fica uma fera quando alguém fala com a namorada dele.
- Sei Eduardo, mas vamos saber o
resultado só na próxima aula.
-
Ah não, tudo por causa do Juca.
- Por sua causa Marquinho.
- Está bem, foi pela minha causa
sim, então vamos embora.
De modo que todos foram embora sem
saber qual foi o touro que ganhou a briga e com isso esperar pela próxima
aula...
No entanto eu vou adiantar o final
da história, uma vez que nem mesmo sabemos se terão aula novamente.
Sempre que os touros se enfrentavam
não tinha na verdade a certeza de qual seria o vencedor, pois no decorrer da
luta o seu Antônio Porteira costumava interrompê-los e decidia qual o que seria
o Touro Azul, se o novo ou o atual e o que perdia o trono virava churrasco na
mesma festa da luta. E assim, depois da grande festa todos esperavam por uma
nova ocasião na Fazenda Piracema...
Fim
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