terça-feira, 2 de maio de 2023

Um Touro Azul João Rodrigues

 

UM TOURO AZUL

 

JOÃO RODRIGUES

 

            Nas margens do Rio Preto no estado de São Paulo, existe uma grande fazenda chamada piracema...

            - Piracema professora?

            - Sim, lá viveu o senhor Antônio Porteira

            - Que nome estranho - argumentou Manoel.

            - Estranho mesmo Manoel, e mais estranho era que ele tinha uma maneira estranha de comportamento estranho.

            - Como assim? - indagou Marquinho.

            - Todo ano quando era época da ferra dos bezerros ele marcava os bezerros com números...

            - Mas porque com números? - indagou Margarida.

            - Esta era a maneira que ele escolhia, dizem que tinha sido o seu avô que o ensinou quando ele ainda era pequeno.

            - Qual era o nome do avô dele? - indagou Júlio.

            - Dizem que era Josué, não se sabe a verdade de sua avó, era Honória, conhecida na região como a velha do bolo gostoso.

            - Bolo gostoso professora?

            - Sim, era o que falavam Joaquim.

            Joaquim ficou olhando ternamente para um lado da sala até parecia imaginar uma grande quantidade do bolo com café...

            - Está querendo do bolo da velha, Joaquim?  Indagou Marquinho.

            - Eu não - respondeu Joaquim como se estivesse com a boca cheia de bolo...

            - Professora, nós estamos falando do Touro Azul ou do bolo da velha? - perguntou Angélica.

            - Dos dois - interrompeu Odete.

            - Sim Angélica, de modo que quando os empregados marcavam os bezerros e de maneira que formassem pares, mas se sobrasse um, este seria o Touro Azul.

            - E para que seriam os pares?

            - Eram para auxiliar a contagem Marquinho, quer dizer, parecia ser no que diz, ele não gostava de contar números impares.

            - E se não sobrasse o impar? - indagou Marcelo.

            - Ah! Ai diz que ele ficava nervoso e entrava armado no curral, atirando nos bezerros.

            - Nossa! Que homem louco - argumentou Paulo dizendo:

            - A polícia não o prendia professora?

            - Não, nesta época praticamente a lei não existia, e como para muitos ainda não existe.

            - Como assim professora?  - perguntou Marcelo sentindo medo.

            - Não precisa sentir medo Marcelo, é tudo muito bem tramado.

            - Continuei sem saber.

            - É filho, assim como eu continuo sem entender.

            - É uma incógnita professora - relatou  Marquinho

            - É, pode ser - respondeu a professora meio triste.

            - E o que acontecia quando Antônio Porteira atirava nos bezerros?

            - Acontecia como se fosse a própria guerra, onde homens atiram contra homens...

            - Mas tem suas razões professora - argumentou Pedro.

            - Nem sempre, quero dizer, não existe nada que possa justificar uma guerra 

            - Mas tem gente ruim filho, existe nações de pessoas ruins.

            - Sei professora, isso eu sei, mas tão bom seria se não...

            - Calma Marquinho, não fique assim filho, Deus sabe o que faz.

            Marquinho olhou para a professora e disse:

            - Mundo de cão, até Antônio Porteira não respeitava os próprios animais indefesos, chegar ao ponto de atirar nos pobres bezerrinhos.

            - Se todos fossem iguais Marquinho, o mundo seria uma monotonia.

            - Não concordo Antônio, se fossemos pensar assim...

            - Bem, de modo que ao terminar a fúria ele mandava tratar os bezerros e distribuísse a carne entre os empregados e os vizinhos.

            - Mas carne de bezerros professora?

            - Sim Marta, dizem que é muito gostosa.

            - Professora, e quanto ao Touro Azul?

            - Passava muitos dias quando tudo estava calmo ele mandava reunir os bezerros novamente.           

- E assim contavam novamente os bezerros?

            - Sim Joaquim, marcava novamente, e quando sobrasse um...

            - Seria o Touro Azul - argumentou Paulo.

            - Certo, e desta segunda vez se deu que o que sobrou era um pequeno bezerro.

            - Ele não quis o bezerro para touro.

            - Quis sim, mandou todos os demais para invernada e o escolhido era preso num curral e todos os vaqueiros teriam que conversar com ele.

            - Conversar com um bezerro, bezerro não conversa - argumentou Marquinho.

            - Conversa sim Marquinho! - exclamou Margarida

            - Como conversa? Não estou entendendo.

            - É muito difícil de entender Marquinho, mas a conversa não quer dizer como nós, é uma conversa que só o vaqueiro fala.

            - Ah sei, sei então, é uma forma de conversa que só o vaqueiro é que fala.

            - E depois professora, o que aconteceu com o bezerro, quero dizer o  Touro azul?  - perguntou Marta

            - Ah sim, na verdade na fazenda já tem o Touro Azul que tivera sido escolhido no ano anterior, mas agora quem seria chamado de Touro Azul seria o bezerro.

            - Professora, e o que fizeram com o bezerro depois que os vaqueiros falaram com ele? - indagou Paulo.

            - Ela está falando só - argumentou Marquinho meio nervoso.

            - O que é isso Marquinho, está nervoso, um bom menino não pode ficar nervoso.

            - Mas eu não consigo entender o que faz a pessoa não perceber o que a outra fala.

            - Calma Marquinho, não pode ser assim.

            - Tudo bem professora, eu estou entendendo

            - Ainda bem...

            - E depois professora, o que aconteceu?

            - O bezerro era colocado em uma roça onde não tinha contato com ninguém, nem mesmo com outro animal qualquer Júlio.

            - Ficava isolado! - exclamou Pedro.

            - Sim, parecia ser a intenção dele.

            - Ninguém sabe o porquê! - exclamou Marieta meio pensativa.

            - Mas deve ter um motivo real professora.

            - Certamente José, tudo indica que o seu Antônio Porteira queria era poder proteger o seu rebanho.

            - Mas proteger o rebanho do quê?

            - Proteger no sentido de que o seu gado fosse o melhor de toda a região.

            - E será que era o melhor gado da região professora?

            - Por sobre maneira, subtende que seria, pois a família Porteira era muito respeitada na região, e no tocante a Rio Preto, era até indicado a Fazenda Piracema como ponto de referencia.

            - Ah! Então é por isso que muitas pessoas têm o costume de cuidar de certa forma dos seus bens, de maneira exagerada - argumentou Eduardo meio pensativo como se ele próprio tinha o tal costume.

            - Está pensando o que Eduardo? -  indagou Marquinho

            - Não sei Marquinho, fico pensando em muitas coisas, esta coisa de história inventada pra fazer a gente pensar.           - O que você está pensando sobre a história do touro?

            - Estou na verdade Marquinho, não é na história do touro e sim no comportamento do seu Antônio Porteira.

            - Por quê? - indagou a professora.

            - Sim professora, o Antônio Porteira não tinha o costume de atirar nos bezerros.

            - Não Eduardo, você entendeu mal - interrompeu Pedro

            - Deixe-me explicar - continuou Eduardo.

            - Explique filho - ordenou a professora contente.

            Eduardo continuou o seu raciocínio.

            - O seguinte, se o seu Antônio Porteira atirava nos bezerros é porque não ficava bezerro para ser o Touro Azul, daí é que nascia a revolta.

            - Isso mesmo - argumentou Marquinho dizendo:

            - Se na verdade sobrasse da primeira vez o bezerro para touro, ele não atiraria nos bezerros.

            - Sim, isso Marquinho, mas não podemos esquecer que se ele não atirasse nos bezerros, aquelas pessoas não teriam carne.       

- Mas Paulo, você está louco, já pensou se a gente fica esperando carne desta forma?

            - Não é isso, a coisa é diferente Amélia, o que Paulo quis dizer é diferente.

            - Bem, vamos mudar de assunto, acho que o que vocês estão discutindo não tem nada a ver com a história! - exclamou Amélia dizendo:

            - Continue professora Eme.

            - Posso? Já deu pra entender o que disse.

            - Já pode continuar professora! - exclamou Marquinho

            - Ótimo o que foi mesmo que tínhamos falado?

            - O touro, quero dizer, o bezerro foi para roça ficar sem contato.

            - Isso José, depois dos anos seguintes, naturalmente o pequeno bezerro chamado Touro Azul era solto para encontrar com o verdadeiro Touro Azul.

            - Era um desafio? - indagou Vilma

            - Sim, era avisado o povo da região o dia que os touros iriam brigar.

            - E pra que a briga professora? - perguntou João.     

- Era para com certeza pra saber se o pequeno bezerro que agora já era touro podia assumir o comando das matrizes.

            - E onde era o local?

            - Na história não fala bem certamente o local, mas, no entanto, o que parecia é que era no pátio da grande fazenda.

            - E como era dada a partida? - perguntou Maria meio curiosa.

            - Já depois do almoço todos os convidados se assentavam nas grandes arquibancadas a espera que os touros viessem brigar.

            - Mas eles são irracionais professora, como eles iam brigar?

            - Todo animal Juca, tem todo um instinto e este é que o faz defender a sua existência.

            - Ah! Sei, compreendo porque muita gente briga uma com a outra.

            - Certo, depois os dois touros são soltos no pátio.

            - Eles levam armas professora?

            - Ué, é isso Margarida, ficou doida? Onde já se viu perguntar uma coisa dessas! - exclamou Marquinho.

            - Não sei por que, macacos quando vão no circo levam objetos.

            - Sim, mas são macacos, estamos falando de touros.

            - Está bem Marquinho, eu errei mesmo.

            - Ainda bem que reconheceu - argumentou José.

            - Sim gente, até parece que não estão gostando da história.

            - Não professora, estou ansioso pra saber se o bezerro vai ganhar a luta.

            - Vai ganhar não Jussara, já ganhou - argumentou Juca.

            - Não estou falando com você Juca.

            - Respeite Jussara, Juca.

            - Ninguém está te chamando na conversa, Marquinho.

            - Olha o que fala cara - argumentou Marquinho se levantando.

            - Calma Marquinho, calma - pediu Pedro.

            - Não respeitam mais a professora!

            - Sim professora, é que o Marquinho fica uma fera quando alguém fala com a namorada dele.

            - Sei Eduardo, mas vamos saber o resultado só na próxima aula.

- Ah não, tudo por causa do Juca.

            - Por sua causa Marquinho.

            - Está bem, foi pela minha causa sim, então vamos embora.

            De modo que todos foram embora sem saber qual foi o touro que ganhou a briga e com isso esperar pela próxima aula...

            No entanto eu vou adiantar o final da história, uma vez que nem mesmo sabemos se terão aula novamente.

            Sempre que os touros se enfrentavam não tinha na verdade a certeza de qual seria o vencedor, pois no decorrer da luta o seu Antônio Porteira costumava interrompê-los e decidia qual o que seria o Touro Azul, se o novo ou o atual e o que perdia o trono virava churrasco na mesma festa da luta. E assim, depois da grande festa todos esperavam por uma nova ocasião na Fazenda Piracema...

Fim

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